Exatos 52 anos após a publicação da impactante narrativa de Quarto de Despejo (Editora Francisco Alves, 182 págs.), de Carolina Maria de Jesus, levado à tradução em dezena e mais línguas mundo a fora, chega às livrarias brasileiras o excelente O Estranho Diário da Escritora Vira-lata (Editora Horizonte, 208 págs), de Germana Henriques Pereira de Sousa.
O livro de Germana é um mergulho analítico, sério e profundo à obra da mineira Carolina, que por muitos anos viveu do que colheu do lixo e das ruas da região Norte da capital paulista.
Após descoberta nos fins dos 50 pela sensibilidade do jornalista alagoano Audálio Dantas, Carolina Maria de Jesus alcançou o estrelato tão rápido quanto um foguete com destino à lua; e igualmente tão rápido quanto uma estrela cadente, sossobrou.
Mas ela e o que ela escreveu vivem como fenômeno literário, absolutamente independente das mídias convencionais.
É isso, aliás, o que mostra Germana Henriques Pereira de Sousa no seu maravilhosamente bem escrito e convincente, sem ranço acadêmico, O Estranho Diário da Escritora Vira-lata.
Os diários de Carolina, que somam mais de 4.500 páginas manuscritas – muitas das quais ainda inéditas –, são fortes e tão impactantes quanto os primeiros 20 volumes analisados nos 50 pela objetividade do olhar clínico do jornalista Dantas.
Quarto de Despejo, até hoje um retrato fiel do Brasil de baixo, dos deserdados da vida destes tempos modernosos, foi lançado em agosto de 1960.
E é atualíssimo, como muito corretamente indica o texto de Germana e por quem o leu.
Audálio Dantas é um bruxo.