Uma vez o sanfoneiro Zé Gonzaga (1921-2002) disse no programa São Paulo Capital Nordeste, que durante anos apresentei na rádio Capital, SP, que “O Luiz não era tudo isso que se diz, não.”
Uma vez o jornalista, advogado, filósofo, político (foi deputado) e crítico literário Sylvio Romero (1851-1914) disse em texto publicado num jornal do Rio de Janeiro que “O Machado não é tudo isso que se diz.”
Zé Gonzaga deixou uma obra significativa, mas até hoje ainda não reconhecida pelo chamado “grande público”.
Sylvio Romero foi o primeiro mais importante crítico literário que tivemos. Ele deixou uma obra fenomenal, grande em todos os sentidos. É dele os livros A Filosofia no Brasil (1878) e Estudo Sobre a Poesia Popular do Brasil (1888), publicados bem antes de A História da Literatura Brasileira, em 5 volumes.
Pois bem, Luiz Gonzaga é um totem da música brasileira.
Machado de Assis é um totem da literatura brasileira.
Inúmeros livros tratam da obra do Rei do Baião.
Inúmeros livros tratam da obra do bruxo do Cosme Velho, como era chamado o autor de Dom Casmurro (1899) e Esaú e Jacó (1904).
Sylvio Romero foi um intelectual irrequieto. Poucos autores escaparam da sua pena. Dentre todos os seus alvos, Machado de Assis foi o mais atingido. Mas não ligou.
Ao contrário de Romero, Machado era um intelectual criativo quieto, tranquilo, quase passivo. Não aceitava provocações, fosse qual fosse e viesse de onde viesse.
A obra de Machado é ampla. Nele incluem-se poemas, crônicas, críticas e romances. Criava na surdina.
Nas suas críticas Sylvio Romero não disse, mas poderia ter dito que como poeta, Machado foi um bom prosador, que se escorava no silêncio com medo da crítica. “Seu vocabulário é pobre, sua rima também”, disse uma vez Romero após aprofundar-se na poética de Machado.
Pra ele, Machado nunca fez nada de importante antes dos 30 anos. Aliás, ele considerava Crisálidas, Falenas e Americanas grandes bobagens.
Esses poemas fazem parte da obra completa (Poesias, Editora H. Garnier), publicada em 1901.
Impiedoso, criticava Machado por não ter curso superior.
Dizia também que a obra machadiana tinha inspiração em Shakespeare.
Polemista, Romero encontrou em José Veríssimo (1857-1916) o saco de pancada de que tanto precisava.
Particularmente, considero a obra do sergipano Sylvio Romero intocável.
Dizer bobagem faz parte da crítica.
Sugiro a leitura de Itinerário de Sylvio Romero, de Silvio Rabello, publicado em 1944.