Páginas

segunda-feira, 13 de maio de 2019

O CHORO É NEGRO



Anotem ai: 46,7% dos brasileiros são pardos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. 
O IBGE diz também que 44,2 % são brancos, 8,2% negros, 0,9% amarelos ou indígenas.

Os negros fincaram raízes profundas no Brasil. São parte importante da história do Brasil. A atuação deles está registrada por historiadores e por eles mesmos, em livros. Estão na música, na literatura, no cinema, na dança, em todo canto, menos na cadeira de presidente da República.
O pai do choro, Joaquim Antônio da Silva Callado, era negro como negro eram também o flautista Pattápio Silva, Pixinguinha, Anacleto de Medeiros, Wilson Batista, Cartola, Geraldo Filme, Clementina de Jesus, Itamar Assumpção, Arnaldo Xavier e tantos e tantos.
Historicamente, o choro foi o nosso primeiro ritmo urbano.
José do Patrocínio foi importantíssimo como avalista da abolição como o poeta Luiz Gama.
Na poesia repentista não dá para esquecer Zé Vicente da Paraíba e seu parceiro Aristo José dos Santos (LP a cima).
E Lima Barreto, hein?
E Grande Otelo?
O repertório musical sobre o negro no Brasil é vasto, com títulos marcantes, feito na maioria por compositores brancos e pardos: Lamento Negro (Constantino Silva/ Humberto Porto), História de um Capitão Africano (Josué Barros), Olha o Jeito Desse Negro (Custódio Mesquita/ Evaldo Ruy), Mãe Preta (D.A. Ferreira/ D. P. Silveira), Geme Negro (Synval Silva/ Ataulpho Alves), Terra Seca (Ary Barroso), Fuga da África (Luiz Gonzaga), Funeral de um Rei Nagô (Hekel Tavares/ Murilo Araújo).
Detalhe: os índios já ocuparam 100% do território brasileiro e hoje eles são, segundo dados de 2017 publicados pelo IBGE, apenas 0,9% ocupando um pedacinho de nada das terras do País. Quanto aos negros, ainda segundo o IBGE são 8,2% de uma população calculada em 210 milhões de habitantes. Em suma: somos negros e brancos pobres escravos num país ainda preconceituoso sob vários  aspectos do correr cotidiano.
Mário de Andrade escreveu Garoa de Meu São Paulo que fala de branco e de negro, de negro e de branco. Ouçam esse poema na voz de Antônio Abujamra.


LIMA BARRETO

O jornalista, romancista e contista fluminense Afonso Henriques de Lima Barreto era descendente de escravo e sofreu muito na vida. Perdeu a mãe quando tinha 7 anos de idade. Logo depois o pai ficou doido mas o filho já grande não o internou em manicômio. Segurou a barra. Anos depois era a vez do próprio Lima Barreto, depois de escrever significativa obra, perder o juízo e morrer. Foi internado uma ou duas vezes. Ele nasceu no dia 13 de maio de 1881 e morreu, pobre, no dia 1 de novembro de 1922. Era moderníssimo na literatura, precursor da Semana de que não participou. A Semana famosa ocorreu em fevereiro, no Theatro Municipal de São Paulo. Lima Barreto é autor de clássicos como O Homem que Sabia Javanês (1911) e Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915).
Lima foi um dos primeiros autores negros a abordar com senso crítico a questão dos negros no Brasil. Ele não gostava de futebol e muito pouco de música. Vale sempre a pena lê-lo.
Em 1982, a escola de samba Unidos da Tijuca o homenageou. Ouça: