O pernambucano de Caruaru Miguel dos Santos é hoje o mais importante pintor e escultor-ceramista do Brasil. Seu monumento à Pedra do Reino não deixa dúvidas.
Com 8,55m de altura e toda feita em concreto, cerâmica e aço inox, a obra, batizada com o mesmo nome do romance de Ariano, foi entregue ao público em clima de festa, sexta última 9.
Isso ocorreu no Parque Sólon de Lucena, Centro da capital paraibana.
Testemunharam o acontecimento pessoas de todos os tipos e níveis, incluindo o homenageado Ariano, o prefeito de João Pessoa e o autor da obra, naturalmente.
Muitas palmas.
Justo.
Entregue com atraso de pelo menos dois anos, a obra vinha sendo gerada no berço do silêncio há sabe-se lá, antes mesmo de o filho ilustre de Taperoá chegar à casa dos 80, em 2007.
Acompanhei o processo.
Ao pensar a Pedra, Miguel pensou numa homenagem especial a Ariano.
Pensou também no que foi feito milênios antes dele e de todos nós, aqui e alhures.
Pensou nos filósofos, nos artistas que se expressaram em formas diversas no correr do tempo.
E pensando assim, não foi à toa que Miguel chegou a Aleijadinho, o mestre da pedra-sabão, e a Vitalino, o mestre do barro. Ambos criadores, como deuses.
Lembrou ainda Miguel o grego Platão, que certa vez, escancarando mistérios, disse algo como: A força do bem se refugia na natureza do belo.
E foi dessa viagem incrível que resultou o magnífico monumento que resume não só a obra de Ariano, mas a idéia de mundo e humanidade em suas múltiplas facetas e cores: Do negro, do branco, do índio...
A Pedra do Reino de Miguel dos Santos é, assim, uma espécie de memorial ouu baú de tudo, no qual se acham símbolos, marcas, pegadas do homem da caverna, sopros do homem da pedra, gestuais do homem do bronze e também do sertanejo mais forte, duro, árido, com suas crenças, medos e sonhos inabaláveis a lhes perseguir.
Na Pedra de Miguel está o tempo, representado por quatro cavalos.
Na Pedra de Miguel está a violência, representada por quatro onças aladas.
A obra à Pedra de Ariano é, além de memorial e baú de Miguel, uma espécie de refúgio derradeiro dos mortos em vida, como os tamanduás, as cascavéis e os carcarás tangidos e encurralados pelo chicote da ruindade humana.
Um ser absurdamente consciente do seu tempo, Miguel dos Santos é antes de tudo um observador da rua e crítico feroz de si próprio e da arte que faz.
O que fica é a pedra.
Viva Miguel!
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♦ O jornalista Tárik de Souza, do Jornal do Brasil, escreveu sobre o desaparecimento de Leon Barg:
“Lamentável, Assis. Leon era imprescindível para a memória musical brasileira, tão maltratada pelas gravadoras proprietárias dos fonogramas, e que nunca os reeditam. Nem sequer os conservam em arquivos como fazia o leão da Revivendo. Esperemos que a família continue sua missão estóica.
Um grande abraço e parabéns pelo seu blog”.