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sábado, 26 de março de 2022

CAMÕES, SEMPRE CAMÕES (1)

Assis, com a obra de Camões
em diversos formatos
O navegador português Vasco da Gama morreu em 1524, aos 55 anos de idade.
O poeta português Luís Vaz de Camões nasceu em 1524 e morreu aos 56 anos de idade.
O que Vasco da Gama e Vaz de Camões têm em comum?
Vasco da Gama foi quem descobriu o caminho das Índias, em 1498.
Vaz de Camões, pra todo mundo e o mundo todo chamado simplesmente de Camões, foi quem narrou com inacreditável categoria a fabulosa façanha de Vasco da Gama.
Tudo começou quando o rei dom Manuel incumbiu ao navegador a tarefa de descobrir o caminho das pedras. Isto é, das Índias.
Duas naus e uma caravela, mais uma embarcação com víveres, foram cuidadosamente preparadas para a grande viagem.
A partida fora programada para o dia 7 de julho de 1497. Mas uma zebra atrapalhou a programação.
Zebra, leia-se: mau tempo no porto de Lisboa, praia e porto de Restelo.
Essa zebra adiou a viagem para o dia 8, uma segunda-feira.
Dez meses e dez dias depois, e cerca de 11.000 milhas navegadas, Vasco da Gama e seus marinheiros, uns 200, alcançaram Calicute.
Calicute é um porto localizado na costa ocidental da Índia.
Essa história é fabulosa, em todos os sentidos.
Muitos anos depois, Luís Vaz de Camões decide contar o acontecido. Do seu jeito. Belíssimo e belíssima é a obra gerada pelo poeta: Os Lusíadas.
Esse livro é desenvolvido em dez Cantos com cinco partes: Dedicatória, Preposição,
Camões no traço de Fausto Bergocce
Invocação,Narração e a última, Epílogo – no qual demonstra sua descrença pelo futuro de Portugal após o desaparecimento do rei Dom Sebastião numa batalha em Alcácer-Quibir, Marrocos. A Dom Sebastião é dedicado Os Lusíadas.
Na batalha de Alcácer-Quibir, o poeta perdeu um dos olhos.
Pra escrever a obra, o autor fez uso da invenção de um poeta italiano chamado Ludovico Ariosto (1474-1533). É dele a modalidade Medida Nova, levada da Itália para Portugal, por Sá de Miranda, em 1527.
Camões precisou morrer para se eternizar.
Detalhe: Luís Vaz de Camões foi quem deu o primeiro pontapé na história para transformar o que é hoje a língua portuguesa, pois antes o que havia, na região onde nasceu, era o latim arcaico.
Essa é a história. Mas tem mais.
Quem deu o aval para essa publicação foi o frei Bartolomeu Ferreira, responsável pelo setor de publicações do Santo Ofício, em setembro de 1571. De lá pra cá, o livro foi publicado em formatos diversos. Incluindo quadrinhos.
Frase escrita pelo próprio Camões.

No Brasil dos anos 30/40, o famoso livro de Camões entrou como matéria curricular do curso ginasial. Edição importante, da Francisco Alves. Dessa edição reproduzo algumas imagens e documentos como a assinatura do poeta Camões (ao lado).
Ainda em 1572 foi lançada uma edição paralela, pirata, de Os Lusíadas.
Em 1920 o diretor da Biblioteca Nacional de Lisboa, Jayme Cortesão, encafifado com essa história solicitou através de ofício que o Real Gabinete Português de Leitura fizesse um levantamento a respeito do que até então era uma dúvida.

Devo lembrar a V. Exª que, a par da 1.ª edição verdadeira que nos propomos reproduzir, existe uma outra, falsa, da mesma data. A verdadeira distingue-se por ter o bico do pelicano da portada voltado para a esquerda do observador e por, no 7.º verso da 1.ª instância do Canto I, ter as palavras “E entre” em vez de “Entre” simplesmente.
Cortezão fazia referência à esta estrofe:
Os Lusíadas em HQ


As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
Entre gente remota edificaram
O novo Reino, que tanto sublimaram;


Alexandre de Albuquerque, do Real Gabinete Português de Leitura, fez o que tinha que fazer: esclarecer a nebulosidade em que se achava essa questão histórica. E em 1921 lançou o livro As Duas Edições dos Lusíadas de 1572.