A
antropóloga carioca Ana Carolina marcou ontem um belo tento, ao reunir cerca de
60 artistas populares, muitos deles, de rua. Essa reunião ocorreu num prédio da
Funarte, na capital paulista.
Fazia
tempo que eu não me reunia com tantos artistas verdadeiramente populares e
criativos, como Peneira & Sonhador, Ed
Boy, Luiz Wilson, Cacá Lopes, Costa Sena, Sebastião Marinho, Moreira de
Acopiara, Zé Francisco –decano dos repentistas em São Paulo– Téo Azevedo, Marco
Haurélio, Zé Américo.
Também
compareceram à reunião, que teve por finalidade o tombamento da literatura de
cordel e da poética repentista pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional), Cristina Abreu e Malu, do CTN e produtoras da área
cultural, como Telma Queiroz. Cristina foi bastante questionada sobre o fato de
o CTN não dar a atenção devida a artistas populares. “As portas do CTN estão
abertas”, ela disse.
Representantes
do IPHAN abriram o encontro explicando o interesse de inscrever o cordel e o
repente na tábua de expressões da cultura popular brasileira, como noutras
ocasiões foi feito com o samba de roda, o frevo, o círio de Nazaré e a roda de capoeira.
O
que acho disso?
O
governo quando nada faz, faz de modo incompleto iniciativas que poderiam ficar
definitivamente marcadas para a história. Caso claro é o que se pretende fazer
com o cordel e o repente. Pra valer, mesmo, essa iniciativa poderia ser
enriquecida com uma publicação que registrasse em verbetes dados referentes aos
artistas. Um mapeamento rigoroso enriqueceria mais ainda o tombamento do cordel
e do repente como expressões autênticas da cultura popular brasileira. Mais:
concursos de cordel e de repente, de alcance nacional, patenteariam essa
iniciativa, pois tombar por tombar, não adianta.
Entre
2001 e 2003, com apoio do Metrô e da CPTM, realizamos dois concursos de
literatura de cordel em São Paulo. O resultado disso foram 410 mil folhetos distribuídos
gratuitamente às bibliotecas da rede pública de São Paulo. Antes, em 1997, presidimos
a mesa julgadora do 1º Campeonato Brasileiro de Poetas Repentistas, considerado
até hoje o mais importante do gênero em todos os tempos. A finalíssima foi realizada
no Memorial da América Latina. Cerca de uma centena de duplas de profissionais
do repente, de todo o Nordeste, participou desse festival.
O
IPHAN foi criado no governo Vargas, em 1937. O seu 1º presidente foi o advogado
mineiro Rodrigo Melo Franco de Andrade. No Conselho da instituição se achava o
paulista Mário de Andrade, desaparecido no dia 25 de fevereiro de 1945.