Desde sempre, o Brasil tem sido uma tragédia. Melhor: tragédias
previstas, anunciadas.
A história do Brasil é recheada de grandes tragédias ambientais,
inclusive. Minas Gerais, especialmente, tem se mostrado uma bomba relógio.
Em 2003, barragem estourou e fez enormes estragos em Cataguases, MG.
Também em Minas, em 2007, foi a vez de a população de Miraí sofrer as
consequências do estouro de outra barragem que espalhou pelo menos 2 milhões de
metros cúbicos de rejeitos. E o que fez o governo? E os horrores que a
população de Mariana enfrentou em 2015, hein? Agora é o que se vê em Brumadinho:
um horror dos horrores, descaso, impunidade e irresponsabilidade de quem
poderia dar exemplo e não dá.
A Vale do Rio Doce continua faturando e muito com a exploração de
minérios. E dos mineiros.
Somente em 2018, essa gigante mineradora faturou 17,6 bilhões de
dólares. Já os trabalhadores, nada.
Em 1984, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
publicou no jornal Cometa Itabirano o poeminha abaixo:
I
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
II
Entre estatais
E multinacionais,
E multinacionais,
Quantos ais!
III
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
A dívida externa
A dívida eterna.
IV
Quantas toneladas
exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
Drummond foi um dos mais brilhantes e sensíveis poetas da
vida brasileira. Nunca recebeu o Nobel de literatura, embora por merecimento
tenha sido indicado mais de uma vez. Eu o entrevistei duas vezes (Folhetim,
FSP), antes de ele completar 80 anos de idade. Era uma figura doce, dulcíssima.
Perguntei-lhe uma vez se havia gravado poemas seus em disco. Ele riu e disse
que sim, em 1958. E outros mais como se vê ai na foto.
Todas as gravações de Drummond se encontram no acervo do
Instituto Memória Brasil, IMB, inclusive o primeiro disco da série iniciada
pelos produtores Irineu Garcia e Carlos Ribeiro em que aparece os três
primeiros poemas gravados na voz do próprio Drummond. Esse disco, de dez
polegadas, foi dividido com o poeta pernambucano Manoel Bandeira (1886-1968).