Perguntam-me se o Hino Nacional Brasileiro é cultura popular ou se do seu bojo faz parte.
Embora não seja exatamente isso, faz parte, sim, do nosso cancioneiro o Hino Nacional Brasileiro, que é popular no termo que se queira, ou se entenda, por estar, naturalmente, na boca do povo há mais de século e todo dia.
Na verdade, é um clássico do hinário cívico a obra do maestro Francisco Manoel da Silva, que ganhou letra do professor, poeta e critico literário Joaquim Osório Duque-Estrada, nos primeiros anos do século passado.
O hino de um país é a sua reza, a reza de um povo cantada de maneira contrita.
O nosso hino, portanto, é a nossa reza.
É um dos nossos símbolos, um símbolo da nação.
É a nossa carta Magna em verso e música.
É a nossa alma, a alma do povo brasileiro.
Porém, em termos artísticos, o Hino Nacional Brasileiro é de feitio erudito; longe, pois, do fazer cultural anônimo do país.
O que caracteriza a cultura popular é o que a expressão nos induz: qualidade e anonimato.
O nosso Hino, cujos autores são devidamente identificados, é de formato erudito a começar pela letra de Duque-Estrada, que traz claras particularidades do parnasianismo e do romantismo, escolas da literatura poética que imperou no século XIX, entre nós.
Dois versos do poema Canção do Exílio, do maranhense Gonçalves Dias, por exemplo, estão lá, lindos, na segunda parte da segunda estrofe dando forma e enriquecendo a narrativa patriótica:
Nossos bosques têm mais vida
Nossa vida no teu seio mais amores.
O nosso é, sem dúvida, um dos mais bonitos hinos do mundo todo, mesmo com um vocabulário que foge, e muito, do falar comum dos brasileiros, incluindo até os de formação média pra cima.
É constituído o Hino por 50 versos, divididos em duas partes e assim classificados: 12 decassílabos, sete tetrassílabos, dois heptassílabos, dois hendecassílabos e dois trissílabos.
Por três séculos, o Brasil esteve sem um hino que o representasse.
Na mudança do regime, em 1889, alguns apressadinhos da República engatinhante tentaram impor a Marselhesa, do francês Rouget de l´Isle, como hino do nosso país.
Pode?
Claro que não.
O marechal Deodoro sacou o barato e o cortou pela raiz, instituindo um concurso...
Curiosidade: no início do século passado, a Banda da Guarda Republicana de Paris gravou para a Casa Edison do Rio de Janeiro (leia-se Odeon) o disco nº 36454. Em ambos os lados, estava escrito: A Marselheza (com “z”).
Porém o que se ouve num dos lados (não se sabe se o A ou o B ou o 1 ou o 2) é a versão instrumental do Hino Nacional Brasileiro, em cuja metade da execução a banda pára e solta um “viva o Brasil!”.
Essa gravação não consta da discografia brasileira de discos de 78 RPM.
Mas no acervo do Instituto Memória Brasil, IMB, se acha o exemplar desse disco.
Foto: reprodução do selo do disco que se acha no acervo do IMB.