No
texto poético-musical de Chico Buarque de Holanda, o personagem Pedro, operário
da construção civil, é atropelado por um carro na contramão e morto. Quem
dirigiu o carro que o atropelou, ninguém sabe. Esse detalhe não consta do texto
poético-musical do Chico, mas é fato que a ficção e o fato caminham juntos no
mundo inteiro e em todas as línguas.
A ficção é tão forte quanto a realidade, no
mundo todo e em todas as línguas.
O
Pedro do Chico, que era pedreiro, morreu na contramão.
Morrer
na contramão muitos Pedros morrem todos os dias, em todas as cidades e em todos
os cantos.
Morrer
na contramão é fato comum.
E
morrer na linha do trem?
No
texto poético-musical do Chico, o Pedro Pedreiro morreu atropelado por um carro,
na urbe.
Nesses
dias, na urbe carioca, como na urbe do Pedro, outro operário, Adílio, foi
atravessar a linha do trem e por um trem foi atropelado e morto. E depois de
morto, foi novamente morto pelo trem que vinha atrás do trem que o matou pela
primeira vez.
Diante
da ficção e da realidade pode-se concluir que não valemos nada; sejamos nós corpos ficcionais ou reais.
O
trem matou e “rematou” um cidadão e o Primeiro Ministro da Inglaterra, David
Cameron, dizia que os imigrantes são um “enxame”.
Enxame
é inseto.
Somos,
enfim, corpos que não valem nada para o
Capitalismo.
O
trem matou, e matou de novo, o trabalhador que atravessou a linha, que não vale
nada. Não valemos nada. É isso?