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sexta-feira, 9 de outubro de 2020

MARIO ZAN, 100 ANOS

Eu conheci o sanfoneiro Mario Zan num ano qualquer dos 80.
Mario, de batismo Mario Giovanni Zandomeneghi, nasceu no dia 9 de outubro de 1920, numa cidadezinha italiana de nome Roncade, que fia na região de Vêneto. Chegou ao Brasil ainda muito pequeno, com um ou dois anos de idade. Na capital paulista, fez carreira como compositor e sanfoneiro.
No decorrer da carreira profissional, Mario Zan gravou centenas de músicas. Muitas delas, de sua autoria. O seu maior sucesso foi o dobrado Quarto Centenário, que compôs em parceria com o português João Manoel Alves (J.M Alves). Mario Zan morreu no dia 9 de novembro de 2006.
J. M Alves, que tinha como principal profissão a de militar, morreu na cidade paulista de Guarulhos.
Era muito vaidoso, o Mario. E engraçado. Bom de papo e muito namorador. No meio artístico o chamavam de galã e garanhão. Casado, deixou 5 filhos. Entre os filhos a cantora Mariângela.
Suas primeiras gravações foram feitas ainda na primeira parte dos anos 40.
É de 1954, o dobrado Quarto Centenário. Ouça, na voz de Carlos Galhardo:


Leia mais: https://assisangelo.blogspot.com/2012/11/mario-zan-puc-e-mackenzie.html
https://assisangelo.blogspot.com/2020/01/sao-paulo-cidade-mais-cantada-do-mundo.html
https://assisangelo.blogspot.com/2017/08/a-memoria-de-uma-cidade-pela-musica.html

 


O POPULAR E O ERUDITO EM ELOMAR


Ouvi recentemente o papa Francisco fazer referência a um poema do nosso Vinicius de Morais (1913-80). Mais precisamente, falou o papa do Samba da Bênção, na parte que diz: “A vida é arte do encontro / Embora haja tanto desencontro pela vida...”.
A lembrança de Vinicius lembrou-me de Elomar Figueira Mello, cantador das quebradas do Reino Encantado do Rio Gavião.
Em 1973, Vinicius endossou com um belo texto de contracapa o primeiro LP de Elomar. Esse disco, uma raridade, é de uma beleza ofuscante. Clique: https://www.mpbnet.com.br/musicos/elomar/
Vinicius chama Elomar de menestrel.
Menestrel era o nome dado aos declamadores de poesias alheias. Elomar é mais do que isso, é trovador.
Trovador era como se chamava o declamador que escrevia seus próprios poemas. É isso: Elomar é a mistura de menestrel e trovador.
O menestrel e o trovador surgiram ali pelos fins do século 11, na Península Ibérica. O trovadorismo foi um movimento surgido entre poetas improvisadores e de bancada. A ver com cordel, cordelismo ( https://anovademocracia.com.br/no-12/1048-uma-breve-historia-do-cordel).
Não será exagero dizer que o menestrel foi uma espécie de folheteiro, sem folheto.
Os trovadores escreviam em galego-português, língua procedente da Galícia, Espanha.
O nosso Elomar fala uma língua que não é, propriamente, a língua portuguesa fluente, corrente. É “sertanesa”, segundo ele mesmo diz. Mistura do falar nordestino com o arcaísmo mais antigo. Tanto que a maioria dos seus discos traz um encarte com glossário.
A estreia de Elomar Figueira Mello em disco ocorreu em 1968: o disco, um compacto simples, trazia as músicas O Violeiro e Canção da Catingueira. Independente.
Não há, nunca houve, um artista brasileiro com o perfil de Elomar Figueira Mello. É diferente em tudo. No compor, no tocar, no cantar e no próprio comportamento. É como se encarnasse as figuras do menestrel e do trovador numa pessoa só. O diferencial talvez seja o cigarro de palha muito frequente no
bico.
Elomar navega entre o popular e o erudito. O seu fazer popular é erudito.
Nascido no dia 21 de dezembro de 1937, Elomar tinha 34 anos de idade quando Vinicius escreveu a contracapa do seu primeiro LP.
Se tudo der certo e o mundo não se acabar, neste sábado (10/10), Elomar e amigos (malungos) estarão em espetáculo virtual entre 12h15 e 19h. Confira: https://www.sympla.com.br/as-guariba-encontro-de-elomar-e-malungos---vi-edicao---mao-de-prosa--exibicao-inedita-de-faviela__957621?fbclid=IwAR1QkC8EljH25sY9zi_FcRDX2CGiUr6_OS_W4U3remZpTsmQA9YUQmHekSo
O acervo do Instituto Memória Brasil (IMB) tem todos os LPS e CDs de Elomar (foto acima).


Leia mais: http://assisangelo.blogspot.com/2010/11/ainda-elomar-e-culturabrasileira.html http://assisangelo.blogspot.com/2010/11/elomar-e-sua-obra-delouvor-deus.html