Ontem de lua Nova desde o dia anterior, mais uma vez reunimos amigos em torno de uma feijoada para troca de considerações sobre tudo e ideias, aqui no bairro de Campos Eliseos.
O clima variável de 21 a 16 graus contribuiu para que tudo corresse bem.
O escritor Roniwalter Jatobá e o compositor/instrumentista Papete estavam especialmente inspirados, ambos falando pelos cotovelos.
Papete, considerado pela crítica especializada como um dos mais completos percursionistas do mundo, entre uma e outra birita de Minas, contou o quanto anda empolgado para participar da gravação de um disco que se chamará O Samba do Rei do Baião, que começará a ganhar forma a partir do próximo dia 18.
Pois, pois.
E foram chegando mais amigos: Darlan Ferreira com Vandré, o Paulo Benites...
As conversas se estenderam até a boca da noite.
Mas, confesso, eu nunca vi o Vandré tão triste, tão profundamente triste como ontem.
Na foto acima, da esqeurda para a direita, aparecem Papete, Darlan, Vandré, Roni e Paulo.
AUDÁLIO DANTAS Anteontem 13 o colega e amigo Audálio Dantas reuniu amigos em torno do livro As Duas Guerras de Vlado Herzog, da Perseguição Nazista na Europa à Morte sob Tortura no Brasil (Civilização Brasileira), lançado no Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo. Acho que esse é o livro definitivo sobre a trajetória e fim trágico de Vlado. À pág. 244 lê-se: No Sindicato dos Jornalistas, onde alguns diretores se mantinham de plantão desde bem cedo, o tesoureiro Wilson Gomes foi o último a sair para o enterro. Ao sair, viu que restava alguém que ele não conhecia, sentado num canto da sala da diretoria, em silêncio. Perguntou-lhe: - Você vai ficar? - Não, eu estou esperando uma carona no carro do Sindicato. - O Sindicato não tem carro, mas eu vou de táxi ao enterro. Se quiser aproveitar... O estranho mal respondeu que aceitava, mas seguiu o direotr. No táxi a caminho do cemitério, ele se manteve o tempo todo em silêncio. Wilson Gomes chegou a imaginar que se tratasse de algum agente disfarçado, mas logo atribuiu a ideia à paronoia que tomava conta da cabeça de muitos de nós naqueles dias de incerteza. Ia conversando consigo mesmo, amargando a angústia e, mais do que isso, a raiva que sentia e a impotência contra um inimigo muito grande, podereoso a ponto de matar e permanecer impune. Quando o táxi parou no portão do cemitério, Wilson nem teve tempo de se despedir do carona. Mas logo viu que ele era cercado por várias pessoas e só então ficou sabendo de quem se tratava: era Geraldo Vandré, que voltara do exílio e se recolhera a um silêncio que as multidões que haviam saído às ruas "caminhando e cantando" contra a ditadura não conseguiam entender. Vandré, que silenciara o seu canto, logo se diluira entre a pequena multidão que acompanhava o sepultamento de Vlado. Possivelmente, como muitos dos que ali estavam, derramou silenciosamente algumas lágrimas. Tristeza por tristeza, talvez a tristeza que vi ontem em Vandré seja aquela tristeza de tempos passados.