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quarta-feira, 21 de junho de 2023

CAIM PEGA PESADO COM DEUS

Lilith era linda e fogosa, incansável na cama. Casada, o marido Noah não tinha condições de lhe dar um filho que tanto queria. Do seu jeito, fechou os olhos e deixou ela se virar. Até aí, tudo bem. Ocorre que certo dia Lilith chama ao seu palácio um rapagão amassador de barro, forte e bonito, chamado Caim. E aí, lascou!
Esse é um trecho do livro Caim, na versão fabulosa e crítica/cínica do autor português José Saramago.
Saramago era comunista e como todo comunista que se preza, ateu.
O livro começa assim: "Quando o Senhor, também conhecido como Deus...".
Nas primeiras páginas do livro é apresentada a criação do mundo incluindo os moradores do Éden: Adão e Eva.
Ao criar o mundo Deus deu voz a todos os seres, esquecendo-se, porém, do famoso casal. Ao se tocar, o Criador foi ao Paraíso para corrigir o erro empurrando goela abaixo dos dois a língua que lhes faltava. Por comer o fruto proibido da árvore do bem e do mal, foram expulsos.
A partir daí acontece o inesperado: dois dos filhos de Adão e Eva, Caim e Abel, se desentenderam e Caim findou por dar cabo a Abel.
Depois de matar Abel, Caim trava discussão pessoal com Deus. E aí começa a graça reflexiva que o livro de Saramago nos oferece.
Caim transforma-se num crítico ferrenho de Deus, enfrentando-o cara a cara, peito a peito, acusando-o até de não poupar a vida dos inocentes, como ocorreu durante a destruição de Sodoma e Gomorra.
As discussões tête-a-tête entre Deus e Caim são impagáveis. Só por isso já valeria a pena ler o livro. Mas tem mais: os momentos de sexo intensos de Caim e Lilith. Antes Caim dá prazer a duas escravas do palácio. Como se não bastasse, o esposo de Lilith, enciumado, contrata marginais para matar Caim. Não consegue e Caim finda por dar o filho que tanto queria Lilith.
E tem as cenas interessantíssimas da grande canoa, barca, arca, ou sei lá, comandada por Noé. As mulheres que embarcaram na barca ou arca são graciosamente entregues ao prazer de Caim. O argumento era repovoar o mundo após o dilúvio promovido por Deus.
Noé, ao fim, suicida-se.
Hilariante!
E mais não digo.