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sábado, 15 de maio de 2021

A VIDA É O QUE É



 O amigo diz:

- A situação tá braba, num tá?


Eu:

-Tá. Poderia ser mais leve, né?

Leveza por leveza é algodão.

Houve um tempo que algodão era chamado de "ouro branco", no Brasil. O café e o petróleo, de "ouro negro".

O Brasil sempre foi  um pobre país rico, abusado por tudo quanto é político. Poderosos. Mesmo assim, continua rico, mesmo com o seu povo pobre. Passando fome e até morrendo, principalmente  nestes atuais, horrorosos, de Nova Coronavírus e COVID-19. 

Há pouco o amigo chargista Fausto telefonou pra dizer da tristeza que sente  pelos rumos que seguem nossa política.

Ele:

 -Nossa esperança está nas urnas. Não votei no Bolsonaro e muitos que votaram nele certamente  estão arrependidos. Bolsonaro não é louco. O que ele não tem é sentimento para compreender e acudir as pessoas mais necessitadas do nosso país. Enfim, foi ele quem disse: "um dia todo mundo vai morrer".

Fausto é um cidadão consciente do tempo em que vive.

Ontem 14, no meio da noite, a querida cantora e compositora Anastácia, pernambucana da cepa, telefonou pra dizer da tristeza que é a Pandemia que ora está destruindo o mundo. Mas sempre levada pela otimismo que a caracteriza, contou: "acabo de gravar participação no novo disco de Sérgio Reis. Cantamos juntos Eu Só Quero Um Xodó. Foi lindo, menino!"

E pra você ver, ela continuou:"o Sérgio é bolsonarista, mas é uma pessoa maravilhosa".

Concordo plenamente. E é assim que tem que ser.

Pouco antes da desgraça pandêmica que nos ataca, recebi aqui em casa o cantor e compositor Eduardo Araújo, figura maravilhosa, também apoiador de Bolsonaro. E daí? Cada qual é cada qual e o respeito nos une.

A beleza da democracia está no fato de as pessoas sensíveis e inteligentes, respeitarem-se multuamente.

Vital Farias e Oswaldinho da Cuíca são bolsonaristas, mas isso não impede de serem meus amigos. Ora!

Horas antes de Anastácia telefonar, telefonou-me o cantor e compositor piauiense Jorge Mello.

Jorge tem uma trajetória artística muito bem construída. Ele compõe com esmero. Sabe o que diz na sua poética musical. Mas é uma poética apolítica, como apolítico é ao autor. "Onde tem política, pulo fora", diz.

Jorge, para os padrões normais, é um ser esquisito.

Jorge não escreve prefácio pra ninguém, não costuma telefonar pra ninguém, é isolado no seu canto onde mora numa chácara, em Embu-Guaçu,SP,  e nunca sentou-se numa poltrona de platéia. Quer dizer: nunca assistiu a um espetáculo de quem quer que fosse. "Eu sou de palco.Depois do show atendo em fila a quem me procura e vou embora".

Além de artista, Jorge Mello é advogado especializado em Direitos Autorais. "Vivo bem", garante.

Quando me telefonou, mostrava uma tanto emocionado. Mesmo depois de dizer que sentimento não é com ele. E declamou, declamou, declamou.

A vida é mesmo assim: a gente nasce, vive e morre.


ZURC E A CRÍTICA LITERÁRIA

Se eu fosse um voraz devorador de livros, o que não sou, diria que está faltando crítico em tudo quanto é jornal e revista.
Faltam críticos de teatro, cinema, dança, artes plásticas, música...
Crítico é uma gente que procura enxergar nas entrelinhas dos livros o que o leitor nem sempre vê. Não é fácil, mas é assim que é.
Os dois primeiros ases nessa área foram o sergipano Sílvio Romero (1851-1914) e o paraense José Veríssimo (1857-1916).
Romero era um crítico severo, exigente.
Veríssimo deixou uma obra monumental.
Os dois foram grandes.
Houve momentos em que Romero girou sua metralhadora contra Veríssimo.
Os tiros não acertaram o alvo, que se defendeu também atirando.
Ao fim e ao cabo, o Brasil culto ganhou com a briga dos dois.
E assim é que tem que ser, entre intelectuais que têm o mesmo foco: o engrandecimento do intelecto.
E seguindo o movimento natural da vida, pessoas vão e pessoas vem.
Romero e Veríssimo deixaram uma obra fabulosa, na qual refestelam-se os novos aprendizes de feiticeiros como Darlan Zurc.
O historiador contemporâneo Zurc leva à praça o livro A Fúria de Papéis Espalhados.
Nesse livro, o autor faz um mergulho na história e nos entrega algumas reflexões.
A Fúria de Papéis Espalhados, título inspirado em Machado de Assis (1839-1908), reúne duas dúzias de textos bem escritos publicados esparsamente em pequenos periódicos do interior da Bahia e outros encontráveis em livre circulação nos corredores acadêmicos, outrora frequentados pelo autor.
Chama atenção o destaque que Zurc dá a personagens do nosso meio literário, como Paulo Coelho e Olavo de Carvalho.
Coelho, diante de Carvalho, é um gênio.
Declaradamente fã do jornalista Paulo Francis (1930-1997), Zurc escreve com leveza e um quê de graça.
Nos tempos de Silvio Romero e José Veríssimo o que se lia nos jornais era poesia e romances continuados. Folhetins. Mas isso não impedia que os jornalistas daquele tempo escrevessem com firmeza e originalidade.
Eram os tempos do jornalismo literário. À propósito, João do Rio (1881-1921) deixou um livro específico sobre esse tema: O Momento Literário, publicado em 1909. Tempos aqueles em que escritores formavam opinião, como os jornalistas de hoje.
Eram jornalistas todos aqueles que escreviam em jornais.
José de Alencar (1829-1877) escreveu críticas e folhetins, como O Guarany. Obra-prima.
Machado de Assis seguia na mesma linha, publicando poemas, contos, crônicas, romances e críticas diversas.
E assim foi.
Pra falar do presente, é preciso saber do passado.
Já na virada do século XIX para o século XX, João do Rio ganhava notoriedade publicando críticas, crônicas, contos etc. O João referido foi o cara que inventou a reportagem. História.
É basilar a função de um crítico.
Darlan Zurc pode ser, quem sabe, uma luz no deserto da crítica literária nacional. Pra isso, porém, terá que direcionar seus olhos ao nosso cambaleante mercado editorial.
O livro A Fúria de Papéis Espalhados pode ser encontrado nas livrarias e no site do próprio escritor Darlan Zurc.
Confira entrevista que fiz recentemente com esse autor.

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