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domingo, 30 de agosto de 2009

O CIRCO SENADO

"Renuncio ao mandato de presidente do Senado sem mágoas ou ressentimentos, de cabeça erguida, demonstrando mais uma vez que não usei das prerrogativas do cargo pra me defender".
Adivinhem de quem é essa lorota.
Ah! Sim, o texto abaixo eu escrevi no dia 5 de dezembro de 2007 e foi originalmente publicado, na coluna que eu assinava no portal Music News. Apenas encurtei o título.

Ontem iniciei a minha fala no programa Balanço Geral, da Rádio Record, com um poema de Berthold Brecht, que diz: “O pior analfabeto é o analfabeto político/ Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos/ Ele não sabe que o custo de vida/ O preço do feijão, do peixe/ Da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas // O analfabeto político é tão burro/ Que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política/ Não sabe o imbecil que da sua ignorância política/ Nascem a prostituta, o menor abandonado/ E o pior de todos os bandidos/ Que é o político vigarista, pilantra, o corrupto/ E lacaio dos exploradores do povo”. Lembrei o poema por imaginar o rebuliço que iria ocorrer logo mais ao decorrer do dia, no circo em que se pôs um calhorda em julgamento, por seus pares, e que ao fim resultou absolvido das imoralidades cometidas, e de todos conhecidas por estarem a meses estampadas nos principais jornais nacionais e estrangeiros. O Brasil está de luto, perdeu. Os brasileiros estão satisfeitos, ganharam com a vitória do calhorda, rico de roubos e bois de ouro. O episódio de ontem no circo Senado, armado na praça dos Três Poderes, me levou a recordar, com tristeza, uma fala antiga do amigo Vandré, autor de Pra não Dizer que não Falei de Flores, quando certa vez, ao caminhar no Centro da cidade de São Paulo, a meu lado, apontou com irritação e desdém para um grupo de jovens em algazarra: “É pra essa gente que querem que eu cante? Não, não vou cantar!”. Ao ler carta de um leitor do suplemento Folhateen, da Folha, da última segunda 10, me arrepiei: “A nota que eu daria para vocês era dez, mas de vez em quando vocês publicam matérias muito sem graça, como ´órfãos do tropicalismo` (edição 30/7). Quem quer saber de um grupo de MPB dos anos 60?...”. Pois é, falta aos brasileiros em formação curiosidade, vontade de aprender, de conhecer a arte, artistas, personalidades, a história do País... E o autor da carta só tinha 13 anos. Em palestra recente a estudantes do 3º ano do ensino médio da escola Waldorf Rudolf Steiner, em São Paulo, dom FHC, ex-imperador do Brasil, deu uma dica registrada no jornal: “Eu acho que é melhor ter formação aqui e depois fazer aperfeiçoamento fora, para não desenraizar...”. Já estamos desenraizados. O lixo estrangeiro já invadiu a mente de todos e a meta é: tudo por dinheiro. Silvio Santos, o biscateiro eletrônico, não me deixa mentir. Ainda FHC, justificando: “Nós vivemos numa sociedade capitalista. Ela nasce da acumulação e não é igualitária. É um pouco de hipocrisia imaginar que uma sociedade capitalista vá ser igualitária. Mas você tem que dar igualdade de oportunidade na educação, no acesso à saúde, para compensar essa desigualdade”. Nos anos de 1960, Stanislaw Ponte Preta, decepcionado com os rumos da política partidária, de conchavos, desabafava: “Se é para se locupletar, que nos locupletemos todos”. É isso o que os brasileiros parecem querer: se locupletar. Uma vez perguntei ao poeta Carlos Drummond de Andrade qual o partido político de sua predileção. Resposta, a seco: “O homem de partido é partido”. Brecht, citado na contra-capa do Lp Canto Geral, de Geraldo Vandré, em 1968: “Vós que vireis na crista da onda em que nos afogamos, quando falardes de nossas fraquezas pensai também no tempo sombrio a que haveis escapado”. E vivido, acrescentaria. O calhorda foi absolvido no primeiro tempo, por margem de cinco gols. E parece justo o placar... O culpado pela derrota do time Brasil, sem técnico, são os brasileiros. Bandido vence, povo perde. Valores invertidos, a nação de cabeça baixa. A culpa é nossa. Um dia Pelé disse que brasileiro não sabia votar. E levou pau, mas ele tinha razão. Como saber votar, se sequer sabe ouvir, falar, ler, brigar por direitos? Lula outro dia disse que “ler é uma chatice”. Dizer mais o quê, hein? Lembro de velha piada, segundo a qual Deus estava pondo os pontos finais na criação do mundo, distribuindo mazelas, tragédias no planeta que agora estamos. De repente um anjinho desses de asas tortas pergunta, num fio de voz, por que ele, Deus, não punha umas castastrofezinhas num tal Brasil, como terremotos, maremotos, tsunamis, essas coisas. E Deus, como quem não quer nada, respondeu: “Espere só o povinho que vou botar lá”.///Da coleguinha Macida Joachim, recebo a mensagem: “Eu e minha família temos um projeto de alfabetização para adultos, totalmente voluntário, que funciona numa casinha no Bairro do Bixiga, em São Paulo. Lá, reunimos educadores voluntários para ensinar pelo método Paulo Freire. Já estamos nessa batalha há pouco mais de ano. Também aprendemos muito nesse projeto. Seria desejo nosso ter você para falar sobre música, cultura popular”. Sim, por que não? Outras pessoas podem se juntar a Macida. Contato: macidajoachim@uol.com.br ///Que viva a esperança! /// Outra coleguinha, Márcia Accioly, manda e-mail convidando para assistir apresentação do grupo pernambucano SaGRAMA, no Teatro-Escola Brincante. Ora se vou! Será no próximo dia 18. Do grupo acabo de receber Cd novo: Tenha Modo. A respeito falarei depois. /// Fui!
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Nada mudou na casa de mãe-joana. Os personagens continuam os mesmos.

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