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domingo, 7 de abril de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (87)

Nos tempos do Brasil Império muitos autores puseram seminaristas, padres e bispos nas páginas de seus romances. Bernardo Guimarães (1825-1884), por exemplo, pintou de doido o personagem Eugênio recém-saído do seminário pra onde fora mandado a contragosto pelo pai, espécie de coronel. Autoritário, manda-chuva do lugar.
Eugênio mantém por todo o tempo na memória a lembrança de uma amiga de infância. Seu nome é Margarida, por ele apaixonada. Os dois prometem se casar e serem felizes para sempre. Mas aí entra o destino. Termina em tragédia. Livro: O Seminarista (1872).
Em tragédia também finda o romance Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco (1825-1890).
No seu mais conhecido romance Castelo Branco, que deixou uns 300 livros publicados, põe na sua história um jovem estudante de Direito em Coimbra, Simão, que se apaixona perdidamente por uma moçoila pra lá de bonita. E tudo vai mais ou menos numa boa. O pai da jovem não aceita o estudante como genro. Encurtando: a menina de nome Teresa, é enfiada num convento e logo adoece e morre de tuberculose. Ele morre também, no mar. E atrás dele segue uma jovem cujo amor ele não correspondia com a mesma intensidade que ela desejava. Seu nome: Mariana. Mas isso não quer dizer que Simão, Teresa e Mariana não formassem um trio cheio de vontade de um ter ao outro.
Eça de Queiroz era português e Camilo Castelo Branco também.
Castelo enfrentou problemas com a jogatina. Era viciado. Com o tempo ficou cego e, desesperado, deu um tiro no coco, mas antes disso, cumpriu pena na cadeia do Porto numa cela contígua à cela do bandido Zé do Telhado (1818-1875).
O brasileiro de Minas Bernardo Guimarães (1825-1884) deixou uma obra ótima. Além de O Seminarista, ele escreveu A Escrava Isaura (1875). Há amor nas páginas desse livro, tortura e morte também. Ganhou a tela da Globo e o coração dos chineses. É de fins do século 19.
Bernardo foi um dos autores pioneiros na arte de versificar amor e sexo, prazer, paixão e erotismo.
Em 1875 ele discorre sobre a temática em pelo menos dois longos poemas marcantes: A Origem do Mênstruo e O Elixir do Pajé.
Em Origem do Mênstruo, o famoso romancista começa cantando em quadras a mulher e deuses como Vênus, Cupido, Vulcano, Anquises, Marte. Fala isso tudo com talento invejável. E coragem, pois a época palavrões e coisas que tais diziam-se e faziam-se nos escuros da madrugada. Bernardo:

‘Stava Vênus gentil junto da fonte
Fazendo o seu pentelho,
Com todo o jeito, p’ra que não se ferisse
Das cricas o aparelho.

Tinha que dar o cu naquela noite
Ao grande pai Anquises,
O qual, com ela, se não mente a fama,
Passou dias felizes…

Rapava bem o cu, pois resolvia,
Na mente altas ideias:
— Ia gerar naquela heróica foda
O grande e pio Enéias.

Mas a navalha tinha o fio rombo,
E a deusa, que gemia,
Arrancava os pentelhos e, peidando,
Caretas mil fazia!...

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora