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sexta-feira, 16 de setembro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (37)

"Que frio dos infernos é esse, seu Assis!", falou tremendo e todo encolhido o mano de Biu, Barrica. "Eu já não tô aguentando, é um frio dos infernos!", repetiu Barrica. O mano Biu concordou: "O frio aqui em São Paulo tá muito mesmo. Ouvi no rádio agora pouco que hoje a temperatura máxima será de 16ºC".
Achei graça no modo como Barrica falou. Mas até onde eu sei, até onde dizem, no Inferno não tem frio.
O bom Mané, por sua vez, disse: "É, o frio tá grande. Mas tem uma solução: ou a gente se agasalha ou molha o bico pra esquentar o corpo".
Lupícino
Zilidoro, todo agasalhado, disse: "O Mané tá falando bonito. Deve ser o efeito do frio". Sentado num tamborete, Lampa mostrava indiferença ao assunto. Cutucando as unhas com seu inestimável punhal, só olhava para um canto e pra outro sem levantar a cabeça. Jão fazia que não via, mas via. E falou: "Seu Assis, o sinhô não tá com frio, não?".
Claro que estou com frio, mas estou bem agasalhado...
"Eu ontem à noite tomei um negocinho antes de dormir. E dormi feito um santo, feito um inocente, seu Assis", contou Zoião.
Zé pediu a palavra para perguntar se eu já ouvi falar no gaúcho de Porto Alegre Lupicínio Rodrigues. Sim, respondi. E ele: "O Lupi compunha muito bem e cantava melhor ainda! Pois cantava com a alma. Eu gosto de muita coisa que ele fez, especialmente Nervos de Aço".
Foi a vez de Zilidoro meter a colher na conversa: "Nervos de Aço foi uma música que Lupi fez depois de traído por uma mulher a quem ele amava muito. Essa mulher foi vista nos braços de outro pelo próprio Lupi".
Lupicínio, foi minha vez de falar, nasceu em 16 de setembro de 1914 e morreu no dia 27 de agosto de 1974. Por muito tempo a sua carreira de artista ficou travada, ameaçada pela Bossa Nova e o Tropicalismo. Mas Caetano Veloso incumbiu-se de salvar Lupi, gravando Felicidade. A partir da gravação de Caetano, artistas como Bethânia, Gal Costa e tantas e tantos gravaram e regravaram grandes títulos do compositor.
"Seu Assis, seu Assis! Lembrei-me agora que foi também num 16 de setembro que morreu o maior compositor operístico das Américas. Ele se chamava Carlos Gomes", disse Zilidoro. E eu: Muito bem, muito bem Zilidoro. E você sabia que um amigo meu também morreu num 16 de setembro? Era cartunista. 
Fortuna 
"Cartunista? Deixe-me ver... Não, não lembro. Não sei. Quem é, quem foi?", quis saber nosso poeta de plantão Zilidoro.
De repente, pra surpresa geral, Lampa levantou a cabeça dizendo: "Outro dia eu vi no jornal que o patrão aí chegou a escrever um livro sobre esse tal de Carlos Gomes".
Eu ri, não tinha outro jeito e acrescentei: É verdade, escrevi um livrinho sobre nosso querido compositor e maestro Carlos Gomes. E o amigo cartunista fez um cartum muito bonito anunciando o lançamento desse livro. O livro chamou-se O Brasileiro Carlos Gomes e o cartunista em questão tinha por nomeJosé Reginaldo de Azevedo Fortuna, ou Fortuna simplesmente.
"Esse Fortuna nasceu no Maranhão?", quis saber Barrica. Respondi afirmativamente. Foi a vez de Biu também falar: "Esse Fortuna tem a ver com os irmãos escritores Aloísio e Arthur de Azevedo?".
Não, não. A curiosidade fica apenas no nome Azevedo que os três tinham. E a coincidência é que todos nasceram em São Luís, MA.
Enquanto eu falava, Zilidoro mexia no celular. E de repente, disse "Eureka!". Ele acabara de localizar a capa do livro que escrevi sobre Carlos Gomes e o convite de lançamento feito pelo querido Fortuna. É isso. E um bom dia a todos!