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sábado, 25 de dezembro de 2021

J&CIA PREMIA OS MELHORES JORNALISTAS (2)

Caricatura de Juca Kfouri feita por Cláudio
JUCA KFOURI

“O jornalismo corre nas veias da família”

No Brasil o sobrenome Kfouri é incomum, ao contrário do nome José.
Meu amigo, minha amiga, você sabe quem é o paulistano José Carlos Amaral Kfouri?
Pois bem, esse nomão aí com nome e sobrenome foi resumido para, simplesmente, Juca Kfouri.
O Juca que antecede o sobrenome árabe foi uma sugestão de alguém da família. E pegou.
Hoje não há no mundo dos esportes alguém que não conheça Juca Kfouri, uma marca.
Esse jornalista, amigo de todos os esportes e torcedor roxo do Coringão, iniciou a carreira como pesquisador do Departamento de Documentação da Abril, o DEDOC. Isso em 1970, ano que a Seleção brasileira de futebol faturava o troféu de Tricampeão Mundial.
Dia desse, após telefonema que me fez, começamos a falar sobre tudo e mais um pouco: educação, história, poesia, jornal, revista, TV. E fez uma gracinha: “Ser entrevistado por você, dá currículo”.
Sobre educação, disse que estamos todos afunhenhados. No campo da política, também.
Educação tem a ver com cultura, esportes, cidadania, respeito ao próximo, essas coisas. “Estamos andando para trás”, observa.
Depois de deixar o DEDOC, Juca foi convidado pra chefiar a reportagem da revista Placar, um marco da chamada Imprensa Esportiva. Importantíssima. Depois saiu, depois voltou e muita coisa mais aconteceu na vida dele. E do Brasil. Até pela Tupi passou. Mas o começo, mesmo, foi na Abril.
O jornalismo anda de pernas bambas, no Brasil e mundo afora. Isso é fácil, fácil de constatar.
Muitos jornais têm encerrado suas atividades, de canto a canto do País. Até O Norte na Paraíba, onde iniciei carreira, fechou e virou portal. A pergunta que não cala é: o jornalismo impresso vai acabar?
“Quando a televisão chegou, em setembro de 1950, disseram que o rádio ia acabar. Não acabou. Agora dizem que os jornais e revistas vão acabar. Num sei, talvez sim”, analisa.
Em 2006, Juca recebeu convite para assinar um blog no UOL. “Estava tudo começando e eu não acreditava na força da internet. Mas topei. Pensei que se tivesse 8.000 acessos por dia, era muita coisa. Pra minha surpresa, até o meio dia da minha estreia, já havia cerca de 80.000 acessos”, lembra.
Mas o jornalismo continua enfrentando problemas gigantescos. Tão grandes e graves, que nem Gutenberg (1396-1468) poderia um dia prever. O que se percebe claramente é que os profissionais saídos da faculdade saem tontos, sem rumo. Até porque não são estimulados a continuarem estudando.
Grosso modo já não se lê grandes livros, de autores como José de Alencar e Machado de Assis. Do passado. E o que dizer dos autores do presente?
Juca pergunta se já li a biografia de Lula feita por Fernando de Morais. Pergunta também se já li Fernando Pessoa, uma quase autobiografia, de José Paulo Cavalcanti Filho. Esse, já. Excepcional. A propósito, na parte dos agradecimentos, Paulo cita Juca.
Os textos de Juca são quase sempre entrelaçados com futebol e política. Todo dia ele está na Folha, UOL e CBN. Sempre foi assim e também nunca negou a sua paixão pelo Coringão.
É amigo pessoal de Lula.
Juca é um dos três filhos do casal Carlos e Luíza, pai quatro vezes e avô duas. Entre seus filhos, há um fotógrafo: André.
Diz Juca que o jornalismo corre nas veias da família. Pelo menos em uma pessoa, antes dele: Luís Amaral, antigo repórter da Folha da Manhã. “Não lembro muito dele, da sua história. Eu era menino, de 6, 7 anos. O que sei dele como profissional é pouca coisa, que foi um dos primeiros repórteres a entrevistar o líder revolucionário Carlos Prestes (1898-1990)”, relembra.
Luís Amaral foi, além de repórter, um dos dirigentes do jornal que daria nome à Folha de S.Paulo. Ideologicamente, de direita.
No correr da sua vida profissional, Juca fez grandes reportagens e foi processado mais de uma centena de vezes. Entre as pessoas que o processaram se acham os ex-dirigentes de futebol Ricardo Teixeira e José Maria Marin. Esse Marin, foi um dos responsáveis pela prisão e morte do jornalista Vladimir Herzog (1937-1975). É história.
Se nos seus contratos com empresas jornalísticas Juca não incluísse um item que lhe garantisse defesa por eventuais processos na Justiça, é possível que estivesse como diz quebrado.
A censura à Imprensa desembarcou no Brasil junto com a família Real, em 1808. Durou 13 anos, até que foi suspensa pelo imperador Pedro I. Foi suspensa e no seu lugar criada leis que puniam abusos praticados pelos jornalistas da época. Tomara que essa praga jamais volte.
O maior orgulho de Juca é ter descoberto o nome verdadeiro do autor de quadrinhos eróticos, "Catecismos", de Carlos Zéfiro: Alcides Aguiar Caminha, compositor e autor de pérolas como a Flor e o Espinho, que fez com Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho.

O nome de Caminha, como autor musical, surgiu em entrevista para a revista Playboy, que ele editava. Seu maior desejo agora é dar manchete a notícia: Bolsonaro perde a eleição.
Esse desejo, eu disse a ele, é fácil. Vai acontecer. E ele: “Em 2018, não podíamos pensar que Bolsonaro viraria presidente. Virou”.
José Carlos Amaral Kfouri nasceu no dia 4 de março de 1950.

JUCA KFOURI AGRADECE:

"É sempre bom ser querido pelos colegas sem precisar pedir votos, sem fazer propaganda, em escolha espontânea. E imputo a escolha aos meus companheiros do Posse de Bola, o podcast mais admirado.
Uma alegria."

J&CIA PREMIA OS MELHORES JORNALISTAS (1)

O ano de 2021 termina com a premiação dos mais respeitados e admirados jornalistas do Brasil. Esses jornalistas Juca Kfouri, Zeca Chaves, André Biernath, Sidnei Maschio, Thiago Salomão e Jorge Moraes foram escolhidos da newsletter Jornalistas&Cia. E coube a mim entrevistá-los. Um por um. Tradicionalmente a escolha é feita através de consulta com profissionais da categoria.
Saiba quem são esses jornalistas lendo as entrevistas que serão aqui publicadas até o próximo dia 30.