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domingo, 5 de dezembro de 2021

JÚLIO MEDAGLIA, DO POPULAR AO ERUDITO

Júlio Medaglia, maestro, é um cara que fácil, fácil faz amizade. E vice e versa. Impossível não gostar dele, por sua simplicidade e talento.
De música esse cara sabe tudo e muito mais.
Da safra de 1938, é paulistano da gema.
Nascido ali ao lado do Palmeiras ganhou, quando menino, o apelido de Periquito.
O Palmeiras, não poderia ser diferente, é o seu time de coração.
De família simples e humilde, a sensibilidade desse Júlio muito cedo veio à tona, iluminando a todos que por perto circulavam.
Na infância costumava ouvir música, ao lado da mãe. A música que mãe e filho ouviam vinha do rádio. Coisa fina. E não demorou, o menino foi crescendo, crescendo até que se transformou num grande compositor e maestro, com formação na Bahia e na Alemanha.
Na Bahia, ele fez amizade com muita gente boa.
Da Bahia vieram Caetano, Gil, Tom Zé e tal, tropicalistas.
Júlio Medaglia foi um dos grandes nomes do Tropicalismo, arranjador de Tropicália e tal.
O tempo passando e Júlio cada vez mais se firmando no panorama da música popular e da música erudita, regendo inclusive orquestras mundo afora e escrevendo livros como Música, Maestro!; Música Impopular e Por Trás da Pauta.
Há uns 15 anos, Júlio criou e apresenta o belíssimo programa Prelúdio, que tem por finalidade descobrir talentos da música erudita no Brasil.
Além disso, diariamente, Júlio apresenta o programa Fim de Tarde, pela rádio Cultura FM.

Já escrevi muito a seu respeito. BATE-PAPO COM MEDAGLIA, NA TRIANON
Eu conheci esse maestro em fins do século passado. Meu primeiro encontro com ele foi no balcão de um bar do conjunto nacional, ali na paulista, ao tempo em que eu frequentava a livraria cultura nas tardes de sábado junto com os amigos José Nêumanne, Arnaldo Xavier e Marcos Rey, autor de muitos livros, entre os quais Memórias de um Gigolô e o Enterro da Cafetina.
Foi naquela ocasião que o maestro me contou ter regido a orquestra Cordas de São Paulo e o coro Vozes de São Paulo, na execução da obra do português André da Silva Gomes (1752-1844), mestre de capela da Sé. Tratava-se de uma Missa a 8 vozes e instrumentos, descoberta e restaurada por Régis Duprat.
O disco, um LP (acima), que contém essa obra, foi lançado em 1970.
E por que ele me contou essa história, hein?
Ele me contou essa história porque eu estava às voltas com uma pesquisa sobre músicas compostas especialmente para a cidade de São Paulo.
Essa pesquisa dei por concluída em 2010, por ali, quando eu já reunira quase 3.000 títulos e me preparava para fazer uma grande exposição na unidade Sesc Santana.

Alguns livros de Júlio Medaglia

Júlio Medaglia é o tipo de cidadão que não pensa duas vezes pra expor seus pensamentos, inclusive quando deseja rasgar elogios a amigos. Dia desse, o telefone tocou trazendo-me a sua voz. Dizia que lera o especial A Imprensa Negra do Brasil, que escrevi para o newsletter Jornalistas & Cia. E falou e falou. Disse que o que eu havia escrito, na maior parte, ele desconhecia. Senti-me bem, como disse Nelson Gonçalves (1919-1996) no primeiro samba que gravou, em 1941.
Temos nos visto pouco.
A última vez talvez tenha sido no estúdio da TV Cultura, quando o querido Fernando Faro (1927-2016) me convidou para que eu falasse alguma coisa de mim no programa Móbile. E lá estava ele falando sobre a Tropicália e otras cositas más (confira o vídeo abaixo).
Também teve uma vez, não lembro bem quando o convidei para um papo no programa O Brasil está na Moda, que eu apresentava na rádio Trianon. Quando cheguei a emissora, ele já estava a me esperar.
Grande Júlio Medaglia!