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quinta-feira, 5 de agosto de 2021

TINHORÃO ERA DOS BONS

Assis, Tinhorão, Cilene,
Colibri e Davi

O cantor, compositor e instrumentista paraibano Vital Farias teve o seu nome nacionalmente reconhecido primeiramente pelo jornalista, historiador e crítico musical José Ramos Tinhorão. Isso em 1978. Detalhe: Tinhorão não gostava de ser chamado de crítico.
Vital telefonou há pouco para dizer da gratidão que tinha por Tinhorão. Na visão de Vital, Tinhorão foi um diferencial entre os jornalistas que escrevem sobre discos e músicas. 
A mesma coisa diz o compositor e instrumentista Osvaldinho da Cuíca, que um dia decidiu mergulhar no mar das pesquisas. De certo modo, para Cuíca, Tinhorão mudou sua vida. "Foi ele quem me chamou à atenção para a pesquisa musical", conta o instrumentista.
Muitos e muitos artistas brasileiros não esquecem a seriedade com que Tinhorão estudava a história brasileira, especialmente a história da música.
Lembro de certa ocasião em que Geraldo Vandré e Tinhorão discutiam civilizadamente sobre música popular. Foi aqui, em casa. Tinhorão perguntou a Vandré por que ele começou a carreira cantando e tocando bossa nova. Vandré disse que não, que não cantava ou tocava bossa nova. E rindo, Tinhorão cantarolou algumas faixas do primeiro LP de Vandré, lançado em 1964.
Era grande o respeito que Vandré tinha por Tinhorão.
Mas houve também artistas que tapavam o ouvido toda vez que o nome de Tinhorão era lembrado. Caso de Aldir Blanc (1942-2020), que chegou a compor uma música em parceira de Maurício Tapajós (1943-1995) depreciando o velho jornalista: Querelas do Brasil, gravada por Elis Regina (1945-1982).
Audálio, Tinhorão e as gêmeas
"Tinhorão era um doce de pessoa", lembra o cartunista Fausto.
O jornalista alagoano Audálio Dantas também dizia do respeito que nutria por Tinhorão. Idem as cantoras mineiras Célia e Celma: "Ele levava muito à sério a história do Brasil".
Num dia qualquer de 2016, os jornalistas Colibri e Cilene, mais o ator e câmera man Davi de Almeida, chegaram de repente a minha casa e surpresos deram de cara com José Ramos Tinhorão. Colibri logo o convidou para uma entrevista na Rádio que dirige, Brasil Atual. O papo foi longo.
Tinhorão era uma pessoa muito afável, muito alegre. Não tinha raiva, nem guardava mágoa de ninguém. Era brincalhão, espirituoso, cheio de onda. VOZ DISSONANTES 
E deixou frases clássicas como essas: "Tenho pena de não poder ter sido amigo do Tom (Jobim), porque ele era um bom sujeito, coitado. Só que pensava que fazia música brasileira e fazia música americana".
Em 2002 convidei Tinhorão para participar do programa São Paulo Capital Nordeste,  que durante anos apresentei na Rádio Capital 1040 AM. Ele foi. Na ocasião, vários artistas ficaram espantados com a sua presença. Fagner foi um desses. E pra minha surpresa, li texto que ele escreveu a respeito do meu programa: Ainda não está tudo dominado. Também prefaciou um livro meu, sobre Luiz Gonzaga: Eu vou Contar pra Vocês.
É isso. Dizer mais o quê?