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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (12)

O dia amanheceu bonito, com sol alto e tudo.
Nem bem eu acabara de quebrar o jejum tomando o café, senti na camisa um movimento brusco dos meus botões. Pareciam em pé de guerra. Lampa, sempre Lampa, lambendo seu punhal de estimação, disse que estava um tanto chateado comigo. Eu quis saber o motivo. "É que o sinhô nunca mais deu bola pra gente". Eu fiz hmmmm. 
Dei uma espiada de lado e notei que Zé, Mané, Jão, Biu, Zoião, Barrica e Zilidoro estavam de comum acordo com o que dissera Lampa.
Lampa é um botão de poucas palavras como o alagoano Zé, mas quando fala parece falar por todos. Espécie de porta-voz, de líder. Desconfiado, voltou ele: "A gente quer saber por que o sinhô nos abandonou".
Sem arrodeio, respondi que o que fiz com ele não foi abandono. Foi falta de tempo, mesmo. "Que falta de tempo nada!", retrucou Lampa.
A situação parecia ganhar rumo perigoso. Pra minha sorte, o filósofo Zilidoro pediu calma e quis saber o que eu achava da invasão da Ucrânia por Putin. Disse-lhe que o caso está ganhando forma de problema muito sério. "Pode haver guerra? E se houver será mundial?", perguntou o botão Zé. Pessoalmente, acho que a invasão já foi feita. Mas guerra guerra mesmo, de tamanho mundial, acho que não vai ter. Mas, sem dúvida, é uma batata quente que o mundo tem nas mãos.
Biu, que Lampa chama de frouxo, disse "Muito bem!". E todos batem palmas, a exceção do lambedor de punhal, que debaixo pra cima jogou um olhar tipo ameaçador.