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sexta-feira, 10 de junho de 2022

VIVA A LÍNGUA PORTUGUESA! (1)

O mar inventou o Brasil
E os portugueses, o mar
Tal façanha só foi feita
Pra que se pudesse contar
Que o poeta rei Dinis
Chegou longe sem nadar

Nadar mesmo não sabia
Mas sabia inventar
Foi ele quem inventou
De por seu povo no mar
Balançando sobre as ondas
Foi o mundo conquistar

Tinha já uns trinta anos
Era bom e coisa e tal
Não gostava do latim
Tão falado em Portugal
Depressa ele pensou
Numa língua mais legal

Essa "língua mais legal"
Era a língua portuguesa
Cultivada com esmero
Como flor da realeza
Portugal lhe deu a forma
O tom, graça e beleza

No mundo há muita gente
Falando em japonês
Falando grego e russo
Alemão, turco e chinês
Mas na vida coisa boa
E falar em português


O Brasil é formado por um enorme agrupamento de outros Brasis: 26 Estados e 1 Distrito Federal. O resultado disso é um país absurdamente fantástico, de dimensões continentais, com 8.622.996 quilômetros quadrados, área equivalente a pelo menos 17 Espanhas, 28 Itálias, 206 Suíças, 251 Holandas, 279 Bélgicas e 797 Cubas, ou algo — ainda territorialmente falando — como quase uma China ou Estados Unidos da América, ou duas Índias Inteiras.
Diante disso, um desavisado qualquer pode, ou poderia, concluir que o nosso Patropi é uma espécie de torre de Babel. Mas não é. Aqui todos se entendem, pelo menos linguisticamente. A língua é uma só: o português, embora à essa altura — quatrocentos e tantos anos depois da descoberta — eu ache que melhor seria, sem xenofobia, se pudéssemos chamá-la de brasileira, de língua brasileira.
Mesmo sem outras línguas (ou dialetos), o Brasil carrega no bojo uma peculiaridade especialíssima: o sotaque.
O sotaque da língua de um povo não substitui um dialeto, é claro, pois a língua é a fala de um povo, de uma nação, O sotaque é o canto de uma língua.
Em cada canto ou região do Brasil podem se fazer descobertas verdadeiramente incríveis: para tanto, basta um pouco mais de atenção.
Na Paraíba ou em Pernambuco as palavras têm um sentido bastante diferente do sentido a elas dado no Rio de Janeiro ou em São Paulo. Nesses lugares, as palavras são carregadas de um quê que não existe em regiões como o Rio Grande do Sul ou Brasília, por exemplo. No Rio, jerimum é abóbora e aipim é macaxeira, pode?
Na Bahia, mais precisamente na capital Salvador, as palavras parecem nascer das ondas do mar, do sol posto num fim de tarde, dos balouçantes coqueirais, do sorriso e do requebro dos quadris das rainhas negras encontradas em cada praça ou esquina; da música, do trinar dos passarinhos, dos tocadores de berimbaus, das danças, dos terreiros de umbanda, das pretas baianas vendedoras de acarajés vindas de mãe África transbordantemente carregadas de carinho, graça e sensualismo.
O falar dos nortistas é um, o dos nordestinos é outro, o dos sulistas etc. Em cada região do Brasil há uma linguagem própria, popularíssima. Sem contar o uso da gíria, que se renova no dia a dia das grandes cidades…

Os paulistas carregam no r, assim: porrrta, porrrteira, aberrrtura, porrrr aí.
No Nordeste, a tônica forte é a vogal, com o som escandalosamente aberto. Pronuncia-se: p(óóó)rta, p(óóó)rteira, ab(ééé)rtura etc. etc. Nessa região, formada por nove Estados — incluindo o Maranhão, terra dos Ribamares —, há muitas outras peculiaridades no linguajar. A consoante v, por exemplo, lá é quase sempre trocada e pronunciada com o r dobrado: cerreja (cerveja), carralo (cavalo), raquinha (vaquinha) etc. E em alguns casos, as palavras chegam a ser totalmente descaracterizadas, como velho, pronunciada como réi. Noutros, o r simplesmente desaparece, como, aliás, o m. Ex.: cab(r)a, viage (viagem), marge (margem), virge (virgem).
Os verbos, nalguns tempos, como no gerúndio, também apresentam mudanças. Ex.: ino (indo), andano (andando),fugino (fugindo). Quer dizer, nesses casos, o d vai para a cucuia, como para a cucuia também vai o tratamento você, humilhantemente reduzido para a forma cê ou ocê, assim pronunciado em quase todo o território nacional.O nordestino fala apressadamente, Por isso, talvez, muitas letras abandonem as palavras, como nos exemplos citados. Curiosidade: quando isoladamente, o e costuma ganhar o som de i (em São Paulo, ê). Pode? Pode, pois este é o Brasil-brasileiro cantado em prosa e verso numa só língua, mas com sotaques diversos nos seus 26 Estados.

O BRASIL SOFRE NAS UNHAS DE BOLSONARO

Eu não sei se estou ficando doido, mas o fato é que cada vez mais me sinto com os nervos à flor da pele.
Nos meus silêncios tremo, me enervo e até choro ora de raiva, ora de tristeza, mesmo.
Sou de um país incrível, muito bonito, de gente trabalhadora.
Milhões de brasileiros estão sofrendo por não terem o que comer, por não terem emprego, por não ganharem o básico necessário para a sua existência e o seu futuro.
A educação está em pandarecos, idem o setor de saúde e tudo o mais.
A Amazônia brasileira está sendo engolida pelos garimpeiros e traficantes.
Nossas árvores estão tombando e virando objeto de venda ilegal. E já faz tempo.
Os indígenas, sempre desrespeitados, rogam aos céus paz e piedade...
Enquanto isso, o presidente eleito pela maioria segue desrespeitando as regras civilizadas e atacando as pessoas que não concordam com ele, com seus gestos abruptos e fala de quem anda precisando ser barrado ou posto numa camisa de força.
Estamos afunhenhados.
Bolsonaro foi à Los Angeles participar da Cúpula das Américas, periodicamente realizada por iniciativa do presidente de plantão norte-americano. No caso ora em pauta, Joe Biden.
A Biden, Bolsonaro disse que o Brasil continua às mil maravilhas. Que o Brasil continua sendo os pulmões do mundo, o celeiro alimentar do mundo. Mentira! Falou também, como não haveria deixar de ser, das urnas eletrônicas que serão pilotadas em outubro pelo Tribunal Superior Eleitoral, TSE. E insistiu na tecla: são falhas. 
Para que as eleições sejam validadas, é preciso que "sejam limpas e auditáveis". Quanto ao desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, Bolsonaro disse que ambos fizeram o que não deveriam fazer: "Realmente, duas pessoas apenas num barco numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer, pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados. Tudo pode acontecer...".
Pois é, aí está, segundo Bolsonaro, Pereira e Phillips são culpados pelo o que fizeram.
Em várias partes do mundo está havendo manifestações públicas de pessoas e entidades ligadas aos direitos humanos (acima). Todos querem saber onde se acham Pereira e Phillips.
A Tower Bridge, famosa ponte de Londres, amanheceu com enormes cartazes em que se liam indagações sobre o desaparecimento de Pereira e Phillips.
Meus amigos, minhas amigas, eu acho o seguinte: qualquer adjetivo, por pior que seja, cabe certinho como definição do que é Bolsonaro.