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sábado, 27 de maio de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (19)

Do poeta repentista Oliveira de Panelas:

Toca-me com teus seios de suavíssima pluma!
Deixa-os destilar os meus lábios sequiosos
Pingos de essências; o mel dos desejosos
Amantes que não sei se há em parte alguma!

Roça-me com teu ventre em maciez de bruma
E logo após retoma em ritmos calorosos
Mergulha nos instantes de anseios ardorosos
Repete uma vez mais... mais outra vez... mais uma!!!

Tu sufocas-me, e eu te canso, e te alivio.
Desnuda, e nessa pausa de transe e tresvario,
Arpejos sussurrantes, corpo esclarecido.

Após o néctar-êxtase, sã, A consciência volta,
Restaura nossos Eros e cada um se solta
Na paixão do mais belo amor que foi vivido!

O soneto como tal conhecemos, formado por dois quartetos e dois tercetos, foi uma criação do italiano Francesco Petrarca (1304-1374). Houve um tempo que virou moda mundo afora e no Brasil, inclusive. Oliveira de Panelas, nas horas vagas poeta de bancada, deita e rola, como nesse campo rolaram muitos outros grandes poetas. Incomum, no caso, é a temática aqui abordada por Panelas: o lirismo erótico como no soneto inédito Néctar-Êxtase, que publicamos aqui.
Esse tema também foi original e genialmente abordado por um dos poetas mais completos da nossa língua portuguesa: Olavo Bilac.
É de Bilac o livro Contos para Velhos, publicado em 1897.
Os cordelistas também chamados de poetas de bancada e os repentistas ao som de viola, também costumam desenvolver poemas de duplo sentido.