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quinta-feira, 3 de novembro de 2022

GOLPE CONTINUA NO RADAR BOLSONARISTA

Como no romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis, os irmãos Flávio e Eduardo Bolsonaro quebraram o pau pra ver qual ideia de um ou de outro o pai assumiria. Flávio defendia moderação e fala imediata de reconhecimento das urnas pró-Lula. O irmão Eduardo defendia ideia contrária, ou seja: que o pai aumentasse o tom e defendesse de modo mais explícito os seus apoiadores mais fiéis e radicais. No vira e mexe da hora, Bolsonaro optou pela ideia do filho senador. Michelle tentou entrar na história, mas ouviu um sonoro "CALA A BOCA!" de Carluxo.
A primeira fala do presidente Bolsonaro foi, digamos, uma fala insossa e com gosto de pão adormecido.
A segunda fala do presidente Bolsonaro foi, digamos, um pouquinho mais compreensível. Dessa compreensão subtrai-se a ideia de que o presidente está se retirando do palco sem, porém, abandonar a tática que imagina levá-lo à condição de absolutista.
O sonho de Bolsonaro, pesadelo para os brasileiros de bem, é subir nos tamancos e virar um Stroessner. 
O plano ditatorial de Bolsonaro há muito foi captado por quem analisa o jogo político.
O seu interesse pelo Totalitarismo é antigo. Desde que se entende por gente, diga-se. Estreou no campo da safadeza político-militar quando ainda nem alcançara a vida adulta. Era apenas um fedelho interessado em dedurar pessoas. Essa história é amplamente conhecida.
Lendo outro dia um ótimo texto do português Boaventura de Sousa Santos, publicado na edição de 31 de outubro no Jornal Público, descobri que não estou só na conclusão do que pretende Bolsonaro. Ele sai de cena, mas nos bastidores continuará cooptando radicais como ele na pretensão de transformar o Brasil num imenso quartel. 
Sobre isso, sobre o golpe que pretende aplicar, já falei bastante.
Boaventura, que é Diretor Emérito do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, começa o seu conclusivo texto dizendo já no primeiro parágrafo: "Neste domingo (30) tornou-se evidente que está em curso um golpe de Estado no Brasil. É um golpe de tipo novo, cujo curso poderá não ser substancialmente afetado pelo resultado das eleições, ainda que a vitória de Lula da Silva certamente afetará o seu ritmo".
Sem dúvida, a vitória de Lula não estava no radar bolsonarista.
Os últimos acontecimentos envolvendo Bob Jefferson, Carla Zambelli e, agora, os caminhoneiros levaram bolsonaristas ao descontentamento e frustração provocados pelo comportamento do chefe Bolsonaro.
Por sua vez, Bolsonaro está sendo aos poucos abandonado pelos timoneiros do Centrão. 
Há preocupação nas hostes bolsonaristas.
Seguidores de Bolsonaro e o próprio Bolsonaro temem prisão.
Envolvendo Bolsonaro há, no momento, 58 processos esperando a hora certa para serem devidamente concluídos. Estão no STF. Um desses processos pode levá-lo à prisão.
O professor Boaventura de Sousa no parágrafo antes de concluir o seu texto, diz:
O golpe de Estado continuado vai entrar numa nova fase. De imediato, será provavelmente a contestação dos resultados eleitorais para compensar o fracasso dos golpistas em não terem conseguido os resultados que pretendiam com as múltiplas fraudes que praticaram. Depois, o golpe assumirá outras formas, ora mais subterrâneas com a utilização do crime organizado para intimidar as forças democráticas, ora mais institucionais com a mobilização desviante do poder legislativo para criar uma situação de permanente ingovernabilidade, nomeadamente com a ameaça de impeachment do governo eleito e dos quadros superiores do sistema judicial.

Pois é, não podemos fechar os olhos diante das manobras de Bolsonaro e seus "soldados". 

Leia o texto completo do professor Boaventura de Sousa Santos, no clique: O golpe de Estado continuado