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terça-feira, 21 de novembro de 2017

VIVA O SABER E MARCO HAURÉLIO

Quando todos nós entendermos que na história fria do tempo a fantasia e sonhos, sonhos e fantasias, o real fica mais leve antes de virar história, ou depois.

O poeta, antes de criador, é inventor d e si e do seu tempo.

A história mostra isso, mas pé preciso sensibilidade para perceber isso.

Quem foi o primeiro poeta do mundo, da história?

Há muitas e muitas interrogações, perguntas sem resposta.

Homero existiu?

Augusto dos anjos, que foi conhecer a Eternidade quando tinha 30 anos de idade, deixou sua impressão, marcante, sobre o viver e o morrer.

Entenda-se a morte como vida, na obra dele.

E aí hoje chegou-me à casa o querido Marco Haurélio, trazendo, como sempre, muitas histórias.
Histórias frias do tempo e história que o tempo fantasia, ou nós fantasiamos. Pois bem, através dele tomo conhecimento de um poeta rio-grandense do norte chamado Antônio Damasceno (1902-1947).
Damasceno foi, e ainda é, um desses grandes poetas que o Brasil esqueceu. Ele, nos seus poemas, falava com muita propriedade e uma certa razinzice sobre o comportamento humano, sobre a vida humana. Palavras chulas que usava na sua obra desnudam a formalidade hipócrita dos dias de sempre. É dele, por exemplo, Tudo é merda:

O mundo é simplesmente merda pura
E a própria vida é merda engarrafada;
Em tudo vive a merda derramada,
Quer seja misturada ou sem mistura.

É merda o mal, o bem merda em tintura,
A glória é merda apenas e mais nada.
A honra é merda e merda bem cagada;
É merda o amor, é merda a formosura.

É merda e merda rala a inteligência!
De merda viva é feita a consciência,
É merda o coração, merda o saber.

Feita de merda é toda a humanidade,
E tanta merda a pobre terra invade
Que um soneto de merda eu quis fazer.

Damasceno morreu sem nenhum reconhecimento público. No seu tempo, era bastante conhecido na cidade onde nasceu, Natal. O que lemos acima, é um soneto. Esse tipo de poesia era muito comum no século até a metade do século seguinte. É, digamos, um estilo poético não muito praticado. Mas, aqui e ali, há um poeta desgarrado a poetar no modo soneto; um estilo poético italiano...

Bom, Marco Haurélio é um desses desgarrados poetas que se divertem com categoria desenvolvendo poemas em quartetos e tercetos, isto é, sonetos.

O Marco, fico sabendo agora, que está em vias de publicar o seu primeiro livro reunindo um monte de sonetos. Aguardemos, né?

Marco Haurélio é um dos mais prolíficos poetas brasileiros da altura dos seus 43 anos de idade uns 40 livros.  E uma coisa legal é que o Marco tem buscado na história obras de Shakespeare, Alexandre Dumas e José de Alencar e, ao seu modo, traduzido, as adaptado, para o público de hoje.

A conversa hoje com Marco girou, como sempre, sobre temas os mais diversos, e um assunto só: cultura brasileira da dita erudita à popular. Além de Damasceno, falamos sobre Augusto, Nietzsche, J. Borges, José Saramago, Jota Barros, Sebastião Marinho, João Filho Salatiel Silva, Manoel D’Almeida Filho, Leandro Gomes de Barros, Patativa do Assaré, Klévisson Viana, Wagner, Mozart, Salieri, Bizet, Ariano Suassuna, Audálio Dantas, Luiz Gonzaga e Bárbara Alencar, avó do grande José de Alencar.

Tanta coisa pra dizer...
Ah! E fiquei sabendo, e isso não é fofoca, que a comadre Lucélia está enveredando pelo mundo da xilogravura.

Que maravilha!