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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

ARMANDO FALCÃO E LUIZ. ALGO A VER ENTRE OS DOIS?

O cearense de Fortaleza Armando Falcão, ex-ministro da Justiça do governo Geisel (1974-79), foi enterrado ontem 11 no Cemitério São João Batista, no Rio, um dia após falecer.
Que descanse em paz.
Para muita gente, porém, ele já havia se ido há muito.
Foi para os domínios da escuridão com 90, de idade.
Ficou famoso pela frase “nada a declarar”, dita toda vez que algum repórter mais abusado o abordava com um assunto polêmico qualquer.
Era linha dura-duríssima, e assim, como tal, gostava de ser considerado.
Orgulhava-se.
O golpe de 64, ele o defendia com todas as unhas.
Mais radical que Golbery.
Teve uma passagem rápida pelo governo Kubistchek.
Uma, não: duas.
Foram passagens que nada acrescentaram à democracia brasileira, pela qual tanto brigamos.
Eu o entrevistei em 1989, quando dava pontos finais à redação do livro Eu Vou contar pra Vocês, que a Ícone publicou.
Ele, por sua vez, estava lançando o livro Nada a Declarar, na livraria Cultura, ali da Paulista, do Pedro Hertz, com quem convivíamos nas rodas literárias de sábados, ao lado de grandes como Marcos Rey, redator do Sítio do Pica pau e autor do belo Enterro da Cafetina.
Pois bem, a entrevista com Falcão girou em torno de Luiz Gonzaga, o rei do baião.
Gonzaga, recém saído do Exército como corneteiro (“nunca dei um tiro sequer”, ele me disse) , tentava a vida artística no Rio de Janeiro, na área do velho mangue, de rufiões, cafetinas e meninas da vida.
Tocava sua sanfona ao lado do guitarrista português Xavier Pinheiro e depois rodava o pires, o chapéu.
Com isso, ia vivendo.
Até que um dia um grupo de estudantes lhe perguntou de onde era.
Pergunta respondida, a provocação:
– E por que você não toca as coisas da nossa terra?
À página 56 do livro Eu vou Contar pra Vocês, de 1990, na nota de pé de página, o depoimento do ex-ministro, pra mim:
“Luiz acabara de sair do Exército e estava em situação difícil, financeiramente. Primeiro nos encontramos na (rua) Visconde de Paranaguá e logo nos fizemos amigos. Ele passou, então, a freqüentar a nossa república, onde cantava, tocava e depois corria o pires. Fazíamos uma espécie de ´vaquinha´ para ajudá-lo. Na verdade, éramos todos pobres. Luiz tocava milongas, tangos e outras coisas que não tinham nada que ver com agente. Eu dizia a ele que tinha de tocar músicas do Nordeste, do Brasil. Aí um dia ele nos mostrou Vira e Mexe,a Cho. Gostamos muito e lhe dissemos que era por aí que deveria seguir a carreira artística que abraçara. O resto dessa historia todo mundo sabe”.
Ainda à pág. 56 do livro Eu Vou Contar pra Vocês, eu digo: Armando Falcão faz uma revelação:
“O nosso grupo de estudantes era formado por mim e meu primo Renato e os também primos Dante e Jaime Vieira, Antônio Gurgel Valente, Cêurio Oliveira e Carlos Edilson Matos”.
O depoimento findou com o ex-ministro dizendo que guardava consigo uma gravação inédita de Luiz Gonzaga, “uma paródia que fiz de Agora vou Mudar Minha Conduta (Com que Roupa?), de Noel Rosa, da qual gosto muito”.
Pois, pois, aí está algo sobre aquele que passou na vida, eternizando-se, com o bordão “nada a declarar”, declarando, porém, essas coisas sobre o artista mais importante da música popular brasileira, Luiz Gonzaga, divisor de águas da nossa música. Aliás, concluo: sem Armando Falcão, muito dificilmente Luiz Gonzaga teria sido o que foi, artisticamente, pois o encontro dos dois abriu em Gonzaga um grande pensamento em torno do Nordeste. Fundamental. Foi um encontro de definições de rumos. E isso certamente pesará no julgamento final.
Ou não?

CHIQUINHA GONZAGA I
- A compositora e instrumentista carioca Franscisca Edwiges (1847-1935), a Chiquinha Gonzaga, passou pela vida deixando às gerações seguintes um legado fantástico, que em números até hoje tem sido impossível com exatidão calcular. Muitos falam de uma obra constituída de cerca de 2 mil títulos. O amigo Braz Baccarim, que sabe de muitas coisas em torno da nossa música, por e-mail me chamou a atenção:

Assis,
Para bem da verdade, a quantidade de obras da autora não chega a 400. Você poderá fazer um estudo a respeito, pois nenhum compositor, ao longa de sua carreia, consegue compor mais de 300 músicas. No começo da carreira é uma produção imensa, depois começa minguar. Veja como exemplo, Ary Barroso e Herivelto Martins.
Um abraço.
O assunto dá pano pra manga.

CHIQUINHA GONZAGA II
- Do colega jornalista Matias Ribeiro, recebo:
Assis,
Para o teu banco de informações, aqui vão currículos sucintos de Gilberto Assis & Ana Fridman, os inventores do projeto Chiquinha em Revista.

Gilberto Assis
Bacharel em Música pela FAAM com Mestrado em Artes pela PUC-SP. Com formação técnica em áudio pelo IAV em São Paulo e Alchemea College em Londres, atua como professor de Composição e Produção Musical em nível superior (FASM e Anhembi-Morumbi). Como compositor e produtor atuou ao lado de Tom Zé na trilha original Santagustin (2001) para o Grupo Corpo de Dança (Brazil/Italy, Milan Records) e no CD Jogos de armar, lançado pela Trama em 2000. Fazem parte deste CD as músicas Desafio e Passagem de Som, compostas em parceria com Tom Zé. Participou da criação e direção da trilha sonora Sombras, composta em parceria com Carlos Kater por ocasião da exposição Victor Dubugras precursor do modernismo, realizada no Conjunto Cultural da Caixa em 2003. Mais recentemente, compôs a trilha Khaos para o Balé da Cidade de São Paulo e Degelo(2007) para espetáculo de dança de mesmo nome selecionado pelo Rumos da Dança. Em 2007 foi selecionado pelo projeto Rumos do Itaú Cultural na categoria homenagem, com peça em homenagem ao compositor Walter Smetak. Em 2009 arranjou e produziu o CD Chiquinha em Revista para o Selo SESC, com participação de Ná Ozzetti e Suzana Salles, entre outros.
Atuações fora do Brasil: 2008: Selecionado para participar do projeto 60X60 em NY, com várias apresentações de música e dança pelos EUA e participação em um CD coletânea de trilhas sonoras. 2008: Selecionado para apresentação de obra musical, vídeo e dança no festival Frammentazione, na Itália. 2006: Selecionado para participar do festival de música contemporânea Ai-Maako, no Chile.

Ana Fridman
Pianista de formação erudita e popular, graduada em Música e Dança pela Unicamp atua profissionalmente como compositora, pianista, arranjadora, bailarina e professora de Percepção e Harmonia. Fez mestrado em composição no California Institute of the Arts e cursos de extensão na Guildhall School de Londres, onde participou de encontros de compositores com tribos africanas e atuou como pianista em diversos grupos de jazz, além de mostrar seu trabalho como compositora. Em 2002 ganhou a bolsa Virtuose em Composição para estagiar com o grupo Kinetic Concert, de Londres. Lançou em 2004, pelo selo Zabumba Records, o CD O Tempo, a Distância e a Contradança, com músicas e arranjos de sua autoria, incluindo trilhas para teatro e dança, sendo este trabalho apresentado em unidades do Sesc, no projeto Jazz na Caixa e Auditório do Ibirapuera, entre outros. Atua como diretora musical para espetáculos multimídia, incluindo trilhas para o coreógrafo Ivaldo Bertazzo para os espetáculos: Além Da linha D'água, Mãe Gentil, Folias Guanabaras e Noé, Noé, entre outros. Em 2007 foi selecionada como compositora no projeto Rumos de mapeamento de música brasileira do Itaú Cultural em 2007; em 2009 participou como arranjadora e intérprete do projeto A Chiquinha que não Tocou no Rádio, patrocinado pela Caixa Cultural, com turnês em São Paulo, Curitiba e Brasília; ainda em 2009, foi selecionada pelo ProAC como compositora, arranjadora e intérprete para a gravação de seu segundo trabalho autoral, o disco Notas de um sem tempo. Atualmente cursa Doutorado em Música na USP, com pesquisa sobre as influências da música não ocidental na improvisação.

CHIQUINHA GONZAGA III
- Este texto é ilustrado por uma carta da Chiquinha Gonzaga, dirigida a João. Quem se habilita a lê-la e a me dizer quem foi João?

CHIQUINHA GONZAGA IV
- Gilberto Assis e Ana Fridman, antenas sensibilíssimas, são também dois músicos incríveis. Ele um contrabaixista, ela uma pianista pra lá de admirável. O projeto que ambos idealizaram precisa correr o Brasil, pois o que é bom precisa ser visto, no caso.
O Sesc está de parabéns e nós regozijados.

CARNAVAL
- Hoje ainda é sexta, amanhã é sábado de carnaval. E eu em riba dum carro... Quem diria, hein?

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