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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O NOBEL E A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS


Quase toda hora que liguei o rádio ou a tevê hoje, ouvi falas meio nervosas de intelectuais como quê empalhados em pensamentos rococós, segundo os quais os integrantes da Academia Sueca piraram etecetera e tal  Diziam, imaginem, Bob Dylan ganhar o Nobel de Literatura!
O que é que tem a ver Bob Dylan com Geraldo Vandré e Joan Baez?
Baez começou a carreira em 1959. Tinha dezoito anos de idade, mesma idade do Dylan. Aliás, Robert Zimmerman aguentou a Baez por pouco tempo e vice versa, quer dizer: viveram pouco tempo juntos.
Em 1963, o paraibano Geraldo Vandré lançava o seu primeiro disco de 78 Rpm. Um ano antes, mais precisamente no dia 09 de julho de 1962, Dylan entrava em estúdio e gravava um de seus clássicos populares: Blowing in the Wind, que estouraria primeiramente nas paradas através do trio Peter, Paul and Mary.

A essa altura, Baez já era um nome com assento no Olimpo, precocemente.
Dylan é fanho e não canta bem, mas compõe bem; mesmo tomando para si temas do folclore da sua terra, como essa canção que fala do vento.
Acho que ele fez jus ao prêmio.
Ouço via rádio e tevê, que letra de canção não é poesia. Ora, às favas quem acha isso!
O poeta baiano Gregório de Matos, carinhosamente chamado de Boca do Inferno por sua língua ferina, tem poemas de sua autoria musicados até hoje por muita gente. Maria Alcina, por exemplo, o canta e o canta muito bem. O Boca é do séc. 17. Antes dele, também entre nós circulam poemas musicados, ou seja musicas do português Luís de Camões, que nasceu em 1524 e foi pro céu em 1580.
Fernando Pessoa, português como Camões, também tem sua obra passeando na boca das pessoas na forma de música.


Bob Dylan é conhecido no mundo todo como roqueiro, ator, compositor...Ele tem uns três ou quatro livros publicados e participou de alguns filmes pelos quais ganhou dois Oscar. Ele também ganhou o Pulitzer e vários Grammy. Meio mundo o considera um artista de esquerda. Ele nunca disse sim nem não sobre suas posições políticas. Como Vandré, aliás.
Uma vez perguntei a Joan Baez sobre, digamos, as esquisitices do Dylan. Ela desconversou rindo, e continuamos a conversa por outro viés.
Baez é um mito das esquerdas e como tal reconhecida em qualquer lugar que chegue. Eu fui responsável pelo encontro entre ela e Vandré aqui no Brasil. Um belo encontro, diga-se de passagem.
A Academia Sueca, criada em 1901, deixou de reconhecer o talento de inúmeros escritores como Tolstoi, Joyce, Paul Valéry, Luís Borges; sem falar em brasileiros merecedores da láurea como Machado de Assis, Graciliano Ramos, Gilberto Freyre, Guimarães Rosa, Augusto dos Anjos, Drummond, Bandeira...Cecília Meireles também merecia, como Lígia Fagundes Teles.
Apesar da voz, eu gosto do Dylan.
Ah! Acho essa uma boa oportunidade para os Membros da Academia Brasileira de Letras começarem a pensar em laurear os poetas da nossa música popular
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