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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

HOJE É DIA DE CORTÊZ

Hoje, o cartunista Fausto inteirou 64 anos de vida.
A data, mas não propriamente a data, fez-me lembrar o ano de 1964. No dia 25 de março daquele ano, no Rio de Janeiro, marinheiros do Brasil ficaram em pé de guerra. O motivo, pelo menos o expresso na ocasião, era que os marinheiros graduados humilhavam os marinheiros sem graduação, sem patente. De tabela, reivindicavam uma pauta que beneficiava o povo. Como a reforma agrária, por exemplo.
Foi um levante danado. Milhares e milhares de marinheiros seguiam hipnotizados a fala eletrizante do cabo Anselmo, que entraria para a história como agente infiltrado no meio marinheiro. Clique: https://www.youtube.com/watch?v=s1MbYiJz9LE

O discurso do cabo incendiou mentes e corações da marujada.
O discurso trazia a marca indelével do herói das esquerdas, Carlos Marighela.
Não é todo dia que um cartunista brasileiro faz 64 anos de vida própria. Também não é todo dia que um guerreiro da vida nordestina inteira oitent'anos de idade.
José Xavier Cortez nasceu no dia 18 de novembro de 1936. À época, o Brasil era regido pela batuta do ditador gaúcho Getúlio Vargas.
Vargas chegou ao poder após um golpe, daqueles bem grandes. Na chapa que disputava a presidência da república, estava o nome do paraibano João Pessoa, como resultado de um acerto que poria fim à política "café com leite" até então praticada por Minas e São Paulo.
A revolução de 30, que mudou o Brasil, vem desse golpe.
A manhã do dia 1º de abril de 1964 chegou surpreendendo todo o povo, de norte a sul do  País.
No Rio, José Xavier Cortêz juntava a sua voz à voz dos milhares e milhares de colegas que sofriam humilhações de superiores da Marinha, ao mesmo tempo em que aspiravam melhorias para o povo.
Como se sabe, aquele dia 1º de Abril resultaria no golpe que gerou o governo militar de consequências terríveis.
Não é todo dia que um cartunista...
O Rio de Janeiro está quebrado.
Em menos de 24 horas, dois ex governadores foram parar no xilindró.
Esta semana a Câmara Federal foi invadida por um magote de malucos gritando vivas ao juiz Sérgio Moro e palavras de ordem a favor do militarismo. Uma loucura!
Também nesta semana funcionários públicos foram às ruas do Rio para reivindicar a manutenção dos seus direitos. Para acalmar os ânimos da rude plebe, a polícia foi convocada: Surpresa: Policiais da tropa de choque arriaram as armas e desertaram.
No dia 25 de março de 1964, algo parecido ocorreu: O alto comando da Marinha destacou forças para sufocar a revolta dos marinheiros. Surpresa: Não foram poucos os marinheiros, convocados para a tarefa, que desertaram...Só que naquele tempo não havia tanta ladroagem como hoje, e em todas as esferas; na Marinha, inclusive. Não à toa, e para ilustrar a história, está preso, por corrupção, o vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva. A ver com energia nuclear. Preso em Operação Lava Jato.
Cerca de dois mil marinheiros liderados por cabo Anselmo foram expulsos da marinha, entre os quais José Xavier Cortêz.
José Cortêz, como abreviadamente todo mundo conhece, dá nome a uma das mais importantes e resistentes editoras do País. E também a uma escola pública localizada no extremo sul de São Paulo. Hoje Cortêz faz 80 anos.
Sem exagero, digo que José Xavier Cortêz tornou-se um símbolo da educação e da cidadania brasileiras. É um cabra que anda Brasil afora contando suas experiências, suas histórias e a história do Brasil que ele tanto ama, e essas falas chamadas de Rodas de Conversa são feitas em escolas, faculdades e feiras de livros.
A Cortêz editora foi criada em 1985. O primeiro livro publicado por ela foi Metodologia do Trabalho Científico, de Antonio Joaquim Severino. Curiosidade: o primeiro livro que o fundador da editora leu foi Vidas Secas, do alagoano Graciliano Ramos. Esse livro foi lançado à praça em 1938.


Viva José Cortêz!