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terça-feira, 23 de outubro de 2018

A LIBERDADE É FILHA DA DEMOCRACIA

"Estou cada dia mais desconsolada com a proximidade das eleições e os destinos próximos do meu País, o desalento vai tomando tudo e não resta mais esperança, a ignorância venceu, com toda a sua brutalidade".
O desencontro de ideias não é algo original no mundo. Desde sempre. E isso não tem nada a ver com analfabetismo. Tanto que países da Europa estão se engraçando da ideologia política de direita. Direita extrema. Extremista. Mas tem, também o radicalismo de esquerda. 
Stalin fez o que fez nos primeiros anos do século 20.
E aí tivemos o Franco, Hitler, Mussolini; na África Idi Amin Dada. Por aqui, na periferia de nuestra América tivemos Pinoche, Videla...
Na história do Brasil, depois do Império, tivemos 4 marechais como presidentes do Brasil: Deodoro, Floriano, Hermes e Dutra. Detalhe: Dutra chancelou a mais importante Carta do Brasil, em 1946.
Depois dos marechais, tivemos 5 generais...Agora temos um capitão de reserva.
Precisamos estar atentos, sempre, ao porvir.
Bolsonaro vai ganhar, mas não com voto meu.
Na esfera estadual paulista, o jogo está empatado tecnicamente entre Dória e França. 
As cabeças pensantes, aquelas de livre pensamento, certamente não votarão num mentiroso e oportunista traidor, Dória.
Mas meus amigos, minhas amigas, não podemos brigar com pessoas que pensam diferentemente da gente.
A liberdade é filha da Democracia.
Ah! O pensamento -desabafo- aí em cima é de uma amiga muito querida, Cris Alves, assino embaixo.
Mais uma coisinha só: os candidatos a cargos majoritários, no caso Governo do estado e Presidência da República, deveriam expor seus projetos de governo e não atacar pura e simplesmente um ao outro com balas verbais terrivelmente mortais.
Domingo que vem, 28, vestirei a minha melhor roupa e usarei o meu melhor perfume para votar em nome da liberdade, do porvir, do futuro dos meus filhos e netos.
O PT está correndo risco de perder por não aceitar os seus erros. Todos erram. Se não fosse assim não seríamos humanos. Paz, paz, paz...




TUDO É POLÍTICA!

Assis Angelo, Téo Azevedo, Marco Haurélio e Luciano Pacco

Tudo é política.
Ouvi essa definição absolutamente perfeita do cordelista e estudioso da cultura popular Marco Haurélio.
Perfeito: tudo é política. Aliás, o dramaturgo alemão Bertold Brecht dizia algo parecido.
Como parecido também disse Aristóteles: o homem é um animal político.
Esse algo parecido tinha, e tem, a ver com o nosso dia a dia, em todos os tempos. E em qualquer luar.
Pois é, tudo é realmente política no nosso cotidiano, em qualquer cotidiano, em qualquer parte do mundo.
Em todos os lugares, há, hoje, politicamente “esquerda” e “direita”.
O continente africano é riquíssimo. Em todos os sentidos. Lá surgiram maravilhas e desgraças, como maluco ditador Idi Amim Dadá.
O Brasil nunca foi um país politicamente de esquerda.
O primeiro presidente do Brasil foi um marechal, Deodoro. O segundo, outro marechal, Floriano: Floriano. Depois desses dois militares, veio um civil: Prudente de Moraes, linha dura.
O tempo passou, livre e célere.
Não custa lembrar que a primeira constituição do Brasil, de 1824, foi quase toda escrita por José Bonifácio.
A segunda constituição brasileira, de 1891, também foi praticamente escrita por um civil, Ruy Barbosa.
Ruy Barbosa, aliás, concorreu à presidência da república duas vezes. Perdeu as duas. A segunda, para o marechal Hermes da Fonseca. E os generais na presidência da República brasileira continuaram a se fazer presentes. Em 1946, o Brasil foi presidido por Eurico Gaspar Dutra. Depois vieram os generais que assumiram o poder em 1964. Os civis, poderosos, dando total apoio, ao tempo que hoje a História registra como ditadura. E Brava, bravíssima. Com muitos mortos e desaparecidos. Tortura etc. Um detalhe: em 1922, o presidente o presidente paraibano Epitácio Pessoa mandou prender o presidente Hermes da Fonseca.

Assis – Marco, o que eu acabei de falar, faltou algo a acrescentar?

Marco – Você falou quase tudo,
Fez um incrível resumo.
De generais a civis,
O Brasil perdeu o rumo,
Ricos cada vez mais ricos
E o povo levando fumo.

A – O Brasil está encurralado. Nunca nós brasileiros sofremos tanto para escolher o nosso destino. O Brasil está com ódio; ódio do PT. O que você tem a dizer sobre isso?

M – O ódio é mau conselheiro,
É inimigo da paz.
É parceiro da injustiça
E muitos estragos traz,
Pois, em nome de Jesus,
Pode eleger Satanás.

A – Pelo histórico que delineei na abertura dessa conversa, ficou claro que o Brasil não é e nunca foi um estado politicamente de esquerda. A propósito, a esquerda e a direita, como definições políticas, surgiram na segunda parte do século XVII, na França. A tomada da bastilha foi o ponto. Você discorda ou não. Diga pra nós o que é esquerda e direita no Brasil e no mundo. E o que bem ou o mal que a esquerda ou a direita podem fazer a um país.

M – Esquerda é luta de classes,
Direita é o capital.
A esquerda é socialista,
A direita é liberal.
E ambas podem nos trazer
O bem e também o mal.

Qualquer regime que pune
A mulher, o proletário,
Desrespeita as diferenças,
Com furor autoritário,
Merece a reprovação
Do espírito libertário.


A-     O Brasil está polarizado. De um lado a “esquerda” Haddad. Do outro a “direita” Bolsonaro. Poderemos ter bom futuro com um ou outro lado?

M – Haddad vem de um partido
Que fez a transformação,
Mas também se lambuzou
Na lama do mensalão,
E frustrou a esperança
Dos pobres desta nação.

Bolsonaro é um boçal,
Ex-militar elitista,
Deputado sem projeto,
Homofóbico, racista,
Admirador de Hitler,
Intolerante, golpista.

Nenhum dos dois representa
Meu projeto de país,
Mas indo prefiro Haddad
Nesse momento infeliz,
Pois da triste ditadura
Não fechou a cicatriz.

A – A falta da mea-culpa pesou no voto odioso contra o PT.

M – A mea-culpa pesou,
Eu disso tenho certeza,
Mas também vejo pessoas
De perversa natureza,
Ameaçando e matando,
Com desmedida torpeza.

O PT errou demais,
Em mais de um triste episódio,
Mas isso não justifica
Todo um discurso de ódio
Que faz de um ser dito humano
Algo menor que plasmódio.

A – Filhos brigam com pais, amigos brigam com amigos, em nomes de uma política quebrada, partidária e pessoal mais das vezes... Vale brigar dessa forma? Política não pode unir?

M – Discutir é salutar,
Discordar, essencial,
O problema é que o país,
Possuído pelo mal,
Atira muitas pessoas
No fundo do lodaçal.

Um sombra coletiva
Turva mentes antes calmas,
Pessoas, perdendo o senso,
Ao fascismo bate palmas;
Querem tolher nossos passos
E governar nossas almas.

Quem não consegue entender
O porquê do cataclismo
Cede à noite, perde a paz,
Se veste de despotismo
E, imaginando-se livre,
Faz da existência um abismo.

A – O Brasil teve quatro marechais presidentes e cinco generais, sem contar a junta militar de 1969, iniciada no dia 30 de agosto e findo no último dia de outubro. Dois meses, portanto. No mundo inteiro, desde tempos d’antanho, houve ditadores de esquerda e de direita como tal entendemos: Stálin, Franco, Hitler, Mussolini, Salazar, Videla, Pinochet, Stroessner... Marco, você acha que os eleitores do Bolsonaro têm consciência de que os eleitores de Bolsonaro têm ideia do que representa uma ditadura de direita ou de esquerda?

M – Eu seria muito injusto,
Se, na atual conjuntura,
Dissesse que os eleitores
Dessa nefasta figura
Em sua totalidade
Glorifica a ditadura.

Mas, infelizmente, muitos,
Desprezando a liberdade,
Os direitos conquistados,
A santa lei da vontade,
Berram alto: “Tradição,
Família e propriedade”.

A – No correr do primeiro turno e também do segundo turno, o eleitor ficou alheio às propostas dos candidatos à presidência da República. O que se viu e se ouviu foi o disparar de uma metralhadora verbal, impiedosa contra um e contra outro candidato. No segundo turno, ambos se matando, e nós, povo, torcendo feito bestas num Fla-Flu. Nenhum candidato à presidência da República falou sobre cultura popular, cultura brasileira, literatura, dança, nada. Isso é triste, não é? A cultura popular é a identidade de um povo, eu disse isso uma vez em entrevista a um jornal do Piauí. A Dilma disse isso, trocando “identidade” por “alma”. Tudo bem. Sem problema. O diacho é não apostar na arte e no artista brasileiros. Lembra aquela frase, Marco, “O melhor do Brasil é o Brasileiro”? Essa frase é do Câmara Cascudo, que o PT usou sem dar crédito. O Brasil é dos Brasileiros e não adianta Bolsonaro namorar com Trump, bater continência pra bandeira dos EUA. O futuro que se delineia diante de nós é um futuro perigoso. Cabeça que pensa que pensa bem não pode votar nem em Bolsonaro nem em dória para governador do estado mais importante do Brasil. Por que os políticos não falam claramente sobre educação, saúde e cultura, essas noções básicas da vida humana? Saneamento básico, então... Qual a importância das artes para um país?

M – Um país que fecha os olhos
À cultura, educação,
Que não investe em ciência,
Desde a tenra formação
Pode até pensar que é grande,
Mas nunca será nação.

Em países como a França
Há pesado investimento
Em cultura, e isso reflete
Num bonito movimento.
A arte embeleza a vida
Em todo e qualquer momento.

Um país que glorifica
Um monstro torturador
E despreza Paulo Freire,
Seu maior educador,
Demonstra que a educação
Tem pouco ou nenhum valor.

Um país que deu ao mundo,
Sivuca, Luís Gonzaga,
Jorge Amado, Guimarães,
Tem, sim, uma linda saga,
Que nem mesmo a ditadura,
Com seus gendarmes, apaga.

Imagine se tivéssemos
O orçamento da França,
A educação da Suécia,
Cinema, teatro e dança
Seriam flores colhidas
No canteiro da esperança.

Pois, tá. Terminou esta foi a segunda entrevista que eu fiz com o cordelista e estudioso da cultura popular Marco Haurélio, baiano de nascimento e universal por conhecimento. Marco é um desses seres que nasceram para pensar, para viver, para brincar, para cantar, para contar histórias, para dizer coisas que desconhecemos. Não é exagero: Marco já nasceu grande. E continuará se agigantando e dividindo seus conhecimento conosco. Ele é de esquerda, de direita, de centro? Marco pensa. E se pensássemos com o Marco, talvez não tivéssemos Bolsonaro como presidente. Marco veio hoje, mais uma vez, em casa, e aqui ele reencontrou o grande cantador, cordelista, poeta, violeiro Téo Azevedo, que trouxe consigo outro violeiro: Luciano Pacco, cantador, violeiro, poeta mineiro de Fruta de Leite. O Brasil e brasileiros precisam pensar, aposta na vida e nas artes.

 Meu amigo, minha amiga, se você gostou desse texto, passe pra frente. Ele foi escrito no tempo que você acaba de lê-lo. 

Ah! Ia me esquecendo: ontem 22, à noite, o nordestino do Rio Grande do Norte José Xavier Cortez foi convidados por artistas e intelectuais a apresentar um calhamaço com milhares e milhares e milhares de assinaturas pela democracia. Haddad recebeu esse apoio, e, na ocasião, referindo-se a Bolsonaro como "soldadinho de araque". E o que dizer do filho de um candidato a presidente da república que afirma bastar um cabo e um soldado para fechar o STF. 

E não custa lembrar que essa coisa é antiga e feia. Ouçam esta canção do grande Jackson do Pandeiro.