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sábado, 9 de abril de 2022

DE COMO O ASSASSINATO DE UM JORNALISTA PROVOCOU A QUEDA DE UM REI (3)

Litografia de Badaró
Os restos de Giovanni Battista Libero Badaró, trasladados da Igreja do Carmo, acham-se no cemitério paulistano da Consolação. No dia do traslado, em 1889, foi distribuído a quem esteve presente uma litografia retratando o perfil de Badaró.
Não custa lembrar que foi Badaró o primeiro jornalista a ser assassinado por defender suas idéias no jornal que fundou, indo de encontro aos interesses de poderosos de plantão.
Foi também Badaró o primeiro jornalista a falar de Liberdade de Imprensa. Exemplo:

Muitos já disserão e muitos repetirão: que a liberdade de imprensa era a alma de qualquer governo fundado sobre direitos e não sobre força: mas também muitos não o entenderam ou fizeram mostra de não entender e continuárão a vociferar, que tudo se não devia dizer, que ninguem se devia metter nos negocios do governo, que os empregados bons e máos, se devião respeitar por causa da bôa ordem e do socego, e mil outras cousas tão mesquinhas como estas, que descobrem o fraco d’estes taes e confirmam admiravelmente o ditado “que o peior surdo é aquelle que não quer ouvir”...
(…) De todas as garantias que o pacto social concede aos cidadãos, parece-nos, que a liberdade inteira de publicar os seus pensamentos (salvo responder pelos abusos) seja aquella a quem menos se deve atacar; por isso que em certa maneira é o guarda de todas as outras. Um governo que queira o bem dos povos, já temos indicado quanto precisava d’esta liberdade, principalmente em um paiz aonde tudo ha de se fazer ou modificar, e aonde as leis para serem efficazes, devem ser não sómente bôas, mas tambem conformes ao voto geral. É por isso, que a liberdade de imprensa torna-se a melhor garantia do governo, quando as suas operações não são escondidas e tenebrosas, pois que tendo sido discutidas, examinadas pela nação e adoptadas aquellas que mais com o voto d’ella se conformão, ella tem um interesse particular de sustentar a sua obra e de repellir qualquer ataque que se tencionasse fazer-lhe. Mas pelo contrario quando tudo se faz ás escondidas, quando o cidadão ignora o motivo e a utilidade das medidas do governo, quando vê os inconvenientes sem vêr as vantagens, então se entregará ás desconfianças, ás maquinações, deixando-se facilmente seduzir pelos hypocritas, que, vociferando continuamente as vantagens do povo, querem sómente pescar nas aguas turvas…

A morte de Libero Badaró foi uma morte anunciada, como se vê.
O dia 7 de abril é o Dia do Jornalista.
Esse dia é, também, o dia em que foi fundada a Associação Brasileira de Imprensa, em 1908.
O fundador dessa Associação foi o jornalista Gustavo de Lacerda (1854-1909). Socialista, negro e pobre. E assim morreu num 4 de setembro.
Lacerda criou a ABI, inicialmente chamada de Associação da Imprensa dos Estados Unidos do Brasil, com o propósito de dar garantias trabalhistas a seus associados.
A data de criação da ABI tem nada a ver, ou se tem é muito pouco, com Libero Badaró. Não custa lembrar, porém, que foi no dia 7 de abril de 1831 que o Imperador Pedro I, chamado de O Rei Soldado, abdicou da coroa a favor do filho, Pedro II.
A renúncia à coroa de Pedro I tem a ver com a repercussão extraordinária da morte de Giovanni Battista Libero Badaró.
Badaró era a favor do liberalismo e contra o obscurantismo de Pedro I.
A rua Nova de São José ganhou nova denominação no dia 24 de agosto de 1916. Desde então é rua Libero Badaró, que liga o Mosteiro de São Bento ao Largo de São Francisco, SP.