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domingo, 29 de agosto de 2021

LOUCURAS DO MUNDO

Todo mundo sabe quem foi Walt Disney(1901-1966). Quem não sabe, fique sabendo: foi o pai de Pateta, Mickey e Minnie.
Todo mundo também sabe quem foi Ary Barroso (1903-1964). Quem não sabe, fique sabendo: dentre tantas músicas, tantos clássicos, foi o autor de Aquarela do Brasil e na Baixa do Sapateiro.
Um dia o Walt ofereceu uma montanha de dinheiro pra Ary. mas para que a grana fosse para o bolso do compositor era precisa que o compositor de Ubá, MG, trocasse o Brasil pelo EUA. Ary perguntou: lá tem Flamengo?
O amigo Carlos Sílvio está tarde entusiasmado. Motivo: o argentino Messi vai se apresentar daqui a pouco em público, pelo seu novo clube; PSG.
Bom, tem uma doida brasileira chamada Luana que ofereceu 3,2 milhões e reais pelo lenço que Messi que usou para enxugar as lágrimas que desceu na entrevista de despedida do clube(Barcelona) que lhe deu guarida por mais de 20 anos.
O mundo está morrendo de fome, de COVID-19 e outros males, sem falar do que ora ocorre no Afeganistão e países em volta.
O IBGE informa que há pelo menos 19 milhões de brasileiros com a barriga na costas, por falta de comida. A grana da Luana não mataria a fome de todo mundo, mas serviria pra encher a barriga de muita gente.
E não custa lembrar: nos últimos 20 anos, os EUA enfiaram 27 trilhões de reais na ocupação ao Afeganistão. E nada resolveram. 
Quanto a Ary Barroso..
Ary não topou a grana que Walt lhe daria. Motivo? 
Na terra do Tio San não tem Flamengo.

sábado, 28 de agosto de 2021

EU E OS MEUS BOTÕES (11)

"Estou encantado, encantadíssimo, com o desempenho dos brasileiros nos Jogos Paralímpicos", disse com os olhos brilhando num sorriso de canto a canto o jovem Barrica. "O mano tem razão. É tudo muito bonito de se ver", acrescentou Biu.

De fato, os nossos representantes em Tóquio têm nos dados muita alegria e exemplos de vida. Eu disse em voz alta, sem querer. Automaticamente. Batendo palmas, Lampa concordou: "o que a Thalita fez foi brincadeira! Adorei vê-la disputando os 400 metros rasos, ao lado do treinador, confesso que fiquei sem palavras. Fiquei sem ação. Na verdade, chorei foi muito", desabafou Lampa voltando a cutucar as unhas com o seu punhal de estimação.

"E ela é cega, não vê nada. Que menina!", foi a hora de Mané falar.

Zé, por sua vez, pegando carona na fala de Mané disse: "e vocês viram também o desempenho da pernambuquinha Ana Carolina nos 100 metros borboleta e do Wendell Belarmino?".

Claro que todos vimos o belo desempenho desses  nossos atletas.

Quieto até então, Zoião, informou: "Até agora, em quatro dias já faturamos 23 medalhas. Seis das quais, de ouro".

"Eu acho que a gente vai faturar umas 50 medalhas. Ou mais", arriscou Jão entusiasmado. "Até o próximo dia 5 muita coisa boa vai acontecer com o pessoal lá em Tóquio", acrescentou.

Claro que tudo isso é muito bom, tudo isso é bom demais, mas o mais importante é estarmos lá. É muita experiência, muita beleza, categoria, força e fé em jogo que os atletas portadores de deficiência estão nos dando.

Abaixo, três dos nossos campeões.

Carolina, Thalita e Wendell:

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

O BRASIL NÃO PRECISA DE SANGUE NAS RUAS

O Brasil já nasceu de cabeça pra baixo, é só ver o mapa. O Sul está lá embaixo, o Norte lá em cima com seu copázio.
O Brasil é belo, belíssimo. 
O Brasil é grande, como a esperança dos brasileiros.
Há muita coisa errada no Brasil, incluindo o atual presidente.
Bolsonaro provoca os brasileiros, quer guerra entre nós. Quer que vivamos uns com raiva dos outros, como inimigos.
Somos todos iguais, como está escrito na Constituição de 88.
Por que esse arrodeio?
Figuras incríveis da cultura nacional têm atuado alinhadamente com o presidente e contra nós, que somos contra a violência.
Dentre as figuras de destaque da nossa cultura popular se acham Sérgio Reis. Sérgio quer tacar fogo no País. Quer por pra fora, na marra, os ministros do STF e tal.
Por que Sérgio, ou Sergião como chamam seus amigos, tem tanta raiva e desapreço por nossas instituições democráticas?
Uma parcela robusta da população quer sangue, com estimulo do presidente Bolsonaro. Pena.
Conheci e conheço muitos artistas de todas as áreas da cultura nacional, da literatura à música...
Muita gente telefona por que não tenho falado sobre Sérgio Reis e a declaração que fez a favor do quebra-quebra Brasil. 
Antes de mais nada, sou um cidadão que respeita e segue as leis com rigor.
Faço da vida, poesia. Sempre foi assim. E fui.
Não sou amigo do Sérgio Reis e de tantos e tantos cantores que admiro e respeito.
Quem procurar, achará: há várias entrevistas minhas com o Sérgio Reis. Uma das primeiras publicada no extinto suplemento cultural Folhetim, da Folha de S.Paulo. E tem essa entrevista aí, abaixo, em que falo da importância da nossa cultura musical etc. Clique:
 

ENQUANTO ISSO...

O ministro Paulo Guedes, da Economia, diz que "Qual é o problema de a energia ficar um pouco mais cara?". Mais: o presidente Bolsonaro pede pra desligarmos um ponto de luz em casa. Pergunto: e quem gosta de fazer amor com a luz acesa, hein?
Vivemos crises sequenciadas: energética, política, econômica, social, sanitária... E como se não bastasse, ainda tem trogloditas se organizando para incendiar o Brasil no próximo 7 de setembro.

EU E OS MEUS BOTÕES (10)

Mané, eufórico: "O Brasil já ganhou 17 medalhas e está ocupando o 6º lugar, na Paralímpica de Tóquio!".
Biu, também eufórico: "Incrível! Incrível! E estamos apenas no 3º dia dos jogos".
"Seu Assis, seu Assis, viramos a madrugada na casa do Zilidoro", contou Mané.
Zilidoro: "Está sendo muito legal acompanhar os jogos pela televisão. Já ganhamos 6 medalhas de ouro. Uma delas coube ao paraibano Petrúcio Ferreira, no atletismo".
Cutucando as unhas com um punhal, Lampa entrou na conversa dizendo que Petrúcio nasceu nos sertão de São José do Brejo do Cruz, "Mesmo lugar onde nasceram os primos cantores Zé e Elba Ramalho". E Zoião quis saber: "Lampa, esse Ferreira aí tem algo a ver com o seu parente Lampião?". Lampa: "Claro, claro, né?".
Até aqui acompanhei em silêncio a conversa entusiástica e curiosa  desenvolvida entre os meus pacatos e inteligentes botões. Estranhei apenas o silêncio de Zé, Jão e Barrica. Perguntei, então, qual a razão do silêncio dos três. Barrica foi o primeiro a se justificar: "Quando essa gente boa aí fala, eu calo", no que foi seguido por Zé e Jão: "Tá tudo muito bom, isso aqui tá bom demais...", lembraram cantarolando um velho sucesso do rei do baião, Luiz Gonzaga.
Zé levantou-se, pegou a quartinha e encheu o copo d'água. Tomou tudo em dois goles e disse: "Essa moçada dos Paralímpicos nos dá lições fantásticas!".
Levantando a mão, Lampa perguntou: "Patrão, por que o sinhô num tá participando do danado desses jogos?", respondi: porque o meu professor de ginásticas, o Anderson, disse que eu estou fora de forma e pra não fazer feio, não fui.
"Esses jogos vão acabar no próximo dia 5 de setembro", informou Zilidoro. Até o dia 5, muita coisa boa vai rolar em Tóquio.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

EU E MEUS BOTÕES (9)

Biu: "Seu Assis, é verdade que o sinhô é cego?", sou sim. "E desde pequeno?", não. "Quando o sinhô ficou cego?", a pouco tempo. Nisso, ouço Barrica censurar o irmão, baixinho: "Para com isso!".
"Estou gostando desse assunto", diz Zilidoro. "Hoje é o 2º dia dos jogos Paralímpicos, em Tóquio", acrescenta. "Esses jogos começaram em 1960, só não sei se o Brasil participou deles", disse em dúvida o mesmo Zilidoro. Socorri-o: "A primeira vez que o Brasil participou dos jogos Paralímpicos foi em 1972. Não ganhamos nada".
Para minha surpresa, Mané pediu a palavra pra informar sobre a rapidez como os brasileiros têm se destacado nesses jogos. "Somos pentacampeões na modalidade Futebol de Cinco". E explicou: "O time é formado por 4 jogadores de linha, de um lado. E mais 4, do outro...". Jão emendou: "O goleiro dos dois times veem normalmente, mas os jogadores de linha são cegos de dá pena! Além do mais, ainda lhe expõem vendas na cara".
Ao ouvirem a fala de Jão, sempre quieto na sua casa, todos bateram palmas. E em uníssono: "O Jão é o cara!".
Pra terminar esse papo, eu disse que a representação brasileira em Tóquio já está com 8 medalhas: 1 de ouro, 3 de prata e 4 de bronze. "Duas dessas 4 medalhas de bronze foram faturadas pelo campineiro Daniel Dias", disse Zoião. E Zé: "O cabra é bom nadador, rápido que nem um peixe".
Poxa, vocês estão afinados! "E tem mais, seu Assis: esse Daniel nadador nasceu na mesma cidade em que nasceu o grande compositor operístico Carlos Gomes, seu ídolo". Encerrou Zilidoro.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

POETA COSTA LEITE É AGORA ESTRELA NO CÉU

 
O poeta e xilogravador José Costa Leite fechou os olhos e partiu para uma viagem sem volta, ontem 24.
Costa Leite nasceu no dia 27 de julho de 1927 em Sapé, município paraibano conhecido pela qualidade da produção de abacaxis.
Muito cedo, com cerca de 11 anos de idade, Costa Leite deixou Sapé junto com a família para morar no município de Condado, localizado na zona da mata pernambucana, foi lá que cresceu e iniciou a carreira vendendo folhetos nas feiras livres.
Tinha uns 20 e poucos anos quando compôs seu primeiro folheto de cordel. Gostou e seguiu em frente, transformando-se num dos mais expressivos poetas populares do Nordeste.
Autor de centenas de folhetos, Costa Leite chegou a gravar 2 LPs, um em 1977 e outro, em 1983.
Um dos poemas mais conhecidos desse cordelista é A Véia Debaixo da Cama e a Perna Cabeluda.
José Costa Leite deixou marca profunda na poesia de gracejo, na poesia de debate/desafio e tudo mais. Leia mais: JOSÉ DA COSTA LEITE, 93 ANOS
 
 

JÂNIO, RENÚNCIA: 60 ANOS

Em setembro de 1987, eu chefiava a Editoria de Política do jornal O Estado de S.Paulo.
No dia 22 daquele mês e ano, eu deixava bem cedo a minha casa para um encontro com o prefeito Jânio Quadros (1917-1992), como combinado.
O combinado naquele dia era que eu chegasse a seu gabinete, no Ibirapuera, pontualmente às 7 horas. Cheguei.
A porta estava aberta, nem a secretária havia ainda chegado. E o prefeito de braços abertos, de pé, disse ao me ver: “Parabéns”.
Numa longa e até engraçada entrevista, Jânio relembrou a sua história e o motivo que o levou a disputar a cadeira de prefeito do Município de São Paulo, o mais rico e populoso do Brasil. E falou e falou. Disse ser a favor do presidencialismo como sistema ideal de governo do País e que o parlamentarismo é uma josta. Disse também que a esquerda, como a direita, poderia decretar golpe político a qualquer momento. Mas ressaltou: “Ao Supremo Tribunal Federal cabe exercer ação fiscalizadora sobre os outros poderes, mantendo ou cassando leis, mas sempre respeitando a Constituição”. LEIA: ESQUERDA DOMINA O CONGRESSO
Jânio Quadros disputou e assumiu todos os mandatos políticos, antes de chegar à presidência da República.
Antes de Jânio, nenhum presidente recebeu tantos votos nas urnas. Mas a isso ele não deu muita bola e tentou o inimaginável: um golpe, depois de ganhar a Presidência. Até parece, pela forma dita, o que ora ocorre no Brasil: um presidente eleito pelas urnas, querendo se perpetuar pela violência e bala.
Bolsonaro, o atual presidente do Brasil, detona as instituições democráticas no propósito de perpetuar-se no poder.
Jânio tentou perpetuar-se no poder com uma carta de “renúncia”.
A vontade de Jânio era “voltar” nos braços do povo.
Mas Jânio não pensava em pôr as forças nas ruas, incluindo o Exército.
Sobre sua renúncia, no dia 25 de agosto de 1961, leia: A RENÚNCIA DE JÂNIO
O detalhe é o seguinte: Jânio foi um grande marqueteiro e duas músicas o marcaram profundamente: Varre, Varre Vassourinha e O Jeito É Jânio. Ele sabia se “vender”. Leia: A POLÍTICA EM JINGLES
Jânio seguiu passo a passo todos os passos até chegar à presidência da República.
Jânio entendeu tudo, na vida política. Chegou ao ponto de homenagear, com medalha valoroza, o guerrilheiro Che Guevara (1928-1967).
Bolsonaro jamais faria isso, jamais reconheceria o valor da oposição.
Chamar Bolsonaro de idiota é burrice, pois os idiotas são puros. Que o diga Dostoiévski (1821-1881).
De direita, Jânio foi um patriota. Conhecia leis e gostava do povo.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

EU E MEUS BOTÕES (8)

 O que é que vocês estão fazendo aqui reunidos?, pergunto aos meus botões. "É que hoje é um dia especial e a gente resolveu lhe fazer algumas perguntas", começou Lampa, lambendo o punhal. Antes de mais nada, quero saber o seguinte: por que o Lampa não para de lamber o diabo desse punhal?

Após estridente gargalhada, Lampa respondeu: "É que tô doidin pra pegar o cabra que matou Getúlio".

Aaaah! Então é isso, vocês querem que eu fale sobre Getúlio Vargas? "Sim! Sim!", disse rápido o paraibano Mané. E começou: "É verdade que João Pessoa foi candidato a vice presidente na chapa de Getúlio?". Sim, sim. Pessoa foi candidato à vice presidente na chapa de Getúlio.

O assunto vai despertando curiosidade, mais e mais.

O alagoano Zé quer saber por que João Pessoa não virou vice presidente, já que Getúlio virou presidente. E respondo: João Pessoa foi assassinado e Getúlio, embora perdendo nas urnas, virou presidente da República depois de botar pra correr o paulista Júlio Prestes. Isso, em 1930.

"E aquela história de que a Revolução de 30 começou na Paraíba, é verdade?", adiantou-se Barrica. Sim, sim, a Revolução de 30 começou na cidade paraibana de Princesa. Foi lá onde primeiro o pau cantou. O chefe da revolta foi o rico fazendeiro Pereira Lima. "Esse Lima é o mesmo Lima de quem fala Luiz Gonzaga no baião Paraíba?", quis saber Biu. Sim, respondi. E em uníssono, todos fizeram "Óóóóóóh!".

Até então calado, só escutando, o misto de poeta e filósofo popular Zilidoro perguntou: "Getúlio Vargas matou-se ou foi matado?". A história é longa e conhecida. Getúlio matou-se e o seu corpo foi localizado na manhã do dia 24 de agosto de 1954, uma terça-feira. Mais de um milhão de brasileiros foram às ruas chorar por ele. "Como ele morreu?", quis saber Zoião. Com um tiro no peito. E Jão: "O cara era corajoso". Que corajoso nada, Jão! Foi o momento que o fez suicida.

Zilidoro cosca o pescoço e diz: "Nos meus tempos de estudante, descobri que grandes personagens da história mundial se suicidaram, inclusive Cleópatra". É verdade, eu digo.

Curioso, Lampa confessa: "Eu pensei que esse tal de Getúlio havia sido assassinado". Houve instantes em que muita gente pensou isso. E a respeito saiu notícias nos jornais, na imprensa, dando conta de que ele fora morto por um pistoleiro. Mas isso não é verdade. Definitivamente, não é verdade. Ele matou-se por não resistir às denúncias do seu arqui-inimigo Carlos Lacerda. Querem saber mais? Leiam:

O Brasil caiu em prantos e se vestiu de luto na manhã do dia 24 de agosto de 1954, ao tomar conhecimento do suicídio do gaúcho Getúlio Dorneles Vargas, baixinho que formara chapa à Presidência no ano de 30 com o paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, morto a tiros numa confeitaria da capital pernambucana, Recife.
Na hora como a de agora, naquele agosto de 54, muita gente desmaiava no Rio de Janeiro, sofrendo tipos diversos de dores e sentimentos no velório do político que ficou conhecido de norte a sul do País como o “pai dos pobres”.
O Catete, em Copacabana, virou muro de lamentações.
Primeiro, foi a Rádio Nacional que divulgou a tragédia na voz do ministro Oswaldo Aranha, da Fazenda.
Depois, todas as emissoras de rádios do País emitiam seguidamente a íntegra e partes mais fortes da carta-testamento do presidente morto.
Essa carta logo teria interpretação registrada num disco (selo Monumento) de dez polegadas na voz do paulista Silvino Netto, cantor, compositor, radialista:
“Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram, respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate”.
A carta dramática, com imagens shakespearianas, findava assim:
“Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.
Getúlio começou a morrer na Rua Tonelero pelos tiros de uma Smith & Wesson 45 disparados pelo pistoleiro de aluguel Alcino João que atingiram o major Vaz, e no Catete quando acionou o gatilho de um Colt 38 com cabo de madrepérola no próprio peito. Mas seu fim fora anunciado bem antes, pela boca de seu arqui-inimigo Carlos Lacerda que o chamava nas páginas do seu jornal, Tribuna da Imprensa, de “protetor de ladrões”.
A história polêmica é conhecida por muita gente.
Um dia antes do suicídio, o jornal Última Hora estampou em manchete uma frase histórica: “Só morto sairei do Catete”.
Nunca, nenhum presidente do Brasil foi tão espontaneamente cantado em verso e prosa como Getúlio Vargas.
Dezenas e dezenas de músicas foram compostas e gravadas em sua memória. E até clássicos perduram no nosso cancioneiro, como o rojão Ele Disse, de Edgar Ferreira, gravado, entre outros, por Jackson do Pandeiro e Zé Ramalho. Diz o refrão:

“Ele disse muito bem
O povo de quem fui escravo
Não será escravo de ninguém...”


Nunca também nenhum presidente do Brasil fez o que Getúlio fez. E não por falta de bala ou revólver...

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

EU E MEUS BOTÕES (7)

"Confesso que estou ficando bastante preocupado com o que tenho ouvido por aí", diz com o semblante franzido o nosso papa-jerimum Biu, que lá na terrinha é chamado de Severino. "Esse cabra aí é frouxo, patrão!", interrompe o desabrido Lampa, acrescentando: "Se fosse lá no Pernambuco, no mínimo esse cabra levaria uma pisa até virar homem!". "O Lampa tem razão, o Biu é um frouxo!", provocou Zé. "Sou macho, sou das terras das Alagoas. Lá na minha terra, macaco avoa e minhoca fácil, fácil vira cobra". Vamos parar com isso, pessoal.

"O Biu tem razão, patrão. O clima tá ficando esquisito. Sinto cheiro de pólvora no ar", disse enigmaticamente o cearense Jão. "Na terra onde eu nasci, a gente já nasce preparado pra tudo", emendou Zé, recebendo palmas do discreto Mané. "Que ninguém se esqueça, foi lá em Princesa que começou a guerra de 30", lembra o paraibano. Vocês hoje estão demais, observo.

Enquanto meus botões mostram preocupação com o que pode acontecer já, já no Brasil, o telefone toca. Era o juiz Onaldo Queiroga dizendo que tem uma pessoa querendo falar comigo. E passa o telefone. Ouço: "Boa tarde Assis. Estudamos artes plásticas com o João Câmara, Celene Sitônio e Raul Córdola, Lembra?". Zoião quis saber com quem eu estava falando. Respondi que estava a papear com um conterrâneo dos fins dos anos de 1960, o João Batista. "E ele era pintor, era?". Respondi que sim, e dos bons. E tipógrafo, responsável pela primeira revista editada a cores na Paraíba. "E como se chamava essa revista?", quis saber o curioso. Esqueci, respondi.

O tempo segue, infalível. 

Mas eu quis saber qual o motivo que estava deixando Biu preocupado. E ele: "A direitona, essa que vive pra judiar os pobres, está se armando. É só ver e ouvir a convocação do Bolsonaro para o 7 de setembro". O Zé concordou, rapidamente: "A fala do cantor Sérgio Reis é também muito expressiva". Cutucando as unhas com um punhal e depois dando uma cuspida de lado, Lampa disse: "Pela Democracia, lutarei até o fim". E aí as palmas foram gerais.

Lá do seu canto, Zilidoro deu o ar da graça: "A política tá pegando fogo e as florestas também. Agora mesmo, o parque do Juquery, com seus 2 mil hectares, está sendo engolido por labaredas insaciáveis". Gostei desse "labaredas insaciáveis". É bom falar com um poeta, não é mesmo Barrica? E Zilidoro: "O patrão nunca falou, mas eu conheço uma música dele e do Téo Azevedo que fala sobre incêndios provocados por balões". Incrédulo, Biu disse: "Bom, vamos deixar a política de lado e ouvir a música do patrão?".

domingo, 22 de agosto de 2021

SÉRGIO REIS, UM CANTOR SEM NOÇÃO?

A primeira vez que entrevistei Sérgio Reis foi em 1978. Bom papo, boas histórias. Ex-estrela da Jovem Guarda. Um dos seus maiores sucessos, foi Coração de Papel.
Com o fim da Jovem Guarda, movimento musical comandado por Roberto Carlos, Sérgio Reis foi levado pelas mãos de Tony Campello à ceara sertaneja.
Serjão, assim chamado pelos mais próximos, gravou centenas de músicas. 
Inesperadamente há pouco dias, o artista abriu a boca em apoio total ao presidente Bolsonaro. Foi além, no apoio. Chegou a ameaçar o presidente do Senado e os ministros do STF. 
As ameaças de Serjão deixaram chocados seus amigos artistas, como Guarabyra(da dupla Sá e Guarabyra), Guilherme Arantes, Maria Rita e até Zé Ramalho, entre outros.  Zé foi mais longe, impedindo-o de usar a gravação de Admirável Gado Novo que fizera para integrar o novo disco do intérprete de Menino da Porteira.
A fala de Sérgio Reis foi um suicídio. Musical, mais suicídio.
Jorge Ribbas e eu andamos compondo uma modinha para Bolsonaro:



EU E MEUS BOTÕES (6)

Vocês estão abafando. Todo mundo está falando de vocês. Até o Richard Muniz, um cartunista paraibano. Trabalhei com nos anos de 1970, no extinto jornal O Norte."Poxa, você é vivido hein patrão", disse com toda simplicidade Mané. "O patrão não é brinquedo, não", emendou Zé. "Vocês são uns bobos, o seu Assis já conheço de longa data", amostrou-se Jão. Vamos parar com isso, propus.

O cantor e compositor Cacá Lopes tem dito que gosta de todos os meus botões, especialmente Lampa. "O que?", espantou-se o desabrido Lampa. E no seu estágio normal, passou a cutucar as unhas com o punhal.

Zoião disse que tem ouvido e lido alguns comentários sobre si próprio e companheiros. "Que eu sou dos bons sou", afirmou sem nenhuma modéstia.

Lado a lado os irmãos Biu e Barrica apenas comentaram, em uníssono: "É isso aí, gente!".

Atento, mas até aqui em silêncio, Zilidoro comentou ironicamente: "esse Biu e esses Barrica são uns convencidos, patrão"! E emendou: "eu não quero dizer mais nada. Quero apenas que o patrão, que sabe tudo, conte-nos a história do folclore. Até porque hoje 22 de agosto é o dia dos folclore".

Confesso que fui pego de surpreso, de calças curtas. Mas, enfim, lá vai:


O POVO É SÁBIO

Quem já não ouviu falar que “agosto é mês de desgosto”?
Pois é, esta é só uma das milhares e milhares de frases carimbadas pela boca do povo.
E esta aqui: “quem cochicha, o rabo espicha”.
Claro, esta serve para todos nós peregrinos do céu e da terra: “quem tem boca vai à Roma”.
Tem outra que diz: “quem fala muito, dá bom dia a cavalo”. Aliás, outro dia uma amiga me contou que certa vez inventou de bater boca com uma senhora que o tempo parece ter esquecido de levar e boca vem e boca vai, as duas findaram por se desentenderem completamente. A amiga então lhe dirigiu essa velha frase do folclore. Resposta:
-Você tá pensando que eu sou o que, uma cavala?
A minha amiga riu muito e apaziguadora apenas disse:
-Eu estou lhe provocando só porque eu gosto de ouvir a senhora falar, e como fala!
Hoje é o Dia Internacional do Folclore, que os países civilizados certamente comemoram.   
A palavra folclore é uma palavra que ainda não tem nem duzentos anos. Ela surgiu da curiosidade de um arqueólogo inglês chamado William John Thoms (1803–1885).
Um dia, Thoms enviou uma longa carta à redação da revista de Atheneu, de Londres. Nessa carta ele demonstrava toda a curiosidade que nutria em torno das coisas que o povo fala e faz. Coisas que têm a ver com anedotas, histórias infantis, cantigas, rezas mágicas, pragas e tudo mais que tem a marca anônima e indelével do povo.
Pois bem, o conjunto de todas essas coisas vindas, surgidas, criadas, por obra e graça do popular, têm a ver com folk-lore, de origem anglo-saxônica. Em tradução livre e espontânea: folclore vem a ser nada mais nada menos do que ciência do povo.
O meu querido Luiz da Câmara Cascudo detestava a expressão folk-lore.
Cascudo –que bela palavra como sobrenome para um ser tão importante para o Brasil- foi um dos nossos mais importantes e o mais prolífico estudiosos do saber popular. Deixou cerca de 150 títulos publicados, dos quais cerca de 10 ou 15 podem se achar por aí.
Aprendi muito com o mestre Cascudo. O folclore é de fato uma ciência de suma importância para a compreensão da vida. Toda inteligência passa pelo saber do povo.
Há uns cinco séculos, outro cidadão inglês e também de nome William, no caso, Shakespeare, inventou de passar todo seu tempo a escrever histórias; histórias. Do povo para o povo.
Pois bem, grosso modo, podemos afirmar que toda obra de Shakespeare é baseada no tesouro em que se encerra a sabedoria popular. E o que fez Shakespeare, antes e depois, fizeram outros grandes nomes da literatura e música que não morrem. Bach, também fez isso, por exemplo.
O folclore é tão importante que até faz parte do imaginário de mestres da música erudita como o húngaro Béla Bartok (1865-1945).
Em 1923, Bartok decidiu compor uma obra em homenagem às cidades que deram o nome de Budapeste. E de sua mente privilegiada saiu a Suíte das Danças. Nessa música o autor expõe, a partir do imaginário, o que seria na sua visão, folclore.
Entre nós, brasileiros, Tom Jobim, Zé Dantas, Luiz Gonzaga e tantos e tantos, foram céleres beber na fonte imorredoura da sabedoria do povo.
Asa Branca e Assum Preto são boas amostras disso, cá entre nós.
Viva o folclore brasileiro!

sábado, 21 de agosto de 2021

EU E MEUS BOTÕES (5)

Olá pessoal, comecei cumprimentando meus botões. A resposta foi unânime. E eu: o dia está bonito!

É o seguinte, tem muita gente por aí querendo saber a respeito de vocês. Zoião sobressaiu-se, dizendo que nasceu em Aracajú. "A minha terra é pequena mas é descente", disse.

Zé, falador que só, foi dizendo que conhecia Zoião há muitos anos. "Por ele, não dou um tostão", cutucou.

Zoião não gostou do que ouviu e se não fosse eu, o pau tinha cantado.

Mané, conhecido na Paraíba como Mané Bilau, contou que também conhecia Zoião, cujo nome esconde, há muito tempo. "Esse aí, patrão, é mais sonso do que tudo. Mas é meu amigo, eu gosto dele", acrescentou.

Os irmãos Barrica e Biu caíram na risada, lembrando que Zoião tem um passado condenável. "Não sei se ele já matou alguém, mas que é chegado a pegar coisa alheia isso é", acusou.

Eu: vamos parar com isso, pessoal. Vamos responder aos leitores, que é bem melhor.

Do seu canto, Jão observou: "bom, eu nasci no Ceará. Sou da terra de Iracema, sou da terra do meu Padin. Meus pecados já paguei no Canindé. Estudar, estudei pouco. Mas o pouco que estudei nenhuma aqui estudou. Talvez só o Zilidoro".

Cutucando as unhas com um punhal, seu inseparável punhal, Lampa disse: "pegaram o Zoião hoje pra Cristo", falou. A minha vida, acrescentou Lampa "é uma vida cumprida. Nasci em Pernambuco e andei por aí a fora. Cair nos Anjicos e dizem hoje que morri. Quanta mentira!", disse se pabulando o pernambucano arredio como  tal Lampa é chamado.

"Eu nasci em algum lugar do Brasil, mas não vou dizer qual", começou Zilidoro. "Gosto de poesia, de filosofia =, de viver. A minha idade? Não digo. Aliás, que interesse isso pode ter para os leitores?", completou o poeta.

Dizem, não sei, que dentro meus botões o mais preguiçoso é o Biu. "Meia verdade, meia mentira. Trabalho pra comer. Pra que mais?". Zilidoro emendou: "Isso me faz lembrar um colega chamado Ascenço Ferreira".

Ascenço Ferreira...

Esses meus botões são incríveis. Biu: "Patrão, que tal a gente encerar esse lenga lenga ouvindo o poeta Ascenço.

Concordei. Vocês concordam?

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sexta-feira, 20 de agosto de 2021

EU E MEUS BOTÕES (4)

"Chefe!", começou Lampa, "É sem querer, mas estou preocupado com Jão".
Perguntei, ora por que essa preocupação com o Jão? E Lampa: "O Jão na sua tristeza sem fim, acha que o Brasil vai se acabar em setembro". O quê, perguntei também preocupado.
A essa altura o poeta Zilidoro pôs o bedelho no meio do papo: "Andei pensando, pensando muito, e sem querer começo a pensar que o Jão tem razão".
Zoião, no seu canto, opinou: "É, de fato, preocupante a situação que ora todos vivemos".
Lampa, com aquele seu jeitão "deixa que eu resolvo", disse, alisando punhal: "Num tempo lá atrás, eu resolvia isso num segundo". Como, perguntei. E ele: "Eu ia lá e ZAP! E o cara já era!".
Jão, num fio de voz, apenas diz: "É demais, é demais! Como é que uma besta quadrada vira presidente da República e de uma hora pra outra resolve cuspir na boca da urna e na cara povo?".
Mané, de pouca fala, fez uma observação incrível: "Se o cabra de quem vocês estão falando é o mesmo que eu imagino, vai se lascar se anunciar um golpe no País".
De fato, é impressionante o pensar do Mané. "Eu concordo com ele", disse Barrica. Biu disse o mesmo: "O Barrica tem toda razão ao dizer isso".
Os meus botões, meus queridos botões, estão muito entrosados entre si. E para meu espanto, estão pensando e se expressando de maneira surpreendente.
"Seu Assis, é verdade que o sr. é amigo do cantor Sérgio Reis?". Não, nos conhecemos há muito tempo. "Está negando a sua amizade com o artista?", ironizou Zé. E lá fui eu explicando: Conheço muitos artistas da nossa música popular. Alguns politizados, outros nem tanto. O Sérgio era, até aqui, um cantor que não tinha maiores envolvimentos com política partidária. "Aí está! O cara estava com as unhinhas escondidas e num movimento foi e ZAP!", concluiu Zé, recebendo a concordância de Zilidoro.
Com ar de aparente desinteresse e limpando as unhas com a ponta do punhal, observou Lampa: "O cara sobre quem vocês falam, ameaçou senadores e tacar fogo no País, caso o Congresso não impechásse o pessoá do STF. E foi preso". E Zé: "Bem feito!".
Ai, ai, ai... Esses meus botões!
"Patrão, Patrão!", lá vem o Biu esbaforido perguntando se eu tinha ouvido falar de uns tais de Ricardo Santana e um Roberto Dias. "Esses caras", segundo ele, "Foram tomar um chope pra comemorar um contrato milionário de corrupção do Ministério da Saúde!" O quê, perguntei meio besta. E ele: "Deixa pra lá... Hoje é sexta-feira dia de chope".

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

AUDÁLIO DANTAS, O DESCOBRIDOR DE CAROLINA MARIA DE JESUS

“Estão tentando transformar o Audálio num vilão”, disse-me por telefone o colega jornalista Flávio Tiné, depois de ler matéria de quatro páginas sobre Carolina Maria de Jesus (1914-1977) e Audálio Dantas (1929-2018), publicada sexta, 13/8, na Ilustríssima, caderno de variedades da Folha de S.Paulo.
A Folha de S.Paulo é o resultado da fusão dos jornais Folha da Manhã, Folha da Tarde e Folha da Noite.
Em abril de 1958 o repórter alagoano Audálio Ferreira Dantas foi escalado para fazer reportagem na favela do Canindé, localizada à margem esquerda do rio Tietê, na capital paulista. Canindé é um tipo de ave que habita região de brejo.
Seria uma reportagem como tantas. O detalhe é que o discreto e antenado repórter teve a atenção voltada para uma mulher negra de 44 anos. Ela, segundo ele, ameaçava aos gritos inserir nomes de seus desafetos no livro que estava escrevendo. Curioso, o repórter aproximou- -se da mulher e logo depois teve acesso aos escritos dela. “Eram muitos cadernos cheios de histórias interessantes”, disse-me Audálio um dia.
Mas para ganhar forma de livro era preciso uma boa revisão e edição das histórias. E isso ele fez, não do dia pra noite. Mas fez. Antes, porém, publicou uma reportagem de página inteira na Folha da Noite. De cara, dizia a chamada: “O drama da favela escrito por uma favelada”.
A reportagem, ilustrada por fotos de Gil Passarelli (1917-1999), foi publicada no dia 9 de maio de 1958.
A referida favelada ganhou fama imediatamente no Brasil e no exterior, aparecendo noutras publicações, entre as quais O Cruzeiro. Mergulhado na leitura dos cadernos de Carolina Maria de Jesus, Audálio deles extraiu o livro Quarto de Despejo, que a livraria Francisco Alves publicaria em 1960. “Fácil, fácil, o livro alcançou a fabulosa tiragem de 100 mil exemplares”, contou-me Audálio.
O livro recebeu dezena e meia de traduções nos Estados Unidos, Alemanha, Japão, França e Holanda.
“Eu não entendo por que estão acusando o Audálio do que não fez”, comentou o cartunista Fausto Bergocce, depois de ler pra mim o texto publicado na Folha. “Até onde eu sei, Audálio foi um anjo que caiu do céu na vida de Carolina”, acrescentou.
Fausto está totalmente correto.
Sem Audálio, Carolina Maria de Jesus teria passado em brancas nuvens por estas plagas. É o que também pensa e assina o cordelista cearense Klévisson Vianna. Acrescentando: “Era natural do Audálio ajudar a muita gente. Eu mesmo fui muito ajudado por ele, que falou muito bem de mim ao Jô Soares, de cujo programa participei”.
Audálio Dantas tem sido acusado de ser o autor de Quarto de Despejo. “Essa é uma inverdade que salta aos olhos”, disse-me uma vez. A seu favor, lembrou: “Até o poeta pernambucano Manuel Bandeira (1886- 1968) comentou o assunto”.
Na matéria da Folha, a impressão que fica é que há alguém interessado em manchar a imagem do repórter que descobriu Carolina. O que ele fez, e fez como cidadão, foi ajudar como pôde aquela mulher portadora de grande talento literário. Talento espontâneo.

“O que há nessa história é um grande jogo de interesses mercadológicos”, entende o jornalista Tiné.
Ao contrário do que algumas pessoas dizem, Audálio Dantas sempre levou uma vida modesta. Gastava o que ganhava como qualquer cidadão casado e com filhos. E como cidadão e trabalhador ganhava e perdia emprego.
Depois que perdeu o emprego na Eletropaulo, antiga Cesp, ficou sem eira nem beira. E um dia me telefonou pedindo para o avisar se soubesse de alguma colocação. Perguntei-lhe se queria trabalhar comigo, ser meu chefe. Embora zonzo, topou. E foi assim que trabalhamos juntos no Departamento de Imprensa do Metrô de São Paulo por uns quatro anos.
No ano seguinte à publicação de Quarto de Despejo, a favela do Canindé deixou de existir. Detalhe: depois de ler a reportagem de Audálio, o radialista paulistano Raul Duarte (1912-2002) compôs o samba No Meu Canindé. Esse samba foi gravado (Odeon) pela cantora Alda Perdigão no dia 24 de setembro de 1958 e lançado à praça três meses depois.
Ainda em 1961, Audálio Dantas abriu caminho para Carolina Maria de Jesus gravar um LP pela extinta RCA Victor. As letras são todas dela, por ela mesma interpretadas. Tratam do cotidiano do lugar onde morava. São sambas, marchas, batuques e até um baião. Título: Quarto de Despejo. Destaque para Vedete da Favela, um autorretrato… A contracapa desse LP é assinada por Audálio. 

Audálio Ferreira Dantas foi um dos mais importantes jornalistas e escritores do nosso País.
Em 1956 Audálio foi pautado pra cumprir o lançamento do livro Grande Sertão: Veredas, do mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967). João recusou-se a dar entrevista, mas mesmo assim o repórter fez uma belíssima cobertura do lançamento.
Depois de muitas entrevistas e reportagens, Audálio seguiu carreira na revista Realidade.
São muitos os livros de Audálio. O último foi as As Duas Guerras de Vlado Herzog. Curiosidade: pra fechar o livro, o autor precisava entrevistar o cantor e compositor Geraldo Vandré, mas não conseguia localizá-lo. Eu disse: vai algum dia lá em casa que você conseguirá. E assim foi feito.
Atenção: está mais do que na hora de Audálio ter a sua história contada em livro. Enquanto isso não é feito, dedico-lhe o poema abaixo:

O Brasí é um barquim

Deslizano pelo má
Levano, trazeno gente
Daqui pralí, dali pracá

Nesse eterno vai-vem
Muita gente cai no má
Muita gente vai pro céu
Sem saber que trem tem lá

Desse jeito o Brasí vai
Se balançano no má
Pareceno u’a donzela
Convidano pra dançá

Esse barco já levô
Muita gente além do má
Já levô Audáio Dantá
Valdi Tele e Jão Bá

Barquero desse barco
Castro Alve foi pro má
Levano o bão Bandeira
Pra um dedo prosiá

Charge de Fausto Bergocce por ocasião
da morte de Audálio (maio de 2018)
Gente de todo tipo
Nesse barco foi pro má
Quereno sabe untudo
Querendo sábi ficá

Há muito ele nasceu
Num belo berço do má
Andô, correu pirigo
Mas sempre sôbe lutá


Lá vai ele
Leve e livre no má
Garboso, sinhô de si
Com o céu a li guardá

Viva o Brasí barquinho
Na sua missão no má
Levano, trazeno gente
Daqui pralí, dali pracá



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quarta-feira, 18 de agosto de 2021

ELBA RAMALHO CHEGA AOS 70

 Elba Ramalho é uma marca de orgulho do cantar nordestino. Começou a gravar discos no final dos anos de 1970. Seu primeiro LP intitulou-se Ave de Prata. Esse disco chamou a atenção de muita gente, à época.
Elba, prima de Zé Ramalho, nasceu no dia 17 de agosto de 1951. 
A presença de Elba Ramalho no teatro também é marcante.
Viva Elba Ramalho!

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VANIRA KUNC

A jornalista Vanira Kunc está apagando vela, comendo bolo e bebendo suco. Já está ali na casa dos sessentinha. Lugar bom. 
Viva Vanira!

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PRETO DE ALMA BRANCA

 A história do negro no mundo é terrível.
O tráfico de africanos escravos para o Brasil começou em 1550.
A história conta que cerca de 5 milhões de africanos foram transformados em escravos no nosso País. No correr da travessia pelo Atlântico, pelo menos 2 milhões de africanos foram atirados ao mar. Alguns, vivos.
Não é possível esquecer a tragédia da escravidão, no Brasil.
Num tempo lá atrás, ouvi muito pessoas referirem-se a negros como: "Coitado de fulano, é um preto mas de alma branca".
Terrível.
E o que dizer de um negro fantástico como Martinho da Vila, de batismo Martinho José Ferreira, referir-se a alguém da cor da sua pele como: “(...) É um preto de alma branca."?
A pessoa a quem se refere Martinho ocupa um cargo importante na Fundação Palmares. Essa pessoa tem trabalhado publicamente contra os negros, embora negra seja. 
A Fundação Palmares foi criada para defender a cultura produzida pelos negros. Importantíssima essa fundação. Hoje, porém, desvirtuada nos seus propósitos originais.
A fala de Martinho da Vila ocorreu segunda-feira 16, no programa Roda Viva, da TV Cultura, canal 2.
Na fala, o destaque:
“A Fundação Palmares era uma fundação criada para tratar dos assuntos da cultura negra. Mas botaram aquele cara lá, o Camargo, um bolsonarista radical. Ele é um preto de alma branca, como se diz. No duro, ele gostaria de ser branco e se sente branco. Para ele, tem que acabar com todas as coisas de negro".
Martinho da Vila é uma referência necessária, em qualquer tempo. Sua obra é fundamental, grande do tamanho do seu talento.
Há alguns anos eu, o entrevistei no programa São Paulo Capital Nordeste. Confira:
 

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terça-feira, 17 de agosto de 2021

KLÉVISSON VIANA, UM MESTRE DOS NOSSOS TEMPOS

O cearense Klévisson Viana é ilustrador, quadrinista, cartunista, cordelista e mais um monte de coisas ligadas à cultura popular. É palestrante, oficineiro, roteirista, declamador e tudo mais. Fala pelos cotovelos. Tem uns 40 livros publicados até agora e pelo menos 200 títulos de folhetos de cordel de sua autoria rolando na mão do povo. É também editor e criador da Tupynanquim. Por essa editora já publicou mais de mil folhetos de autores iniciantes e famosos como José Costa Leite, Antônio Américo de Medeiros, Vicente Viturino, Marco Haurélio, João Firmino Cabral, Rouxinol do Rinaré e Mestre Azulão.
“O paraibano Azulão, foi um dos grandes criadores da literatura de cordel”, diz Klévisson Viana, acrescentando: “A obra desse mestre se acha completa no acervo da nossa Tupynanquim”.
Miolo da Rapadura é um dos seus livros incluídos na rede de bibliotecas e salas de leitura do Estado do Ceará.
Esse é um livro recheado de histórias desenvolvidas em textos corridos e em versos. Belíssimo. Com ilustrações, inclusive.Filho de seu Evaldo e de dona Hathiane e irmão de Arievaldo, Itamar, Marcos Aurélio, Autemar e Evandra, Klévisson Viana é provavelmente o mais importante artista da cultura popular brasileira, na atualidade. É múltiplo, multimídia, multitudo.
Klévisson iniciou a carreira ilustrando textos no jornal A Voz do Povo, de Canindé, CE. Tinha uns 15, 16 anos de idade. Depois, aos 17 anos, ingressou como cartunista do jornal O Povo, de Fortaleza, CE.
Genialidade é uma coisa que não falta a esse cearense.
Marco Haurélio, Assis Ângelo e Klévisson Viana
Tinha Klévisson 25 anos quando escreveu e publicou seu primeiro folheto de cordel: A botija Encantada e o Preguiçoso Afortunado. Belíssimo.
É muito difícil falar de pessoas queridas, de pessoas que vivem à nossa volta.
Conheci Klévisson Viana há duas décadas, quando participou da exposição 100 Anos de Cordel. Essa exposição, inaugurada no Sesc Pompéia, SP, em agosto de 2001, foi idealizada pelo jornalista alagoano Audálio Dantas (1929-2018). Fiz parte dessa exposição, como curador da parte referente a poetas repentistas. Dessa parte participaram Ivanildo Vila Nova, Oliveira de Panelas, Valdir Teles, Geraldo Amâncio, Andorinha, Sebastião Marinho, Mocinha de Passira e tantos outros.
Xilogravador, em 2001 Klévisson fez a sua primeira gravura em São Paulo.
Foi nesse mesmo ano que Klévisson escreveu com Téo Azevedo um folheto intitulado “A peleja de São Paulo com o monstro da violência” e um outro com seu irmão Arievaldo Vianna (1967 – 2020) sobre Bin Laden e a destruição das torres gêmeas em Nova Iorque (Trend Center).
Sua primeira xilogravura teve como “modelo” o autor do livro Dicionário Gonzagueano, que não por acaso vem a ser eu.
Klévisson cresceu e ficou do tamanho do mundo, de um mundo sem tamanho.
Correndo rápido que nem uma onça, em disparada que nem um tufão, Klévisson entendeu muito cedo que era preciso voar. E com as asas do pensamento tem realizado tudo que se possa imaginar.
Está se transformando num ser sem fronteiras.
A obra de Klévisson Viana já é conhecida em várias línguas, desde a França: México, Portugal, Turquia, Bélgica...
Há uns 10 anos fiz um roteiro sobre a vida do rei do baião, Luiz Gonzaga, para Klévisson quadrinizar (Leia: LUIZ GONZAGA O REI DO BAIÃO). Ficou muito bonito. Por esse tempo também compus com ele dois textos: um sobre Dom Quixote e outro sobre Patativa do Assaré, ambos musicados e gravados pelo baiano Gereba. Ouça: QUIXOTEANDO
Um dos folhetos de Klévisson, A Quenga e o Delegado, foi adaptado para a série Brava Gente (TV Globo, 2001). A personagem feminina do folheto teve a brilhante interpretação de Ana Paula Arósio. Confira:

Antônio Clévisson Viana Lima nasceu no dia 3 de novembro de 1972, em Quixeramobim (CE).

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domingo, 15 de agosto de 2021

ICH! É FOGO NA ROUPA!

É como diria minha vó Alcina: "a política tá pegando fogo!"

Pois é, não é de hoje, os políticos estão acesos. E o pavio, curto.

Semana que passou rolou um pandemônio dos infernos, em Brasília e alhures. Começou com Bolsonaro, chamando Barroso de "filho da puta". O agredido ficou na moita, como manda o figurino jurídico. Mas o homem da caneta bic não parou por aí: foi se arrepiando, foi se arrepiando... Até tanque botou na rua. Tanque fajuto, mas tanque. A ideia era nos arrepiar. Com fumaça e tudo.

A semana que passou começou pegando fogo e terminou pegando fogo.

O Ministro Alexandre de Moraes, do STF, mandou pro xinlindró um ex-deputado. Esse falastrão, taliquá seu inspirador palaciano. A cadeia está ficando cheia de deputado e de ex-deputado, também. Até aquela Flor de não sei o que, deixa pra lá!

O grave nisso tudo, o mais grave, é que Bolsonaro não ver a hora de dá um golpe no toitiço do Brasil. É isso que ele quer, tanto que chegou ao ponto de afirmar que as Forças Armadas são o "poder moderador".

O Poder Moderador foi criado em 1824 e como tal constante da nossa primeira Constituição que durou até o Golpe Militar desfechado pelo Marechal alagoano Deodoro da Fonseca, em 1889.

As Forças Armadas, meus amigos e amigas, são instituições legítimas e necessárias criadas para defender  o Brasil de ataques externos ou balbúrdia interna.

É de ser estranhar o fato de haver discussão em torno da qualidade da urna eletrônica. Nos últimos 25 anos, todos os políticos foram eleitos através do voto eletrônico. E ninguém chiou.

Bom, estou pronto pra votar. Na paz, com paz.

E viva o Brasil.


Roberto Siviero

A Olimpiada de 2020 terminou com 21 medalhas no peito de brasileiros e brasileiras, no Japão. Isso sem maiores incentivos oficiais do Estado ou da Iniciativa privada.

Há no Brasil pessoas incríveis dedicando-se a história do esporte. Um desses brasileiros é o paulistano Roberto Siviero que estudou e continua estudando mundo a fora é PHD em Admistração pela Universidade do Texas, EUA.

O cabra aí sabe tudo e mais um pouco sobre gestão de esportes.

Logo mais às 20h30, Siviero vai mostrar o que aprendeu ao radialista Carlos Sílvio.

Agende-se: https://www.youtube.com/channel/UCW7gLoeaKwZ9jy6c3KQjWfw 

Ps: as Paraolímpiadas 2020 começam no próximo dia 24 e se estenderão até o dia 05 de setembro. O meu treinador, Anderson Gonzaga, disse para minha tristeza que não estou preparado, quer dizer, fora de forma, sequer pra disputar a simples modalidade um "cuspe à distância".

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

EU E MEUS BOTÕES (3)

"A minha vida é um desfuturo", diz Jão com as sobrancelhas pra baixo. Eu não entendi, o que você quis dizer com isso, Jão? "O Brasil que eu amo, é um Brasil que o presidente desama".
Jão, um dos meus botões prediletos, estava em baixa. Estava triste. "Mas ele vai se levantar já, já", falou firme Zilidoro. 
O Zé, que é de poucas palavras, diz que entendia perfeitamente o que Jão estava a falar: "O que o sujeito lá do Planalto está fazendo é uma obra de matar o povo".
Os gêmeos Biu e Barrica correram a acudir Jão: "Isso tudo vai passar, você vai ver, Jão".
Lá do canto onde se achava, Mané tentou mudar de assunto: "Calma, calma. Isso tudo que ora vivemos, vai passar". Certamente, disse eu. Acrescentei: os dias brasileiros têm sido dias muito compridos, terríveis. Na política, naturalmente.
Zilidoro, filosoficamente, disse: "A CPI da Covid tá botando pra lascar. Essa CPI vai levar o negacionista Bolsonaro à cadeia".
"Na cadeia, eu tenho uns amiguinhos...", disse Lampa enigmaticamente, lambendo o seu punhal.
Aos meus ilustres botões, perguntei: O que vocês acharam do desfile dos blindados do Exército, diante do esquisito presidente?
Em uníssono, em uma bagunça total, todos responderam: "UM HORROR! UM HORROR!"
"Seu Assis, o sr. conhece uma música chamada Fumacê?", perguntou-me Zé, assanhado. "Pergunto isso porque tem tudo a ver com aquele desfile horroroso, patrocinado pelas Forças Armadas lá em Brasília, em que um tanque se dissolvia em fumaça. Triste e trágico". Eu disse hmmm... E Zé: "Eu gostaria de ouvir essa música e compartilha-la com o povo do meu povo."
Então tá...

MARGARIDA É LIBERDADE

Conterrânea do cantor e compositor paraibano Jackson do Pandeiro, Margarida Maria Alves nasceu no dia da fundação da Paraíba: 5 de agosto.
Margarida foi uma mulher de força retumbante. Acreditava que só com luta era possível alcançar a liberdade. E lutou. 
No dia 12 de agosto de 1983, um bandido negacionista como Bolsonaro atirou uma bala certeira em seu rosto, enquanto uma criança filha sua brincava na calçada da casa onde morava, em Alagoa Grande, PB. Testemunhando tudo. 
A ditadura matou essa Margarida.
Margarida é liberdade.
O cantor, compositor e instrumentista Jorge Ribbas gravou um texto que eu quero que você, meu amigo e minha amiga, ouça:

 

LINDALVA CAVALCANTE DA HORA

Há seres que chegam à vida e deixam marcas, como Margarida Maria Alves. Como Tiradentes. Como Cristo.
Hoje 13 é aniversário de não sei quantos anos da paranaense Lindalva Cavalcante da Hora. Uma brasileiríssima. 
Essa Lindalva, até no nome, ensina crianças e adolescentes na favela Paraisópolis. A molecada desse lugar a adora.
Lindalva Cavalcante da Hora é resistência. É vida.
A busca pela liberdade é eterna. E isso ela busca, ensinando pessoas a serem cidadãs. 

NEGACIONISMO É PRAGA SEM CURA

O negacionismo é uma porcaria.
Os negacionistas são pessoas que transitam na vida de modo irracional. São frouxas. São pessoas que vivem fora do mundo real. Lunáticas. Pior: pessoas que vivem para prejudicar as outras. São ruins. Covardes. 
Esse tipo de pessoa existe desde tempos imemoriais.
Os negacionistas são diferentes dos ateus.
Os ateus não acreditam em Deus, os negacionistas não acreditam na verdade histórica. São contra a Ciência, por exemplo.
Giordano Bruno acreditava na teoria de Nicolau Copérnico, que acreditava na teoria de Eratóstenes.
Eratóstenes, um grego, foi o primeiro cientista a calcular a esfera terrestre. E isso quase 3 séculos a.C. Quer dizer: ele acreditava, já àquela época, que a Terra é redonda.
A teoria de Copérnico, que por pouco não o levou à fogueira, baseava-se no Heliocentrismo.
Bruno apostava todas as fichas em Copérnico. Resultado: ardeu na fogueira, no centro de Roma.
Os negacionistas são um horror. 
Os negacionistas não acreditam na Santa Inquisição, no Holocausto e tudo o mais.
O presidente Bolsonaro, um idiota num estágio mais completo, não acredita que o Brasil viveu duas décadas mergulhado na ditadura militar (1964-1985).
Os negacionistas não acreditam na realidade que lhes incomodam. E não precisamos ir muito longe para confirmar isso.
Em 1902, a varíola invadiu os corpos dos brasileiros.
Os negacionistas não acreditaram na varíola.
Em 1918, os negacionistas botaram de novo as unhinhas de fora: não acreditaram na gripe espanhola.
Os negacionistas são um horror, loucos de pedra. Irracionais. Pe-ri-go-sís-si-mos.
Galileu Galilei apostou que a Terra é redonda, como Bruno, Copérnico e Eratóstenes.
Por pouco, Galileu escapou da fogueira. Pra isso, teve que desdizer a sua teoria perante à Igreja.
Essa raça, de negacionistas, existe há muito tempo.
Não há cura para negacionistas.
E os ateus?
Eu, ein?

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

COVID-19 MATA TARCÍSIO MEIRA

João do Rio tinha 20 e poucos anos quando tentou seguir a carreira diplomática, brecada injustamente pelo Barão do Rio Branco.
Tarcísio como Hermógenes, em
Grande Sertão: Veredas

Tarcísio Pereira de Magalhães Sobrinho tinha 20 e poucos anos quando tentou seguir a carreira diplomática, tentativa essa brecada pelas notas baixas que recebeu numa prova.
Há muitos casos de jovens que ingressaram na carreira diplomática e deram certo, como João Cabral de Melo Neto e João Guimarães Rosa.
Esses dois Joões chegaram e partiram deixando obras inigualáveis.
Esses dois Joões são orgulhos nacionais, como Tarcísio Pereira de Magalhães Sobrinho.
Ao ser reprovado pelo Itamaraty, o paulistano Tarcísio Pereira de Magalhães Sobrinho trocou o nome de batismo pelo pseudônimo Meira, Tarcísio Meira.
O ator Tarcísio Meira começou a carreira no teatro em 1955. Três anos depois, já ocupava o palco com destaque.
Em 1961 Tarcísio conheceu a gaúcha de Pelotas Nilcedes Soares e, olhos nos olhos, apaixonaram-se.
Tarcísio Meira deixou uma obra muito bonita no teatro, cinema e TV brasileiros. A Covid-19 o levou. Sua companheira Nilcedes, na arte Glória Menezes, também pegou o novo Coronavírus e permanece internada no Hospital Albert Einstein.
Em 1985, Tarcísio Meira interpretou brilhantemente o cangaceiro Hermógenes do romance Grande Sertão: Veredas.
O Itamaraty perdeu um embaixador, mas ganhou um grande ator.
O Itamaraty perdeu João do Rio, mas o Brasil ganhou nele um grande jornalista.
É a vida

COVID-19/JORNALISTAS

Até agora o maldito novo Coronavírus contaminou milhões e milhões de brasileiros.
Até agora, a maldita Covid-19 matou 278 jornalistas brasileiros. Desses, 199 até julho.
Fica o registro.
Ah! No dia 8 de agosto de 2020 escrevi e gravei o seguinte poema. Clique:

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

TINHORÃO OUVE BRAU MENDOÇA NO INSTITUTO MEMÓRIA BRASIL (IMB)

Tinhorão, Brau, Assis e Rosângela no Instituto Memória Brasil, IMB

Há uma semana o Brasil recebia a triste notícia do passamento do jornalista e historiador José Ramos Tinhorão. Pra muita gente, ele era uma pessoa inacessível, ranheta e personalista. Não era.

O meu convívio com Tinhorão foi longo. Posso dizer que ele foi o segundo jornalista que conheci em São Paulo, num ano qualquer dos 70. A seu respeito escrevi muitas matérias e fiz debates, o último em 2018, na Ação Educativa. O primeiro foi para o extinto Diário Popular, que ocupou duas páginas.

Uma das últimas vezes que Tinhorão esteve comigo, no Instituto Memória Brasil, IMB, foi no começo de 2019. Um pouco antes, o violonista Brau Mendonça e a cantora Rosângela Alves estiveram a me visitar. O resultado, foi um belo papo. Um trecho desse papo pode ser conferido num clique:

ANIVERSÁRIO

Ontem 10 foi um dia pra não esquecer: aniversário da menina Maria Cecília da Hora Sena Durães, que quer ser arqueóloga. A arqueologia é uma profissão que exige muita paciência de quem a abraça. Os profissionais dessa área, incluindo William Thoms são esforçadíssimos e pacientes. Fazem história da história. Foi não foi, correm notícias de que algum deles, ou alguns, descobriram pérolas enterradas há séculos, há milênios, na Paraíba, Piauí, Oriente Médio, na caixa e prego. E desse jeito, a história é reconstruída. Parabéns, Cecí!

domingo, 8 de agosto de 2021

LUÍS GAMA VIRA TEMA DE FILME

No nosso acervo, a 3ª edição de
Trovas Burlescas, de 1904

Luís Gonzaga Pinto da Gama tinha dez anos de idade quando o pai, um português branco, vendeu-o para saldar dívidas de jogo de azar. 
Oito anos depois de ser vendido como escravo, o menino Luís Gama fugiu e muito tempo depois foi reencontrado servindo o Exército. 
Estou falando de um tempo já distante, muito distante. Luís Gama nasceu em 21 de junho de 1830 e morreu em 24 de agosto de 1882. 
Não foi fácil a vida desse menino. A mãe de dele, Luísa, era uma africana livre. 
Ela e o filho moravam em Salvador. 
Foi em Salvador que Luís Gama nasceu. Logo após deixar o Exército, ele tentou estudar formalmente na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. 
Mas não conseguiu. O máximo que lhe permitiram foi assistir a aulas de modo informal. 
E assim virou rábula. E, como rábula, conseguiu a libertação de centenas de escravos. No momento, está em cartaz nos cinemas do País o filme Doutor Gama, dirigido por Jeferson De. Gama é interpretado, em três fases da sua vida, por Pedro Guilherme (criança), Ângelo Fernandes (jovem) e César Mello (adulto).
 Além de abolicionista de primeira hora, Luís Gama deixou uma obra poética de grande expressão. Pequena, mas densa. 
Em 1859, seus principais poemas foram reunidos no livro Primeiras Trovas Burlescas (Bentley Junior & Comp − foto). Raríssimo. 
Está mais do que na hora de as editoras relançarem a obra desse grande brasileiro. 
Ia me esquecendo: a mãe de Luís Gonzaga Pinto da Gama foi uma pessoa muito importante na Revolta dos Malês (1835). 
 

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