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sábado, 28 de maio de 2016

MATUTO, LOGO EXISTO...





Matutando cá com meus botões, indago: quem vive mais, os calhordas ou as pessoas de bem?
Ainda cá com meus botões, matuto: para o Brasil ficar bom, é preciso apostar na educação, no respeito ao próximo, na formação cidadã e na cultura popular.
Muita gente boa, das minhas relações, partiu, foi embora misturar-se às estrelas. Um dia eu chego  lá.
O meu querido Paulo Vanzolini (1924-2013), doutor em cidadania, partiu, foi-se embora. Sobre ele, eu escrevi este poeminha:

Um dos últimos encontros de Paulo e Assis, na casa do Paulo








Manezinho, no dia dos seus 80 anos







Moraes Sarmento, um dia lá em casa...











O BRASILEIRO VANZOLINI

Vanzolini foi-se embora
Rumo à eternidade
Ele deixou obra completa
E em nós muita saudade
Foi mestre, compositor,
Cantou a alegria e a dor
Com galharda liberdade

Ele lutou por igualdade
E fez da música oração
Da ciência o seu caminho
Fortaleceu-se na razão
Vanzolini foi artista
Nascido em terra paulista
Foi ele exemplar cidadão

Fez samba, toada e canção,
Leilão e Volta por Cima,
Idem Napoleão e Ronda
Foi autor de boa rima
Craque da cantiga e ciência
Estudou com paciência
Mudanças do nosso clima

Vanzolini está acima
Do banal e do rasteiro
Pela vida ele passou
Como grande brasileiro
Fez o que tinha de fazer
Sem desistir do prazer
Foi ele de fato guerreiro

Poeta do Brasil inteiro
Vanzolini soube ser
Na sua morcega vida
Como aranha foi coser
Uma bela teia pra morar
Brincar, pensar, viver, amar,
E jamais essa teia descoser

Antes de Paulo – o Vanzo, como nós próximos falávamos –, foram de encontro às estrelas Moraes Sarmento (1922-1998) e Manezinho Araújo (1910-1993). Sarmento foi um grande nome do rádio e um cidadão que valorizou tudo o que era bom. 
Manezinho, o rei da embolada, foi outro que fez o bem, a partir da sua obra musical e pictórica. Mané era um pintor primitivo, como a gente chama os artistas do pincel que pintam no gênero naîf, descoberto pelo grande cearense Aldemir Martins (1922-2006).
Foram-se embora Sarmento, Manezinho, Paulo... Mas aí Deus queria uma deusa caipira ao seu lado. Foi quando olhou pra Pedro pedindo que ele convocasse a paulistana violeira Inezita Barroso (1925-2015), porque o céu estava ficando muito monótono, acho, e assim o Brasil e todos nós perdemos; e assim foi a vez de Inezita chamar Fernando Faro e Papete, para junto com ela fazer a festa no céu.


A última vez que estive com Faro,
ele dando bola para mim na TV Cultura





Sobre Inezita, escrevi o livro “A Menina Inezita Barroso” (Cortez Editora, 2011), que abre com um poeminha que eu lhe dediquei e que Papete, com muita categoria, musicou, para nossa alegria. O poeminha é este:

                                                   A BRASILEIRA INEZITA                          

O Brasil tem muita gente
A começar pelo Sudeste
Desde Inezita Barroso
E até cabra da peste
Tem causos de Trancoso
Revividos no Nordeste

Cantar o que se canta
É uma coisa bem bonita
Que nos faz acreditar
Na riqueza infinita
Deste Brasil brasileiro
Da talentosa Inezita

Viva Inezita Barroso
Essa grande brasileira
Que por si própria se fez
Uma rainha violeira
A cantar as coisas nossas
Tal e qual uma guerreira

Pois é, os meus amigos todos estão indo embora. Estou ficando sozinho. Quem fica só é solitário, e a solidão é coisa braba.
Outro dia, um amigo me disse que, cada vez que um amigo vai embora, ele vai junto. É como se chegasse ao céu em pedaços. É, acho que tem a ver...
Depois que a Inezita partiu, partiu também o querido Fernando Faro. Sobre ele, eu também escrevi um poeminha. Este:

                                        Fernando Faro partiu.
 Foi pra eternidade.
 Foi brincar com as estrelas.
 E foi brincar de verdade!
          Fernando, “Baixo”, partiu.
         Deixando muita saudade.

        Só que saudade tanta assim
        Não é certo alguém querer.
        É saudade demasiada
       Que vai muito além do ser.
       É saudade que machuca
       E essa ninguém quer ter.

E agora vai o Papete.
Eu conheci o Papete há muitos anos. Na minha vida, ele foi presente no correr de três décadas, pelo menos.
Papete, como Belchior, frequentou a minha casa no tempo em que minha filha Clarissa engatinhava... Mas, como diz Gisele – a companheira de sempre do Papete –, “Deus sabe o que faz”.

O Papete foi embora
Deixando muita saudade
O Papete foi embora
Meus Deus, é realidade...

Uma emissora do Maranhão hoje lembrou, com muita categoria, a grandeza de Papete; Papete, aliás, é o apelido que deu a ele Aldemir Martins.




Gisele ficou o tempo todo ao lado do seu companheiro, enfrentando as intempéries que a vida nos brinda. Ele foi, ela fica, como exemplo de dedicação ao outro.
Agora, cá com meus botões, eu fico pensando: essas pessoas queridas, que nos deixaram sem previamente avisar, devem estar fazendo festa no céu. Ficamos mais pobres, é claro, mas o céu ficou mais rico. Aliás, este é um pensamento de um grande amigo jornalista, de nome Vitor Nuzzi.
Os bons pensamentos, as boas ideias, o bom do bem-bom, têm de ser compartilhados.
A propósito, na Internet, no seu instrumento Facebook, as pessoas curtem, curtem, curtem... Poxa, além de curtir por que não opinam, não falam, não dizem o que pensam? É tão bom pensar...
E eu, cá com meus botões, matuto pensando que o Brasil pode melhorar, pode ficar bom, com gente que pensa e que vive educação.