O
que se pode esperar de um grupo de artistas do povo das ruas, embora experiente,
mas sem eira nem beira e nenhuma iniciação formal e curricular musical reunido
por um professor maluco, incrível, de formação erudita num espaço público em São
Paulo, a maior cidade do País e do hemisfério Sul, hein?
Nada
ou muito pouco, pode se dizer de imediato, claro.
Porém
o que vi – e ouvi - hoje mais uma vez, entre o meio-dia e às 13 horas na Praça
das Artes há pouco inaugurada ali na Avenida São João, 281, bem no centro desta
capital paulista, foi algo que dificilmente esquecerei.
Ao
lado de dois emboladores de coco geniais – Peneira e Sonhador (comigo abaixo, num especial da TV Record) – e à frente de
um sanfoneiro e de outros instrumentistas livres com prática, mas sem erudição,
um maestro compositor e arranjador importante e famoso de nome Lívio
Tragtenberg, que conheci há 30 e poucos anos em início de carreira lançando o
primeiro disco, um LP independente intitulado Ritual - hoje peça exemplar do
acervo do Instituto Memória Brasil, IMB -, fazia misérias sem batuta e sem as
formalidades que os templos de espetáculos eruditos comumente exigem.
Emocionei-me,
sim, diante da integração entre os músicos regidos pelo maestro.
O
Brasil precisa ser redescoberto, agora por nós.
Viva
Lívio Tragtenberg!
E
viva os músicos das ruas de São Paulo e a orquestra que os formam, criada por Livio!
CULTURA
EM DEBATE
Ontem
à noite estive na mesma Praça das Artes para aplaudir Antonio Nóbrega,
que cantou, dançou e fez o diabo.
que cantou, dançou e fez o diabo.
É
gênio, esse brincante (acima, num clique de Andrea Lago).
O
pretexto da apresentação do Nóbrega foi a abertura da 3ª Conferência Municipal
de Cultura do Município de São Paulo, que contou com a presença do secretário
Juca Ferreira e do prefeito Fernando Haddad, que depois de falarem brincaram e fizeram onda dançando ciranda, aqui e ali lembrando Luiz Gonzaga e Dominguinhos.
Ouvi
atentamente os dois.
E
a fala dos dois me agradou.
Juca
falou da necessidade de juntar os contrários no campo da cultura.
E
cultura é tudo, da fala aos gestos.
Haddad
falou da importância da cultura na vida das pessoas em sociedade.
Quando
ele disse isso, eu me lembrei do estudioso Luís da Câmara Cascudo, meu mestre,
que nunca deixou sem resposta qualquer pergunta que lhe fiz.
Cultura
popular?
Ora,
cultura popular – ele, Cascudo, definiu em entrevista que me deu em 1978, na
sua casa, em Natal, e que publiquei no jornal Folha de S.Paulo no ano seguinte –
“é a que vivemos, é a cultura tradicional e milenar que nós aprendemos na
convivência doméstica (...). Cultura popular é aquela que até certo ponto nós nascemos
sabendo. Qualquer um de nós é um mestre que sabe contos, mitos, lendas, versos,
superstições, que sabe fazer caretas, apertar mão, bater palmas e tudo quanto
caracteriza a cultura anônima e coletiva (de um povo)”.
A
cultura popular jamais morrerá, enquanto houver povo.
E
povo haverá sempre, pelo bem ou pelo mal.
E
eu costumo dizer: cultura popular é a digital de um povo.
Mas
discussão sempre haverá; inclusive em torno do bom gosto etc.
O
que é hip hop, por exemplo?
E
funk?
Sabemos
que hip e hop nada tem a ver conosco, como o funk.
Mas
em países dominados culturalmente, as culturas locais são sempre preteridas...
...Você
sabia que há um negócio chamado funk da ostentação?
Pois
é, aí moram perigos.
GROISMAN
No
ar, agora, na TV Globo, o grande sanfoneiro que nos resta, e gente, Oswaldinho
do Acordeon, acompanhando humildemente umas besteiras chamadas Chitãozinho e
Chororó, que nunca gravaram nada de Dominguinhos e cantaram, agora, Eu só Quero
um Xodó. Ora!