"No Brasil não deveria vegetar a planta do nepotismo", escreveu o jornalista Líbero Badaró na primeira edição do seu jornal paulistano Observador Constitucional, em outubro de 1929.
Badaró, rigoroso crítico do imperador obscurantista Pedro I, poucas horas antes de morrer teria dito: "Morre um liberal, mas não morre a liberdade".
O italiano naturalizado brasileiro Giovanni Battista Libero Badar nasceu cem anos antes da primeira repórter do País, a mineira de Juiz de Fora, Eugênia Brandão (1898-1944). O primeiro jornal impresso no Brasil foi a Gazeta do Rio de Janeiro, cujo responsável era o baiano de Salvador, Manuel Ferreira de Araújo Guimarães.
Ferreira Guimarães foi também responsável pelo jornal O Patriota, fundado em janeiro ou fevereiro de 1813 e extinto em dezembro do ano seguinte.
Era um jornal dinâmico, com notícias da atualidade e artigos científicos e de arte.
Os jornais eram publicados com periodicidades diferentes Brasil afora. Todos de pequena tiragem, até porque à época era baixíssimo o nível de pessoas alfabetizadas. Algo em torno de 3% da população. Mas pra ganhar leitores, tudo era tentado.
Tinha jornal de gracejo, jornal político, jornal econômico. De tudo.
Em 1836, o escritor francês Honoré Balzac (1799 - 1850) tornava-se pioneiro na imprensa de seu país ao publicar o que ficaria conhecido como "romance de folhetim".
Em 1838, ano da morte de Manuel Ferreira de Araújo Guimarães, Alexandre Dumas (1802 -1870) lançava quase simultaneamente na França e no Brasil o folhetim O Capitão Paulo.
O Jornal do Commércio foi o escolhido para publicar o romance de Dumas.
Folhetim era o espaço ocupado num jornal por histórias inventadas, criada por autores, como os já referidos Balzac e Dumas.
O curioso nisso tudo, e para gáudio dos editores, é que o folhetim "pegou".
O primeiro autor brasileiro a publicar "romance de folhetim" foi Joaquim Manuel de Macedo, em 1844.
O sucesso desses romances crescia à medida que os escritores tornavam-se também redatores, presença fixa nas redações.
José de Alencar, Machado de Assis e tantos e tantos escritores nacionais começaram a carreira como "folhetinistas".
Parte dessa história é contada num dos livros do jornalista e historiador José Ramos Tinhorão, Os Romances em Folhetins no Brasil (Livraria Duas Cidades, 1994).
Somente ali pelo fim do século é que os jornais começaram a virar empresas e apostar no talento de profissionais que iam às ruas em busca de notícia. O pioneiro nessa nova fase dos jornais foi o carioca João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, ou João do Rio.
João do Rio foi, a rigor, o primeiro repórter da Imprensa brasileira. E a repórter, Eugênia Brandão.
Eugênia começou na imprensa carioca em 1914.
Rapidamente ficou conhecida pelas reportagens que publicava no jornal A Rua. Entusiasmado, o editor Viriato Correia, tentou cunhar expressão "reportisa", em homenagem à repórter. Não "pegou".
A vida de Eugênia era atribulada e mais ainda depois que casou-se com o poeta Álvaro Moreyra (1888 - 1964). Sua casa era frequentada por Carlos Drummond, Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes e até Luís Carlos Prestes.
Levada ao comunismo por Carlos Lacerda, a repórter chegou a ser presa por agentes do governo Vargas, e ter como companheira de grade, Olga Benário. Mulher de Prestes.
Além de Eugênia, outras mulheres ganharam destaque ao fundar pequenos jornais e mantê-los com conteúdo de poemas e textos variados.
Narcisa Amália e Maria Firmina dos Reis foram algumas dessas mulheres.
Narcisa inventou o quinzenal "O Gazetinha", no Rio.
No Maranhão, Maria Firmina dos Reis foi a primeira mulher a publicar um romance e a ter textos publicados nos jornais locais. Morreu cega aos 95 anos, em 1917.
Num anos qualquer dos 70 publiquei no jornal Correio da Paraíba, do qual fui editor de Local, o folhetim Obsessão de um Rapaz de Olhos Míopes, citado no livro de tinhorão. Mas essa é outra história.
Libero Badaró morreu depois de receber um tiro de um pistoleiro de aluguel.
Biógrafos dizem que a morte de badaró foi encomendada pelo imperador Pedro I.
No dia 7 de abril de 1931, exatos 100 anos depois da abdicação do Imperador, a Associação Brasileira de Imprensa, ABI, tomou a iniciativa de criar o dia do jornalista em homenagem ao italiano naturalizado Giovanni Battista Libero Badaró.