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sábado, 28 de setembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (133)

Aldous Huxley

É certo que Ariano Suassuna inspirou-se nos cavaleiros medievais para desenvolver muitas das suas tramas. Estudou, estudou e virou povo.

Tudo o que Ariano Suassuna escreveu tem o dedo do povo, a presença do povo. Porradas e sofrimentos, alegrias e tristezas. E sonhos. Nada de sadismo ou masoquismo, apenas vontade de viver brincando.

Assim como Ariano, foi François Rabelais (1494-1553).

Tudo que Rabelais escreveu foi baseado nos contos e lendas do povo. Está tudo em Gargântua e Pantagruel, obras que se completam.

Também no poço insecável da cultura popular bebeu o imortal Shakespeare, para nosso deleite.

Falar desse autor de tantas obras-primas, nunca é demais.

O inglês Aldous Huxley (1894-1963) tinha nele um mestre, como o nosso Machado de Assis. No romance futurista Admirável Mundo Novo (1932), Huxley inspirou-se, é certo, em Shakespeare.

Nesse livro, o autor de Hamlet e Otelo está de modo muito forte presente. Até o título do seu famoso livro Huxley inspirou-se em Shakespeare tirando-o de A Tempestade, publicado originalmente em 1510/11:


(Abre-se a porta da cela, deixando ver Ferdinando e Miranda, que jogam xadrez)

MIRANDA — Estais usando de esperteza, príncipe.

FERDINANDO — Não, querida; por nada neste mundo poderia fazê-lo.

MIRANDA — Sim, por um par de reinos poderíeis altercar, e eu vos juro que chamara a isso jogo correto.

ALONSO — Se tudo isto for outra vez uma ilusão desta ilha, duas vezes perdi meu caro filho.

SEBASTIÃO — Oh Milagre estupendo!

FERDINANDO — Muito embora ameacem sempre, os mares são piedosos. Amaldiçoei-os sem razão para isso. (Ajoelha-se em frente de Alonso.)

ALONSO — Que te envolvam as bênçãos incontáveis de um venturoso pai. Alça-te e dize como aqui vieste ter.

MIRANDA — Oh! Que milagre! Que soberbas criaturas aqui vieram! Como os homens são belos! Admirável mundo novo...


A tempestade do título da peça é provocada pelo mago Próspero, um conde que foi traído pelo rei Alonso. Numa manobra sacana, Alonso faz Próspero confinar-se numa ilha distante de tudo. Pra essa ilha foi também a filha de Próspero, Miranda. O Exílio dura 12 anos e a filha de Próspero acaba apaixonando-se por um cara chamado Ferdinando. E a história segue.