Em 1977 eu já trabalhava no grupo Folha, ali na Barão de Limeira, 425, Campos Elíseos.
Comecei cobrindo a área policial ao lado de Celso, Sávio, Hipólito Oshiro, Manuel Dornéles, entre outros.
Pelo menos num dia da semana eu me achava na sede da Secretaria de Segurança Pública do Estado, ali na Higienópolis.
À época o secretário era o coronel Erasmo Dias, de triste memória.
Numa dessas idas e vindas à SSP, o secretário revelou que invadiria o campus da PUC. Ele disse isso não só a mim, mas a outros colegas que lá se achavam, como Percival de Souza e Renato Lombardi. Um ou dois dias depois, pimba!
A PUC foi invadida. E pelo menos 1500 estudantes, presos. "Calem a boca, aqui quem manda sou eu", berrava apoplético o coronel escudado por centenas de policiais armados até os dentes, enquanto bombas eram atiradas a torto e a direito. Um inferno.
Pouco mais de um ano se passou, quando procurei o coronel para uma entrevista. Dessa vez na sua casa. A princípio, ele, a mulher dele e eu. A sós. De repente ele ordena que a mulher vá buscar café pra servir o jornalista. Era noite. Fiquei quieto, cabreiro. E o papo rolou. Era sobre violência policial.
Essa entrevista junto com outras que formavam uma ampla reportagem sobre o esquadrão da morte paulista findou sendo publicada no Pasquim.
O País andava nervoso. Muitas greves, principalmente no ABC paulista.
O presidente do sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, Davi de Moraes, convence a categoria a ir à greve. Mas era preciso um consenso de maioria para que isso ocorresse.
A noite já se tinha feito naquele 17 de maio de 1979, na igreja da Consolação. Presentes, cerca de 1500 jornalistas. Não deu chorum.
Nova assembleia foi convocada e realizada na noite de 22 no tuquinha da PUC. Deu chorum.
Fomos à greve e quebramos a cara.
Muitas histórias paralelas à greve ocorreram. Histórias curiosas, engraçadas, de marinheiros de primeira viagem.
O cartunista Fausto conta uma dessas histórias vividas no decorrer da greve. Ele lembra que "eu e outros colegas fomos escalados para fazer piquete na rua de trás da Folha. De repente chega um senhorzinho baixinho, grisalho e bem vestido, portando uma pasta 007. E fomos ao seu encontro, cercando-o. A ideia era demove-lo da greve. Papo vai, papo vem, ele sempre muito simpático, disse que não concordava e que iria trabalhar. E antes que a gente voltasse à investida, ele disse: "Eu sou o Frias, dono do jornal".
Baixa o pano.