Marco Haurélio, Klévisson Viana, Assis Ângelo, Lucinda Marques e Crispiniano Neto na noite de entrega do Troféu Joseph Luyten, na Bienal Internacional do Livro |
Ontem a noite, a
Câmara Cearense do Livros, CCL, através de Lucinda Maria Marques, concedeu-me o
troféu Joseph Luyten. Gostei. O pretexto foi eu gostar da cultura popular.
Brasileira, principalmente. Flores em vida. O mesmo troféu foi compartilhado com Audálio
Dantas, Jô Oliveira, Bule-Bule, Sebastião Marinho, Chico Pedrosa, Geraldo Amâncio,
José Cortez, entre outros. Cortez é ícone dos editores brasileiros. Quando o
seu nome foi anunciado, o Anhembi pareceu desmoronar em aplausos.
Pois bem, foi
bonita a festa, pá.
Eu disse um
monte de coisas e até declamei um poema que fiz em lembrança à grandeza poética
do cearense Cego Aderaldo.
Na última quarta
(30), desenvolvi palestra sobre cultura popular na Bienal.
Muita gente
bonita, muitos artistas incríveis reencontrei à boca da noite da quarta, 30, lá.
E ontem, 3, reencontrei outras pessoas tão incríveis como na noite da palestra.
Reencontrei Bule-Bule, Klévisson Vianna e Arievaldo, seu irmão, Rouxinol do
Rinaré, Sebastião Marinho, e tantos e tantos, incluindo o paranaense Sinval,
tocador de berrante e domador de burro bravo.
Sim, foi legal
estar mais uma vez participando, de modo mais intenso, da Bienal Internacional
do Livro, em São Paulo.
A organização
dessa 24ª Bienal estima receber 720 mil visitantes, incluindo crianças e
aborrescentes de todas as idades. Tomara que isso aconteça.
O Brasil tem uma
população que ultrapassa, segundo o IBGE, os 200 mil habitantes. Somos, porém,
uma das nações que menos lê no mundo. Não lemos nem cinco livros por ano.
Dados indicam
que pelo menos 30% da população brasileira jamais compraram um livro. Indicam
também essas pesquisas que quem lê nem sempre termina o livro, ou seja: quem lê
por partes nem sempre lê o livro inteiro. Outra coisinha: o livro mais lido no
Brasil é a bíblia.
Sim, somos um
país de analfabetos... com Jesus no coração.
BERNARDO FILHO
E agora tomo-me de
uma tristeza profunda: Bernardo Filho, ao lado de quem iniciei a carreira no
rádio, em João Pessoa (PB), partiu para a Eternidade. A informação vem de outro
grande amigo, Richardi Muniz.
Eu e o Bernardo apresentávamos
um programa chamado Bandeira 2, que era transmitido pela madrugada, ao vivo na
Rádio Correio da Paraíba. Eu tinha 19 anos e ele um pouco mais. Grande voz,
grande amigo, adeus.
Bernardo |
FERNANDO COELHO
O querido amigo,
Fernando Coelho, poeta dos maiores, está sempre com sua memória fervilhante;
tanto que traz à tona uma lembrança:
A tarde caia aborrecida naquele dia. São Paulo exalava um
frio torto. Do lado de fora, parecia do lado de dentro, tudo nublado. Eu bebia
com o meu amigo e compadre Assis Angelo no inoxidável bar Mutamba, refúgio de jornalistas
desempregados, recém contratados, bêbados letrados, e das estudantes de
Comunicação que prevaricavam com o amor, sempre pesquisando a nossa experiência
louca. Assis Angelo, um dos maiores jornalistas deste país, autor da melhor
biografia de Luiz Gonzaga, é dono de um dos mais espetaculares acervos de música
brasileira. (Ela se aproxima, com sua beleza terrível. “Não se lembra de mim,
da festa do Massao Ohno – Massao foi o mais importante editor de poesia que o
Brasil já teve, meu amigo – eu queria me jogar do Viaduto do Chá, sua poesia
não deixou”). Eu não me lembrava como a minha poesia poderia tê-la salvo, antes
e agora eu estava embriagado. Naquela tarde, tínhamos uma missão digna, eu e o
meu compadre Assis, dos mais experientes espiões da CIA: contrabandear uma dose
de conhaque Macieira para Nélson do Cavaquinho, meio acamado no Hotel Jaraguá,
vizinho do bar e do antigo Estadão, ali na esquina. A missão foi cumprida.
Bebemos mais do que Nélson. Tempos depois, Nélson morre. Eu tinha balbuciado
para ele a Flor e o Espinho, no quarto do hotel, sob o olhar complacente de
Assis. Agora, que escrevo esta lembrança, engulo o espinho.