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domingo, 9 de janeiro de 2011

UMA HISTÓRIA PRONTA PARA O CINEMA

Há coisas no nosso mercado editorial que, confesso, eu ainda não entendo.
Um exemplo?
Este:
Por que danado a Editora Brasiliense demorou tanto para levar às livrarias o romance policial As Covas Gêmeas, tão bom?
Aliás, até prova em contrário, o mercado carece desse tipo de livro.
Sua trama chama de cara a atenção do leitor pela forma intrincada como se desenvolve no correr de 250 páginas.
As Covas Gêmeas é um livro que nasce fadado a ir às telas de cinema, anotem. E, detalhe: ele marca a estréia de pelo menos dois grandes personagens: a do próprio autor, o paulistano Marco Antonio Zanfra, e a do anti-herói Marlowe, criado para dar cabo nessa história de marginais que têm sob seu poder um dos garotos de desesperada mãe pobre e sem marido.
Marlowe, típico policial de carreira, surge logo nas primeiras páginas.
Ele é casado, pai de uma menina, separado e beberrão, e embora afastado de suas atividades policiais por um corregedor que o persegue, após acidente de automóvel que deixou pregado a uma cadeira de rodas um velho colega de profissão, finda por dar conta da tarefa a que se propôs: resgatar o garoto...
No Brasil, são ainda poucos os autores que enveredam pelo campo da literatura policial.
Por que, não sei.
Mas só esse fato deveria chamar a atenção das editoras, imagino.
Zanfra estréia com o pé direito.
É sucinto, curto nas frases.
E isso é bom.
O leitor gosta de frases assim, de parágrafos idem, e que os personagens se movimentem com rapidez.
O único “mas” que vejo no livro é: não custaria o autor informar as origens de frases que o inspiraram aqui e ali. Sua criatura Marlowe, por exemplo, diz que há pessoas que estranham quando ouvem o seu nome esquisito e cita:
“Nossos ídolos ainda são os mesmos, dizia o poeta” (pág. 21).
O poeta no caso é o cearense Belchior e o verso citado enriquece a música Como Nossos Pais, que a cantora gaúcha Elis Regina lançou em 1976.
O texto de Zanfra traz também frases bonitas, literárias, como:
“(...) longe, muito longe, sons de um tráfego que parecia fluir cuidadosamente para não acordar os mortos” (pág. 92), que Marlowe pronuncia como narrador da história de que faz parte.
Há também frases do balaio da cultura popular, como esta:
“A necessidade é a mãe de todas as virtudes” (pág. 221).
E esta:
“Vamos em frente, que atrás vem gente”, ditada pela delegada Maria Marge (pág. 229).
No entanto, isso tudo está longe de ofuscar a originalidade da história de Zanfra.
Acho só uma coisa: que Marlowe deveria ter sobrenome que o identificasse como brasileiro. Tudo bem que ele goste de músicas erudita e até de assobiar “alguns acordes de Noturno nº 1, de Chopim”, enquanto caminha perigosamente à noite por uma rua de uma cidadezinha cheia de cabras doidos para lhe por fim à vida (pág. 89).
Parabéns, Marco Zanfra! E traga o durão e sortudo Marlowe no próximo livro.
O doutor referido pelo bêbado da rodoviária é o delegado corregedor André Wolff?

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