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sábado, 25 de junho de 2016

SEMANA TUMULTUADA E VIVA HERMETO PASCOAL!

Os últimos sete dias foram agitados, no Brasil e no resto do mundo. No começo da semana, Cunha reuniu a imprensa para tornar verdade as suas mentiras. Isso foi em Brasília. Também em Brasília, durante a defesa de Dilma, o advogado Cardoso botou os pés pelas mãos e disse uma besteira. Na verdade, ele cometeu uma gafe infantil que levou o senador Cássio Cunha Lima a lembrar o lendário poeta repentista Zé Limeira.
Zé Limeira, chamado de O Poeta do Absurdo, era muito admirado por outro poeta, esse paulistano, Paulo Vanzolini, autor dos sambas Ronda e Volta Por Cima, imortalizados por Inezita Barroso e Noite Ilustrada.
Logo no começo da semana, o presidente pendurado da Câmara Federal, o Cunha, foi mais uma vez tornado réu pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Foi, de fato, agitada a semana que finda hoje.
A população que forma a União Europeia acordou, se é que acordou, estarrecida com o resultado do plebiscito realizado pelo governo – parlamentarista – do Reino Unido. Isso foi no último dia 23 e o resultado chocante leva os ingleses a saírem da União Europeia, que existe há mais de 60 anos.
Em Havana, Cuba, a Colômbia firmou acordo de paz com as FARC. Os guerrilheiros da FARC depõem as armas depois de mais de 50 anos. Ambos eventos são históricos, sem dúvida. Mas o plebiscito que faz os ingleses deixarem o bloco europeu é o mais importante; pois, com isso, a União Europeia pode estar registrando o início do seu fim. Tomara que não...
Ah, mais um outro grande evento ocorreu na semana que passou e pouca gente registrou: o aniversário do mestre Hermeto Pascoal. Hermeto, nascido na cidade alagoana de Olho D’Água das Flores, completou 80 anos de idade no último dia 22. E tão importante quanto a sua idade, é a quantidade de músicas que ele compôs até aqui: oito mil.

E, por falar nele, assista uma conversa que tivemos em São Paulo. Dela também participam Aline Morena e a Rainha do Baião, Carmélia Alves. Veja neste papo Hermeto explicando o que é baião. 

sábado, 18 de junho de 2016

KAFKA NO RIO SE SENTIRIA EM CASA...

O Rio de Janeiro, fevereiro e março, amanheceu em estado de calamidade pública. É novidade histórica, isso nunca aconteceu. Um horror! As balas perdidas continuam zunindo no pé-do-ouvido dos inocentes. Quer dizer, tudo anda na mesma, ou seja: a Bahia da Guanabara permanece fétida, o trânsito e pedestres seguem firmes na sua loucura descomunal. E é roubo pra cá, roubo pra lá... Kafka no Rio se sentiria em casa; e nem precisaria escrever nada pra se sentir em casa, pois o absurdo da sua ficção aparece lá como pura realidade.
Ouço no rádio que os estabelecimentos hospitalares estão a cada instante cerrando suas portas e deixando à míngua quem deles precisa. E aí é gente baleada morrendo, é gente doente sucumbindo abandonada e mulher grávida parindo na rua a cada hora do dia ou da noite. Fora isso, tem a onda “tsunâmica” de crianças e adolescentes, principalmente, abusadas no mato, favela ou no seio familiar. Aliás, estatísticas indicam que a cada duas horas uma jovem é atacada por tarados em grupo, no Rio; e nas demais partes do País, uma mulher é atacada a cada três horas. O dia tem 24 horas e façam as contas do total de mulheres sexualmente violentadas por ano. E tem ainda um pequeno detalhe: a quantidade de vítimas que deixa de denunciar à polícia os abusos sofridos, por medo ou vergonha.
Agora tem o seguinte: eu e muita gente mais ou menos informada, achamos que “estado de calamidade pública” é o estado que o governante municipal, estadual ou federal anuncia diante de uma grande catástrofe natural, por exemplo. Bom, mas pensando bem, o que acaba de ser decretado no Rio é, de fato, uma catástrofe única, original, sem precedentes. O descaso lá é histórico e contínuo, daí a justificativa para o estado de calamidade anunciado ao País. As justificativas são todas: falta de pagamento ao funcionário público, falta de recursos para manutenção dos hospitais, escolas, etc. Até a coleta de sangue nos órgãos especializados foi suspensa. É ou não é um horror o que está acontecendo no Rio de Janeiro a um mês e meio da Olimpíada? A esse estado de calamidade se acham tragédias “miúdas”, como o desabamento da ciclovia em São Conrado, causando mortes...
Os políticos, um bando enorme deles, não se envergonham de “chupar o sangue” dos contribuintes. E eles roubam, roubam... Enquanto isso, os bancos de sangue continuam escassos em todo o País. Em São Paulo mesmo. Em Salvador, Bahia, estão se distribuindo folhetos de cordel conscientizando a população a doar sangue. É uma campanha bonita essa.
Agora me vem um pensamento kafkiano: e se o Lula e a Dilma selassem um acordo de delação premiada junto a quem de direito, hein? E se isso acontecesse, quem sabe o Brasil se reencontrasse com seus pecados e seguisse o rumo da beleza gigante em benefício de si próprio e de nós todos, cidadãos trabalhadores, pacatos, que pagam em dia seus impostos para uma vida melhor?  

TRIO MARAYÁ
Mais um amigo partiu para a Eternidade. Dessa vez foi o potiguar Behring Leiros, integrante do Trio Marayá. Faz hoje uma semana que ele partiu. Quem me deu a notícia foi Lenita, agora viúva. Tinha 81 anos de idade. O trio chegou ao Rio de Janeiro no final dos anos de 1950 e pelas mãos do pernambucano Luiz Vieira, recebeu os primeiros “empurrões” na carreira. Fácil, fácil, Behring e seus companheiros Marconi Campos e Hilton Acioli, chegaram até o paraibano Geraldo Vandré e com ele desenvolveram plenamente a carreira artística. Com Vandré o trio andou por todo o Brasil e diversos países da Europa. Detalhe: o nome do trio foi um presente do estudioso da cultura popular, Luís da Câmara Cascudo (1898/1986).  
  
  
   


sexta-feira, 17 de junho de 2016

JOSÉ CORTEZ SEMEIA SONHOS POR UM NOVO PAÍS




O Brasil está pegando fogo. E, pelo jeito, muita surpresa nos alcançará, no campo da política. Do corpo ministerial de Temer, caíram os titulares das pastas do Planejamento, Transparência e Turismo. Isso dá, na média matemática, um a cada 12 dias... E tem pendurados, de cabeça pra baixo, os presidentes do Senado e da Câmara. E já há vazamentos que indicam que ambos vão encarar a tal delação premiada prevista em lei, aprovada no desgoverno da Dilma. E se isso acontecer, o que deve acontecer, aí sim: será o deus-nos-acuda, como no dito popular.

Eu tenho um amigo que me veio com uma fala interessante, interessantíssima. Imagine, meu amigo, minha amiga, ele sugere que se crie o contraponto do MST: o MSP, que vem a ser nada mais, nada menos, o movimento dos sem-propina.

É como diria meu amigo e conterrâneo Genival Lacerda: nóis sofre, mas nóis goza...



Sonia, Assis e Alceu (Foto: Vitor Nuzzi)

A chuva forte que molhou o chão de São Paulo no sábado 4 trouxe até a mim os professores Alceu e Sonia Chébel Mercado Sparti, pais de duas meninas e avós de quatro crianças, duas das quais gêmeas.

Em maio de 1968, quando o mundo estava pegando fogo e muita gente ficando doida, com queima de sutiã e guerra no Vietnã, Sonia integrava o Centro Acadêmico Santo Tomás de Aquino (Casta), da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, atual Universidade de Sorocaba (Uniso).

Sorocaba é uma cidade paulista, distante da capital 90 quilômetros. É terra de violeiros, como mestre Raul Torres (1906-1970), tema do novo CD do grupo paulistano Gato com Fome.

Àquela época o cantor e compositor Geraldo Vandré se achava no auge da carreira, com o LP Canto Geral. Nesse disco, encangado no pensamento do autor alemão Bertolt Brecht (1898-1956), o artista paraibano dizia na contracapa:

“Vós que vireis na crista da onda em que nos afogamos, quando falardes de nossas fraquezas pensai também no tempo sombrio a que haveis escapado”.




E o que é que tem a ver Sonia Chébel com essa história?
A Sonia, investida de sua condição de membro do Centro Acadêmico, um dia pegou o telefone e convidou Vandré a fazer uma palestra em Sorocaba. E ele foi, e de graça. Dá para pensar isso nos dias de hoje?
No livro Geraldo Vandré – Uma Canção Interrompida (editora Kuarup, 352 págs., 2015), o autor, o paulistano Vitor Nuzzi, conta um pouco dessa história registrada pela então estudante Sonia Chébel:

“O cantor e compositor falou de comunicação, de arte, do festival de 1967 (Eu cantei muito mal, disse, referindo-se a Ventania. Eu nunca canto desse jeito. Eu cantei desesperado, perdido.) E afirmou algo que repetiria meses depois ao pesquisador Zuza Homem de Mello, com outras palavras: A canção que eu canto tem um texto que eu quero dizer coisas, a canção popular é texto, antes de tudo.

E foi essa mulher, acompanhada do seu companheiro Alceu, que chegou junto com a chuva.
Ah!, e a Sonia, anos depois, ali pelo começo dos anos 1970, fez mestrado e doutorado em Psicologia da Educação na PUC. Por esse tempo, o potiguar José Cortez iniciava-se como fornecedor de livros para estudantes que nele encontravam um amigo e um apoio. Entre esses amigos, a Sonia, conhecida à época por “Sorocaba”.



José Cortez virou, com o tempo, um dos editores mais importantes e respeitados do País. É dele a editora que leva o seu nome. Nome também de uma escola pública: Escola Estadual José Xavier Cortez, localizada no extremo sul da cidade de São Paulo.

José Cortez, nordestino do Rio Grande do Norte, é uma espécie de Dom Quixote. Moderno. Ele sai constantemente por aí afora, Brasil afora, fazendo palestra e contando história de vida e de educação, não só dele. Cortez fala do Brasil de baixo, como lembra o poeta cearense Patativa do Assaré, quando falava dos nossos dois Brasis, o de cima e o de baixo.

Cortez (foto acima) semeia palavras, para dessas palavras surgir, quem sabe, o Brasil que todos nós sonhamos. O Brasil para todos, sem discriminação. O Brasil cidadão, em que todos são todos e iguais, como reza a Constituição.


DINHEIRO NO BOLSO E NO BANCO

Uma menina vítima da vida do mundo carioca, de 16 anos, caiu na boca do mundo. Não sei o nome dela e seu nome, cá no caso, não vem ao caso.
Estou tentando entender o mundo dessa menina violentada.
Vivemos a violência de um tempo que jamais eu poderia pensar que pudesse viver.
Nós todos sabemos tudo do que ocorreu lá atrás, no tempo das cruzadas.
Naquele tempo, como hoje, as pessoas eram mortas à toa. Lixo. Ninguém era de ninguém. Bastava pensar diferente da Igreja para acordar no outro mundo. E num tempo até recente, fins do século 19, as mulheres eram escravas de quem tinha mais no bolso ou no banco. Meu Deus, quanta tristeza, sofrimento e ignorância!
O tempo passa, o tempo passa, e insistimos em não entender nada. E parece que insistimos em não entender nada.
Aristóteles identificou, uns cinco séculos antes de Cristo, que existia/existe vida vegetal e vida animal, que é aquela, por exemplo, em que a onça corre em fuga quando percebe perigo à vista para se livrar do agressor.
E Aristóteles também identificou a vida dos animais humanos, que somos nós.
Aristóteles, portanto, antes de todo mundo identificou que nós, humanos, somos diferentes por saber o que pensar.
Voltemos à menina de 16 anos...
Os estupros são totais desde sempre.
Desde sempre, nos violentam de todas as formas.
O homem é violentado nos seus direitos e razões. Direitos e razões que têm a ver com tudo.
E a mulher?
E o que é que uma tempestade, um tsunami, fazem conosco?
Nós, homens e mulheres, somos, todos os dias, violentados de todas as formas.
Meu Deus, até quando?
Puxa vida...
Pessoas incríveis, da minha vida, continuam a frequentar as minhas ideias.
Agora vou falar de beber samba e dançar poesia com o trio Gato com Fome, vocês sabem o que é isso?
Pois bem, o Gato com Fome é um grupo musical que sabe o que é vida e arte.
No dia em que nós, brasileiros, entendermos que a vida é simples, tudo vai ficar melhor.
A violência está no não saber.
E o Gato com Fome chegou, como sempre chega ao Instituto Memória Brasil, tocando e cantando as coisas de Kid Morengueira, Paulinho da Viola, Zé Kéti, Osvaldinho da Cuíca, Paulo Vanzolini, Eduardo Gudin e o nosso caipira do samba Raul Torres. O Gato com Fome cantou samba, breque, moda de viola...
E, de repente, o cartunista Fausto chega...
Fausto, como outros amigos que vocês todos conhecem: Fortuna, Jaguar, Ziraldo, sei lá... E outros que fizeram parte da minha vida no tempo do Pasquim e Folhetim.
E Fausto chegou.
Nada combinado, a fala fluindo, e Fausto com sua caneta registrando cantos e pensamentos...



ANASTÁCIA

Dia desse, o apresentador do programa Pintando o 7 (Rádio Imprensa FM), Luiz Wilson, aportou aqui em casa com o argumento de que eu não poderia faltar às comemorações pelo aniversário dos 76 anos da querida Anastácia, chamada de Rainha do Forró e autora, junto com Dominguinhos, de 213 composições devidamente gravadas em LP, CD etc, incluindo Eu só Quero um Xodó e Tenho Sede. Essa música se chama no LP Refazenda, do baiano Gilberto Gil. O cantor, aliás, voltou hoje a internar-se no hospital paulistano Sírio-Libanês. E lá fomos. Anastácia, como sempre, estava maravilhosa. Lá, com ela, muita gente bonita, como a cantora Fatel. Tomei água de coco e petisquei uns camarões maravilhosos. Tim-tim. E viva Anastácia!