Limeira e Pinto do Monteiro eram verdadeiros mestres ensinando a todos ao compor, ao cantar e ao tocar na hora H, sempre de improviso.
Os poetas clássicos e populares, incluindo esses e outros repentistas, seguem à risca a rima, a métrica e a oração nos versos acomodados em estrofes bem feitas, de tamanhos e modos diversos.
Para eles – esses mestres –, sextilhas são sextilhas e decassílabos são decassílabos.
E pronto!
Isto é: os versos têm casa certa para morar.
A casa dos versos são as modalidades.
Porém na safra dos mais novos, como Bráulio Tavares e Jessier Quirino, há os que seguem a tradição e outros, não; como Astier Basílio e Ricardo Anísio.
São provocadores esses poetas, são eles arredios à tradição.
A poética de Anísio ainda está em fase de gestação, mesmo assim ele já demonstra com intensidade uma qualidade muito acima do comum.
É autêntico.
Ricardo Anísio dá a parecer que é arredio à rima e à métrica, enquanto se impõe com força na oração.
Nos tercetos, ele se mostra tão ousado quanto Ronaldo Cunha Lima (1936-2012).
Talvez melhor.
Um bom exemplo disso pode ser extraído de Enseada, contido no seu novo livro:
Não vejo mais meus amores
Não vejo mais meus penhores
Perdi a rota e não posso sonhar...
Estes são versos completos, perfeitos, que demonstram dor e impotência do poeta diante de realidades, quase aos moldes de mestre Augusto, rendido: “Não posso sonhar”.
E ele segue triste, decepcionado pela realidade em torno:
Dentro de mim o soçobro
Fora de mim o salobro
A morte já foi secreta...
Na busca pela identidade, o poeta se pergunta nos versos de três pés Eu:
De quem sou eu
De que sou feito
Que me exaspero
De quem sou eu
De que sou feito
Que me dilacero
A poética de Ricardo Anísio é pessoal, é bonita e tem valor, ele diz no seu Enigma:
Levei a ela um louva-deus
E meus sonhos cerzidos
Ela atirou ao mar...
Anísio é um poeta diferente, mesmo parecendo com Augusto e a angústia de Augusto:
A vida é um fardo ao mar
Um barco que não tem ré
Vou me afogando nela
Braço a braço
Talvez assim vire sargaço.
Mas Anísio é um poeta, verdadeiro, e por ser verdadeiro é tão necessário lê-lo, já.
Viva Ricardo Anísio!