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sábado, 9 de dezembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (58)

Fora a música, a temática aqui abordada estende-se pelas áreas mais diversas da cultura popular.
No campo da literatura de cordel o primeiro autor a escrever e a publicar um folheto narrando o cotidiano de um bordel foi o paraibano Leandro Gomes de Barros. Título: Meia Noite no Cabaré.
Depois de Leandro, vieram inúmeros outros cordelistas escrevendo sobre o assunto. Exemplos: Velório no Cabaré, Antonio Leite; O Velho no Cabaré, Tiago Monteiro; O Pau-de-Sebo no Cabaré de Tumbaúba,  Marco Di Aurélio; Lampião no Cabaré do Oscar Frota, Lucarocas; A Deusa do Cabaré, Adalgiso de Oliveira; O Rufião Broxa Que Não Largou o Vício de Ficar na Rua Com Prostitutas, K. Gay Nawara; ABC da Meretriz, Bonelfo Coelho Cavalcante.
O pernambucano de Bezerros J. Borges é o mais longevo, criativo e reconhecido xilogravador do Brasil. Suas xilos já ilustraram inúmeros livros de autores nacionais e estrangeiros, como Eduardo Galeano (1940-2015). 
Além de xilogravador consagrado mundo afora, Borges também estende o seu talento no campo da literatura popular.  Entre tantos folhetos que já publicou, destaque para A Chegada da Prostituta no Céu. Já no começo desse folheto, Borges escreve:

Do rosto da poesia
Eu tirei o santo véu
E pedi licença a ela
Para tirar o chapéu 
E escrever a chegada 
Da prostituta no céu

Sabemos que a prostituta
É também um ser humano 
Que por uma iludição 
Fraqueza ou desengano 
O seu viver é volúvel 
Sempre abraça ao engano

Em 1975, a diretora de cinema Tânia Quaresma (1950- 2021) assinou o longa Nordeste: Cordel, Repente e Canção. Nesse filme, uma pérola do gênero, aparecem os ainda iniciantes Zé Ramalho e a dupla de emboladores Caju e Castanha. Aparece também o poeta e rabequeiro Cego Oliveira (1912-1997) interpretando um verdadeiro clássico da poesia popular. Um trecho:

Estava cantando em Goiânia
Na casa de um amigo
Quando uma mulher mundana
Chegou pra falar comigo...

Por Deus escreva um poema
Relativo ao meu dilema
Na Porta dos Cabarés

Deixei a casa paterna
Com 15 anos de idade
Para viver na taverna
De escândalo e vaidade...

De chorar tenho razões 
Sem ter dos meus pais notícias
Por pai, por mãe e por irmão
Eu tenho somente a polícia...

E agora meus senhores
Acabei de terminar
Hajam de me desculpar...