Neste ano de 2020, não vivemos a primeira pandemia.
Em 1918, o Brasil foi sacudido pela Gripe Espanhola.
Ninguém acreditou que aquela gripe poderia matar tanta gente. E matou. E
contaminou também, muita gente que conseguiu escapar.
Luís da Câmara Cascudo e o seu pai, Francisco Justino, foram
contaminados. Mas escaparam.
Meu amigo, minha amiga: você já ouviu falar em Cascudo?
Esse Cascudo foi o mais importante estudioso da cultura popular
brasileira.
A primeira vez que estive com ele foi em dezembro de 1978, na sua casa
em Natal, RN. No janeiro seguinte, publiquei entrevista na qual ele falava
sobre a condição dos primeiros habitantes do nosso País, os índios.
A grandeza desse brasileiro é possível medir pelas respostas às
perguntas que lhe fiz.
À Luís da Câmara Cascudo perguntei, por exemplo, sobre a condição dos
nossos índios. Leia:
Os índios são os donos da casa. Nas minhas pesquisas eu
tive o maior contato com eles. Sou um apaixonado por eles. O mal é torná-los brasileiros
sem ajudá-los ao momento presente em que eles largam as malocas amazônicas e
mato-grossense e vão pra Brasília ser funcionários públicos... O desmatamento
da Amazônia para salvar a nossa dívida externa faz me lembrar do sujeito que
vendeu o automóvel para comprar gasolina... Nós vendemos a mata, meu filho, e
ficamos com outro problema. Não teremos mais a divida externa, mas teremos o
problema de uma região mista sem mata. Vem a erosão, vem a terra que não
produz, vem a mudança do clima...
Que contribuição o senhor acredita ter dado ao Brasil, ao povo
brasileiro?
Eu dei ao meu país uma bibliografia leal e legítima, porque não foi feita
de imaginação e de livros, mas do contato direto com o povo. Com a legitimidade
do apurado, com a confissão e a contribuição de um pesquisador direto, levando
aos quadros brasileiros os elementos fundamentais da sua marcha para o
progresso.
O que é cultura popular?
Cultura popular é a que vivemos. É a cultura tradicional e milenar que
nós aprendemos na convivência doméstica...
Leia a entrevista completa que eu publiquei no dia 7 de janeiro de 1979,
no extinto suplemento dominical Folhetim (Folha):