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sábado, 27 de fevereiro de 2010

VANDRÉ, VINIL, SIBA, CORDEL E CASCABULHO

Há um tempo, Vandré me perguntou se eu sabia da existência de alguma fábrica de disco de vinil no Brasil. Repondi que ouvira falar de uma, com atividade no Rio de Janeiro.
Perguntei a razão do seu interesse. Respondeu: gostaria de lançar algo no formato de LP.
No texto anterior, abaixo, o dono do sebo Ventania, Alcides Campos Filho, diz crer no retorno da produção de disco de vinil.
Hoje no Caderno 2 do Estadão, li matéria assinada por Lauro Lisboa sobre o assunto: a volta do vinil nacional.
A fábrica é a Polysom, única no gênero no Brasil e em toda a América Latina. Alguns álbuns de pop-rock chegarão à praça nos primeiros dias do próximo mês.
Os responsáveis pela Polysom dizem que têm condições de fabricar até 28 LPs e 12 mil compactos/mês.
É o começo. Melhor: o recomeço.

FIM DO CORDEL
- O grupo Cordel do Fogo Encantado acaba de se dissolver. O lamentável anúncio da decisão tomada por Lirinha foi feito quarta 24, no site do grupo. Lembro de Lirinha, pernambucano de nome cristão José Paes de Lira, no programa de rádio que eu apresentava em Sampa, São Paulo Capital Nordeste. Cabra bom, o Lirinha; bom de papo e dono de grande talento. À época em que o conheci, fins dos 90, o grupo estava tomando pé e nem disco gravado tinha ainda. Gravou três. Carregou influência positiva de Chico Science, Nação Zumbi e Mundo Livre S/A. Pena. Lamento o seu fim.

FIM DO CASCABULHO
- O fim do Cordel me faz lembrar o fim do Cascabulho, que também esteve no São Paulo Capital Nordeste, à época, 98, lançando o primeiro CD: Fome Dar Dor de Cabeça. Seguia na batida do rojão do mitológico Jackson do Pandeiro. À frente do grupo, o incrível Silvério Pessoa, que seguiu carreira solo e na França, hoje, é até mais conhecido do que o mau hábito comum dos garçons ao atender visitantes estrangeiros.

FIM DO MESTRE AMBRÓSIO
- Outro grupo que deixou saudade foi Mestre Ambrósio, fundado por Sérgio Veloso, o Siba, hoje fazendo miséria na região da zona da Mata, no interior de Pernambuco, com seu Fuloresta, que vale a pena ouvir. O primeiro CD do Mestre Ambrósio surgiu em 96 e um ano depois, mais ou menos, também o levei ao meu programa, São Paulo Capital Nordeste. Siba viria a aparecer numa cena do filme de produção franco-brasileira Saudade do Futuro, que teve por base um dos meus livros, A Presença dos Cordelistas e Cantadores Repentistas em São Paulo (Ibrasa). Esse filme, nunca lançado no Brasil, pode ser adquirido (DVD) via Livraria Cultura, a pedido. Claro, recomendo.

SAMBA DO ARNESTO
- Vi há pouco na novela Tempos Modernos o Antônio Fagundes cantar Samba do Arnesto, do Adoniran Barbosa, imortalizado pelo grupo musical mais antigo em atividade profissional ininterrupta do mundo, o paulistano Demônios da Garoa, cuja biografia lancei em livro ano passado. A primeira edição está esgotada. Bom, bem que podiam pôr mais músicas do repertório nacional nas novelas, não?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

ALCIDES CAMPOS FILHO E O SEBO VENTANIA DISCOS

O paulistano Alcides Campos Filho (na foto, ao lado) é proprietário de um dos mais importantes sebos de discos e livros de São Paulo, o Ventania, que fundou no centro da cidade há 25 anos. No momento em que o CD entra em crise, ele não se faz de rogado e diz que o velho disco de vinil ressurgirá logo, logo, mas sem grandes tiragens de fábrica. Nesta entrevista, Alcides fala sobre o mercado de discos e um pouco de si próprio.
Ah! Sim: sou frequentador assíduo desse sebo. E se o leitor aí ainda não o conhece, eu o convido a conhecê-lo. Valerá a pena.
As perguntas feitas a Alcides, seguidas das respectivas respostas, são as que se seguem:

Blog do Assis: A loja de discos Ventania foi criada quando?
Alcides Campos: EM NOVEMBRO DE 1985, O DIA SÓ DEUS SABE!
Blog: Em que atividade profissional você se ocupava antes?
Alcides: EU TRABALHAVA EM FARMÁCIA, VENDENDO DROGAS. TAMBÉM TRAB ALHEI COM SEGUROS E SOU CORRETOR DE SEGUROS FORMADO, MAS NÃO GOSTO DA PROFISSÃO.
Blog: Por que o nome Ventania?
Alcides: PORQUE NA ÉPOCA EU ERA ENGAJADO POLITICAMENTE E GOSTAVA MUITO DO GERALDO VANDRÉ (AINDA GOSTO, MAS HOJE SOU MENOS FANÁTICO) E QUERIA HOMENAGEÁ-LO. E AÍ ESCOLHI O NOME DE UMA DE SUAS MÚSICAS, “VENTANIA ou DE COMO UM HOMEM PERDEU SEU CAVALO E CONTINNUOU ANDANDO”, PARCERIA COM O HILTON ACCIOLY.
Blog: Quantos discos formam o acervo da Ventania?
Alcides: MAIS OU MENOS 100 MIL, MAS JÁ TIVEMOS MAIS.
Blog: Você tem ideia de quantos discos já vendeu?
Alcides: SE CONTAR OS QUE EU VENDI EM LOTES, MUITOS. DEVE ESTAR GIRANDO EM TORNO DE 500 MIL ITENS.
Blog: Qual o seu gosto pessoal?
Alcides: NO GERAL QUASE TUDO, DESDE O GÊNERO BREGA ATÉ O JAZZ. CLÁSSICO NÃO, POIS ESSE GOSTO PRECISA VIR DE BERÇO. DE Q UALQUER FORMA, PROCURO OUVIR MAIS MUSICA BRASILEIRA. QUANDO OUÇO MUITO ROCK, FICO COM UM POUCO DE REMORSOS. SOU BASTANTE NACIONALISTA
Blog: Quais as raridades em disco que já passaram por suas mãos?
Alcides: MUITAS EU VENDI ATÉ POR PRECISÃO, COMO O LP DUPLO DO ZÉ RAMALHO (“PAEMBIRU”) COM O LULA CÔRTES. OUTROS NEM QUIZ FICAR, COMO O PRIMEIRO DO ROBERTO, O “LOUCO POR VOCÊ”, QUE VALE ATÉ TRÊS MIL REAIS POR AÍ NO MERCADO. MUITOS ORIGINAIS DO GONZAGÃO, INCLUSIVE OS QUATRO DE 10 POLEGADAS QUE ELE GRAVOU E HOJE SÃO REAIS RARIDADES. TAMBÉM O DISCO DO ELVIS PRESLEY QUE SAIU SÓ NO BRASIL, CUJA CAPA É UM CALENDÁRIO. NESSES 25 ANOS DE COMÉRCIO NO CAMPO DA MÚSICA JÁ PASSARAM MUITAS RARIDADES PELAS MINHAS MÃOS.
Blog: O que identifica um disco como raridade? Tiragem pequena e procura maior do que a oferta, valorização internacional...
Alcides: TIRAGEM PEQUENA É UM DOS ITENS QUE IDENTIFICAM UM DISCO RARO.
Blog: Qual o disco mais caro hoje em dia?
Alcides: NO BRASIL, AINDA O PRIMEIRO LP DE ROBERTO CARLOS. E TAMBÉM O “PAEMBIRU”, DO ZÉ E DO LULA.
Blog: Você vende mais vinil ou CD, nacional ou estrangeiro?
Alcides: MAIS VINIL. CD ESTÁ PRATICAMENTE FALIDO, SAINDO POUQUÍSSIMO. ENTRE NACIONAL E ESTRANGEIRO, EU DIRIA “MEIO A MEIO”. O QUE VENDE MAIS SÃO DISCOS DOS ANOS 70 PRA BAIXO, INCLUINDO SERTANEJHOS E DE AUTORES/INTÉRPRETES NORDESTINOS. ROCK TAMBÉM É MUITO PROCURADO AINDA. HEAVY METAL É MUITO PROCURADO.
BLOG: O vinil tem chance de voltar?
Alcides: NO EXTERIOR, TEM VOLTADO COM MAIS VELOCIDADE. AQUI, NO BRASIL, MAIS DEVAGAR. DE QUALQUER FORMA NÃO CREIO QUE VOLTE EM GRANDE ESCALA, NO BRASIL. VOLTARÁ COM PEQUENAS TIRAGENS, MAIS PARA COLECIONADORES, ATÉ PORQUE O PREÇO É SALGADO.
Blog: Há muita procura ainda por discos de 78 RPM?
Alcides: NÃO MUITA, MAS OS POUCOS COLECIONADORES QUE EXISTEM SÃO FANÁTICOS E ESTÃO SEMPRE SEDENTOS PELAS VELHAS NOVIDADES QUE APARECEM.
Blog: Fale agora um pouco sobre você.
Alcides: SOU DA TURMA DOS 50. NÃO GOSTO DE MUITA AGITAÇÃO. SOU VICIADO EM LEITURA E CULTURAL, EM GERAL. APRECIO A NATUREZA, TEATRO, CINEMA E, CLARO, MÚSICA. DEVO DIZER QUE A FAMÍLIA EU ACHO SER DA MAIOR IMPORTÂNCIA, EMBORA HOJE ESTEJA QUASE EXTINTA, POR CAUSA DA “MODERNIDADE” QUE FAZ PAIS E FILHOS SE ESTRANHAREM QUASE O TEMPO TODO. FALTA TEMPO NA CIDADE GRANDE. A VIDA É MEIO LOUCA. EXAGERO AO DIZER ISTO?
Blog: Mais alguma coisa:
Alcides: NÃO. O MEU E-MAIL: cialga@uol.com.br

SHOW DA FÉ
- Atentem para o título. Pois bem, vi e ouvi incrédulo há pouco, na Rede Bandeirantes, absurdos proferidos no programa de um tal RR Soares, prometendo mundos e fundos aos bestas que o acompanham. Dá cana, pois tudo ali é propaganda enganosa. Art. 121 do Código Penal Brasileiro. De lascar!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

CÉLIA & CELMA, CARNAVAL E TANCREDO NEVES

O final do texto da última postagem dá conta da presença de Célia e Celma no carnaval de São João Del Rey, cantando antigas marchinhas. O detalhe é que elas cantaram num palco improvisado (no flagrante, ao lado) na Avenida Tancredo Neves apinhada de gente, o que me fez lembrar, claro, Tancredo como tema musical e também da nossa literatura de cordel, significativas expressões da cultura popular.
Tancredo, que não dançava e nem tocava violão, tampouco cantava como o seu conterrâneo Juscelino pé-de-valsa Kubistchek, gostava, porém, de boas cantigas como Coração de Estudante, de Wagner Tiso e Milton Nascimento, gravada em LP em 83 pouco antes de ir às ruas a campanha pelas Diretas Já, que levou à Praça da Sé paulistana uns dois milhões de cidadãos e cidadãs, dos oito aos oitent´anos.
Desnecessário dizer que a canção referida serviu de trilha sonora do velório e féretro do presidente eleito, que morreu antes de assumir o cargo.
Pois bem, pelo menos dois bonitos sambas-enredo foram levados em sua homenagem à avenida, em 2002 e 2006.
O primeiro, De Minas para o Brasil: Tancredo Neves, o Mártir da Nova República, pela escola de samba Unidos da Ponte, de São João do Meriti, RJ, e o segundo, De Tiradentes a Tancredo, a Terra Onde os Sinos Falam, pela escola de samba Juventude Imperial, de Juiz de Fora, MG.
Os folhetos de cordel escritos e publicados sobre o velho político mineiro foram muitos, entre os quais Tancredo, Mensageiro da Esperança, de Elias A. de Carvalho; Campanha, Vitória e Morte do Presidente Tancredo, de Gonçalo Gonçalves; História dos Sofrimentos e da Morte do Dr. Tancredo Neves, de Joaquim Batista de Sena; Verdadeira História da Vida e Morte de Tancredo Neves, de Manoel Morais; e Tancredo foi Prestar Conta no Tribunal de Jesus, de Antônio Ribeiro da Conceição.
Tancredo Neves se iniciou na carreira política como vereador em 1935, no município de São João Del Rey, onde nasceu.
Aliás, uma extensa programação alusiva ao seu primeiro centenário de nascimento está sendo elaborada pelo governo mineiro, à frente Aécio Neves, seu neto.
As comemorações têm como ponto de partida o Memorial Tancredo, a ser inaugurado no próximo dia 4, em São João Del Rey.

AINDA EU NO CA RNAVAL
- Recebi alguns e-mails a respeito da minha aparição relâmpago na telinha global. Houve quem observasse que não pulei coisa nenhuma, que nem cantar o tema-enredo da escola eu cantei. Houve também quem apostasse que não gostei da experiência, pois não fiz acenos e nem mandei beijos a quem nos assistia tão devotadamente. Enfim, que me plantei em cima do carro alegórico e lá fiquei que nem jabuti. Bom, nessas observações há verdades e meias verdades que não pretendo esclarecer. Posso dizer, porém, que fiquei num ponto estratégico de observação. Isto é, procurei observar quem me observava. Inverti a posição. Quis saber dos olhos que nos vêm. E querem saber de uma coisa? Não vi muita alegria espontânea, não.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

NEGAR, NÃO NEGO: FOI BOM PULAR NO CARNAVAL

Amanhã a partir das 22, no sambódromo do Anhembi, cá em Sampa, a folia de Momo recomeça com as chuvas, os ventos e o calor de sempre deste verão louco, muito louco.
Primeiro entrarão na avenida sob as vistas e os aplausos do público a campeã e a vice-campeã do Grupo de Acesso, Nenê de Vila Matilde e a Unidos do Peruche, seguidas de outras com ótimas notas tiradas terça passada, durante a apuração dos votos dos jurados: Gaviões da Fiel, Mancha Verde, Vai-Vai, Mocidade Alegre e Rosas de Ouro, que faturou o primeiro lugar contando a história do chocolate.
A diferença da primeira sobre a escola que ficou em segundo lugar, a Mocidade, que desenvolveu e defendeu com raça, graça e samba dos bons nos pés o curioso e bem-feito enredo Da Criação do Universo ao Sonho Eterno do Criador... Eu sou Espelho e me Espelho em quem me Criou, foi de apenas 0,25 pontos.
Pode?
Achei injusto.
Injusto eu achei, sim, mas por outro lado não ligo, não: eu não ia mesmo desfilar de novo...
O tema da minha escola, a X9 Paulistana, de cores verde, vermelho e branco, bonita que só, foi Do Além-mar, a Herança Lusitana nos Une... Ora, pois, a X9 é Portuguesa com Certeza, lembrando os 100 anos da república portuguesa e a revolução dos Cravos.
Ao meu lado, no 2º alegórico intitulado Língua que nos Une, cantaram e sambaram em destaque e felizes que nem passarinhos diante de gordos sacos de alpiste, os poetas Álvaro Alves de Faria, Celso Alencar e Luiz Roberto Guedes, mais a atriz Wendy Villa-Lobos e o cantor Roberto Leal, que há muito eu não via.
Foi uma experiência e tanto a que passei na madrugada de sábado para domingo últimos, 14 para 15.
A prova ilustra este texto, feita pelo amigo brasileiro-catalão Gabriel Martinez, um craque da computação, a quem agradeço de coração.
A X9 entrou linda no sambódromo com cinco carros alegóricos e 24 alas, totalizando quase 3.000 pessoas.
Perdemos da Rosas, nem sei por quê.
Coisa de jurados despeitados, eu acho.
Bom, ano que vem tem mais.

RIO DE JANEIRO
- O desfile das campeãs cariocas está marcado para depois de amanhã, a partir das 21horas. Gostei do que vi a Tijuca fazer na avenida. Mereceu o título. Ninguém falou, mas deixo registrado aqui o seguinte: a sugestão do tema campeão do carnavalesco Paulo Barros (É Segredo!) foi sugerido por um garoto de 15 anos, Vinicius Ferraz, via Orkut.

BRASILIA
- Os blocos de carnaval se multiplicam no País a cada ano, sempre animados e críticos. Pacotão, por exemplo, dos mais tradicionais da capital federal, bagunçou o coreto, isto é as ruas, com faixas que faziam referência aos políticos desonestos, com seus integrantes cantando no tom de marchinha: “Quem foi, quem foi/Que fez esse ebó?/Derrubou Arruda/E de lambuja o P.O.?”. P.O., no caso, é Paulo Octávio, o vice-governador que tem rabo preso com meio mundo e está para ser catapultado da cadeira do governador ladrão daqui a horas.

MINAS GERAIS
- As irmãs Célia e Celma mandam mensagem por e-mail informando que arrasaram em São João Del Rey, cantando marchinhas na Avenida Tancredo Neves, lotada.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

QUEM DIRIA: EU EM RIBA DUM CARRO ALEGÓRICO...

O amigo Paulo Vanzolini, de Ronda e Volta por Cima, e de outros sambas inesquecíveis do cancioneiro popular, do alto da sua experiência e convicção, diz que desfilar na avenida “para o povão” foi uma das suas maiores emoções já vividas, até hoje. Essas emoções ocorreram em 1988, quando desfilou pela Mocidade Alegre. Tema: O Cientista Paulo Vanzolini, de Roberto da Tijuca, Nenê Capitão e Wagner do Cavaco. Terminava assim:

...De noite eu rondo a cidade
Em busca de paz e de amor
Uma triste cena aconteceu
Que abalou meu coração
Na Avenida São João.

Ôôôôôô, ai que saudade me dá
Oi, deixa a lira me levar
Levanta sacode a poeira, dá volta por cima
Entra na roda, quero ver você sambar.

Inezita Barroso, também amiga e grande intérprete da nossa música, diz com o sorriso largo que a caracteriza desde sempre que desfilar lhe é tão importante quanto cantar uma bela canção; ou, mesmo, respirar nestes tempos de Momo e folia.
Faz tempo que ela desfila. Até tema de samba-enredo já foi. O primeiro em 1992, assinado pelos carnavalescos da escola Combinados de Sapopemba, campeã do carnaval (Grupo III) daquele ano. Tema: Inezita Barroso, a Estrela da Manhã, de Kilder, Saraiva, Fubá e Bispo do Banjo. Começava assim:

Olha que beleza
Isto é São Paulo glorioso
Vem a Combinados cantar
Com Inezita Barroso

Naturalmente o carnaval ficou mais belo
Nasceu a menina no meio do samba
Entre danças e cirandas
Na moda caipira imperou
Na arte da comunicação
Seu sonho de vencer
Se fez realidade
Atriz, mulher de verdade...

E eu, hein? Ainda não conheço essas aludidas emoções.
Há uns cinco anos me chamaram para uns passos na avenida. Na dúvida, desisti.
Há uns dias, recebi novo convite e segundos depois nem quis crer que havia topado.
Acho que estou ficando besta...
O tema carnaval me remete à minha querida cidade-berço, João Pessoa.
No começo dos anos de 1970, adentrei ao carnaval via o Clube Astréa, da capital paraibana, mas no papel de repórter-narrador ao vivo da folia de Momo para a Rádio Correio da Paraíba, onde trabalhei como redator e locutor noticiarista.
Anos depois, já em Sampa, fui escalado em momentos diferentes pela Folha e Diário Popular, já extinto (hoje, Diário de S. Paulo), para cobrir eleição de rainha e rei momos e preparativos outros para os dias de carnaval. Mas os pés na avenida, mesmo, eu nunca os pus.
Essas lembranças me levam a outras.
Numa entrevista para a revista Visão, já extinta, o compositor, cantor e ator bissexto itapirense Henricão, de batismo Henrique Felipe da Costa, ex-marido de Carmen Costa e autor do hino carnavalesco Está Chegando a Hora, versão não revelada da canção mexicana Cielito Lindo, me disse que o seu sonho maior era ser Rei Momo do carnaval de São Paulo. O sonho foi realizado em 1984, quatro meses antes de morrer, pobre e feliz.
Zé Kétti (foto acima) foi outro grande bamba que a vida levou, porém realizado com tudo que fez: A Voz do Morro, Opinião, Nega Dina, Acender as Velas, Malvadeza Durão, O Meu Pecado...
Conversei muito com Zé, com uísque e sem uísque, ora no seu apartamento, no meu ou na casa do amigo comum Artúlio Reis.
Uma vez, porém, o irritei perguntando se Máscara Negra era mesmo dele ou só de Pereira Matos.
Pra quê?
O Zé ficou bravo, subiu nos tamancos, soltou impropérios.
Disse que essa não era pergunta de amigo.
Depois, já calmo, eu lhe disse que é do instinto ou natureza do repórter perguntar, perguntar e perguntar quando sabe, e quando não sabe também.
Quando sabe, para ter certeza do que acha que sabe.
Quando não sabe, para aprender. Enfim...
Zé Kétti nunca desfilou na avenida e nem dançou em salão de baile, fosse ou não tempo de carnaval. “O meu negócio”, dizia, “é fazer o povo dançar”. E fevereiro era seu mês para ganhar dinheiro.
Máscara negra foi a última grande marcha rancho do carnaval.
Bom, vou tomar um negocim ali pra espantar aqui o calor que me toma; um banho frio depois e seguir lépido para a avenida, onde me aguardam os poetas Celso Alencar, Álvaro Alves de Faria...
Por volta da primeira hora da madrugada que vem, estarei me amostrando em riba do carro alegórico nº 2 (da Língua Portuguesa), da X9 Paulistana.
Skindô! E vamos que vamos!
Ah, o enredo da escola é Do Além-mar, a Herança Lusitana nos Une... Ora, Pois! A X-9 é Portuguesa com Certeza, de Júnior ABC, Márcio Camargo, Wagner, Rodney Cheto, Leonardo Trindade e Danilo Brito. A letra:

Veio d'além-mar...
E ancorou em nossa terra
Paraíso de belezas naturais
Jardim das Delícias de tantas riquezas
E o índio ele encontrou
E difundiu novas culturas
A miscigenação então surgiu
Salve a Pátria mãe gentil
Poetas, escritores, trovadores eternizaram
Um lindo idioma que jamais se viu
A língua máter do nosso Brasil
Vem pra cá cantar, sambar
Vem no balancê da nossa musicalidade
No futebol, a mesma paixão
Num só coração
A fé, a devoção em procissão... Ave-Maria
A religião traz emoção... nas romarias
Vem dessa crença a proteção
Pra nossa escola sambar feliz
Um centenário de história
Heranças deixadas em nosso País
Hoje faço a festa com a minha bateria
Meus 35 anos de alegria!
Ora, pois, quem vem aí
É a X-9 com certeza!
Valente, guerreira, luso-brasileira
Canta a herança portuguesa

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

ARMANDO FALCÃO E LUIZ. ALGO A VER ENTRE OS DOIS?

O cearense de Fortaleza Armando Falcão, ex-ministro da Justiça do governo Geisel (1974-79), foi enterrado ontem 11 no Cemitério São João Batista, no Rio, um dia após falecer.
Que descanse em paz.
Para muita gente, porém, ele já havia se ido há muito.
Foi para os domínios da escuridão com 90, de idade.
Ficou famoso pela frase “nada a declarar”, dita toda vez que algum repórter mais abusado o abordava com um assunto polêmico qualquer.
Era linha dura-duríssima, e assim, como tal, gostava de ser considerado.
Orgulhava-se.
O golpe de 64, ele o defendia com todas as unhas.
Mais radical que Golbery.
Teve uma passagem rápida pelo governo Kubistchek.
Uma, não: duas.
Foram passagens que nada acrescentaram à democracia brasileira, pela qual tanto brigamos.
Eu o entrevistei em 1989, quando dava pontos finais à redação do livro Eu Vou contar pra Vocês, que a Ícone publicou.
Ele, por sua vez, estava lançando o livro Nada a Declarar, na livraria Cultura, ali da Paulista, do Pedro Hertz, com quem convivíamos nas rodas literárias de sábados, ao lado de grandes como Marcos Rey, redator do Sítio do Pica pau e autor do belo Enterro da Cafetina.
Pois bem, a entrevista com Falcão girou em torno de Luiz Gonzaga, o rei do baião.
Gonzaga, recém saído do Exército como corneteiro (“nunca dei um tiro sequer”, ele me disse) , tentava a vida artística no Rio de Janeiro, na área do velho mangue, de rufiões, cafetinas e meninas da vida.
Tocava sua sanfona ao lado do guitarrista português Xavier Pinheiro e depois rodava o pires, o chapéu.
Com isso, ia vivendo.
Até que um dia um grupo de estudantes lhe perguntou de onde era.
Pergunta respondida, a provocação:
– E por que você não toca as coisas da nossa terra?
À página 56 do livro Eu vou Contar pra Vocês, de 1990, na nota de pé de página, o depoimento do ex-ministro, pra mim:
“Luiz acabara de sair do Exército e estava em situação difícil, financeiramente. Primeiro nos encontramos na (rua) Visconde de Paranaguá e logo nos fizemos amigos. Ele passou, então, a freqüentar a nossa república, onde cantava, tocava e depois corria o pires. Fazíamos uma espécie de ´vaquinha´ para ajudá-lo. Na verdade, éramos todos pobres. Luiz tocava milongas, tangos e outras coisas que não tinham nada que ver com agente. Eu dizia a ele que tinha de tocar músicas do Nordeste, do Brasil. Aí um dia ele nos mostrou Vira e Mexe,a Cho. Gostamos muito e lhe dissemos que era por aí que deveria seguir a carreira artística que abraçara. O resto dessa historia todo mundo sabe”.
Ainda à pág. 56 do livro Eu Vou Contar pra Vocês, eu digo: Armando Falcão faz uma revelação:
“O nosso grupo de estudantes era formado por mim e meu primo Renato e os também primos Dante e Jaime Vieira, Antônio Gurgel Valente, Cêurio Oliveira e Carlos Edilson Matos”.
O depoimento findou com o ex-ministro dizendo que guardava consigo uma gravação inédita de Luiz Gonzaga, “uma paródia que fiz de Agora vou Mudar Minha Conduta (Com que Roupa?), de Noel Rosa, da qual gosto muito”.
Pois, pois, aí está algo sobre aquele que passou na vida, eternizando-se, com o bordão “nada a declarar”, declarando, porém, essas coisas sobre o artista mais importante da música popular brasileira, Luiz Gonzaga, divisor de águas da nossa música. Aliás, concluo: sem Armando Falcão, muito dificilmente Luiz Gonzaga teria sido o que foi, artisticamente, pois o encontro dos dois abriu em Gonzaga um grande pensamento em torno do Nordeste. Fundamental. Foi um encontro de definições de rumos. E isso certamente pesará no julgamento final.
Ou não?

CHIQUINHA GONZAGA I
- A compositora e instrumentista carioca Franscisca Edwiges (1847-1935), a Chiquinha Gonzaga, passou pela vida deixando às gerações seguintes um legado fantástico, que em números até hoje tem sido impossível com exatidão calcular. Muitos falam de uma obra constituída de cerca de 2 mil títulos. O amigo Braz Baccarim, que sabe de muitas coisas em torno da nossa música, por e-mail me chamou a atenção:

Assis,
Para bem da verdade, a quantidade de obras da autora não chega a 400. Você poderá fazer um estudo a respeito, pois nenhum compositor, ao longa de sua carreia, consegue compor mais de 300 músicas. No começo da carreira é uma produção imensa, depois começa minguar. Veja como exemplo, Ary Barroso e Herivelto Martins.
Um abraço.
O assunto dá pano pra manga.

CHIQUINHA GONZAGA II
- Do colega jornalista Matias Ribeiro, recebo:
Assis,
Para o teu banco de informações, aqui vão currículos sucintos de Gilberto Assis & Ana Fridman, os inventores do projeto Chiquinha em Revista.

Gilberto Assis
Bacharel em Música pela FAAM com Mestrado em Artes pela PUC-SP. Com formação técnica em áudio pelo IAV em São Paulo e Alchemea College em Londres, atua como professor de Composição e Produção Musical em nível superior (FASM e Anhembi-Morumbi). Como compositor e produtor atuou ao lado de Tom Zé na trilha original Santagustin (2001) para o Grupo Corpo de Dança (Brazil/Italy, Milan Records) e no CD Jogos de armar, lançado pela Trama em 2000. Fazem parte deste CD as músicas Desafio e Passagem de Som, compostas em parceria com Tom Zé. Participou da criação e direção da trilha sonora Sombras, composta em parceria com Carlos Kater por ocasião da exposição Victor Dubugras precursor do modernismo, realizada no Conjunto Cultural da Caixa em 2003. Mais recentemente, compôs a trilha Khaos para o Balé da Cidade de São Paulo e Degelo(2007) para espetáculo de dança de mesmo nome selecionado pelo Rumos da Dança. Em 2007 foi selecionado pelo projeto Rumos do Itaú Cultural na categoria homenagem, com peça em homenagem ao compositor Walter Smetak. Em 2009 arranjou e produziu o CD Chiquinha em Revista para o Selo SESC, com participação de Ná Ozzetti e Suzana Salles, entre outros.
Atuações fora do Brasil: 2008: Selecionado para participar do projeto 60X60 em NY, com várias apresentações de música e dança pelos EUA e participação em um CD coletânea de trilhas sonoras. 2008: Selecionado para apresentação de obra musical, vídeo e dança no festival Frammentazione, na Itália. 2006: Selecionado para participar do festival de música contemporânea Ai-Maako, no Chile.

Ana Fridman
Pianista de formação erudita e popular, graduada em Música e Dança pela Unicamp atua profissionalmente como compositora, pianista, arranjadora, bailarina e professora de Percepção e Harmonia. Fez mestrado em composição no California Institute of the Arts e cursos de extensão na Guildhall School de Londres, onde participou de encontros de compositores com tribos africanas e atuou como pianista em diversos grupos de jazz, além de mostrar seu trabalho como compositora. Em 2002 ganhou a bolsa Virtuose em Composição para estagiar com o grupo Kinetic Concert, de Londres. Lançou em 2004, pelo selo Zabumba Records, o CD O Tempo, a Distância e a Contradança, com músicas e arranjos de sua autoria, incluindo trilhas para teatro e dança, sendo este trabalho apresentado em unidades do Sesc, no projeto Jazz na Caixa e Auditório do Ibirapuera, entre outros. Atua como diretora musical para espetáculos multimídia, incluindo trilhas para o coreógrafo Ivaldo Bertazzo para os espetáculos: Além Da linha D'água, Mãe Gentil, Folias Guanabaras e Noé, Noé, entre outros. Em 2007 foi selecionada como compositora no projeto Rumos de mapeamento de música brasileira do Itaú Cultural em 2007; em 2009 participou como arranjadora e intérprete do projeto A Chiquinha que não Tocou no Rádio, patrocinado pela Caixa Cultural, com turnês em São Paulo, Curitiba e Brasília; ainda em 2009, foi selecionada pelo ProAC como compositora, arranjadora e intérprete para a gravação de seu segundo trabalho autoral, o disco Notas de um sem tempo. Atualmente cursa Doutorado em Música na USP, com pesquisa sobre as influências da música não ocidental na improvisação.

CHIQUINHA GONZAGA III
- Este texto é ilustrado por uma carta da Chiquinha Gonzaga, dirigida a João. Quem se habilita a lê-la e a me dizer quem foi João?

CHIQUINHA GONZAGA IV
- Gilberto Assis e Ana Fridman, antenas sensibilíssimas, são também dois músicos incríveis. Ele um contrabaixista, ela uma pianista pra lá de admirável. O projeto que ambos idealizaram precisa correr o Brasil, pois o que é bom precisa ser visto, no caso.
O Sesc está de parabéns e nós regozijados.

CARNAVAL
- Hoje ainda é sexta, amanhã é sábado de carnaval. E eu em riba dum carro... Quem diria, hein?

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

CHIQUINHA GONZAGA EM REVISTA, NO SESC. IMPERDÍVEL

Há 99 anos estreava no Teatro São José, do Rio de Janeiro, a peça em três atos Forrobodó, expressão em si que a meu ver, ao contrário de outros, nada tem a ver com o velho e bom forró de Luiz Gonzaga, o rei do baião.
Forrobodó é sinônimo de confusão.
E a música de Forrobodó de quem é?
É da primeira chorona do Brasil, também a primeira maestrina a reger uma orquestra no Brasil e primeira compositora da música popular do País a fazer real sucesso (deixou uma obra com cerca de dois mil títulos); filha de um general do Exército Imperial e afilhada do Duque de Caxias. Seu nome: Francisca Edwiges Neves Gonzaga, conhecida por Chiquinha Gonzaga, autora da primeira marchinha carnavalesca, Ó Abre Alas, feita em 1899 para o Cordão Rosas de Ouro e gravada integralmente pela primeira vez pelas irmãs Linda e Dircinha Batista, para a série da Abril Cultural, História da Música Popular Brasileira, sob a regência de José Menezes, somente em 1971, pois até então apenas trechos eram gravados... De todas, essa é a marchinha mais conhecida e inda hoje tocada nos salões de baile de carnaval.
O texto de Forrobodó levou a assinatura de Luiz Peixoto e Carlos Bittencourt.
Detalhe: pela primeira vez na discografia brasileira aparece a palavra baião numa composição musical, e essa composição vem a ser de autoria de... Chiquinha Gonzaga, em parceria com o poeta Viriato Correa. Título: A Sertaneja, de 1915.
Quatro anos depois, a dupla Gonzaga-Correa voltaria a incluir a palavra baião noutra composição, A Chinelinha do Meu Amor, acrescida à peça A Sertaneja, cuja letra é esta:

Prateia a serra, tudo prateia
O luar branco de minha aldeia
(O luar branco de minha aldeia)
Em minha terra, quando a lua sobre a serra
A saudade se desterra
Nos confins do coração
A natureza fica muda, fica presa
Enlevada na beleza
Do luar do meu sertão
Em minha aldeia quando brilha a lua-cheia
A matuta sapateia
Nos requebros do baião
E ao som do pinho da viola e cavaquinho
Tudo baila à luz de linho
Do luar do meu sertão!

Mas por que faço eu esse arrodeio todo?
Para dizer, meus amigos, que amanhã às 21 horas eu vou assistir Chiquinha em Revista, também título do CD que será lançado na ocasião, com a participação de Na Ozzetti, Vange Milliet, Suzana Salles, Carlos Careqa e Rita Maria e os craques em instrumentos diversos: Vitor Lopes (gaita), Ronen Altman (bandolim), Bel Latorre (clarone), Sérgio Reze (bateria e percussão), Paola Picherzky e Ítalo Peron (violão), Gabriela Machado (flauta), Luiz Guello (pandeiro), Luiz Amato e Esdras Rodrigues (violino), Emerson Lujiz De Biaggi (viola), Adriana Holtz (violoncelo) e Valdir Ferreira (trombone).
O CD está ótimo, já o ouvi.
Vem com 13 faixas, cada uma melhor que outra, a maioria há muito deixada ao limbo, como Passos no Choro, Fogo Foguinho (obra-prima), Sultana, Falena, Cubanita. E o que dizer de Tava Assim de Português e da já citada A Sertaneja?
Claro, Corta-jaca está entre as faixas selecionadas.
Cinco das 13 faixas de Chiquinha em Revista tem arranjos assinados pela ótima pianista Ana Fridman, uma atração especial, à parte.
Ana, junto com o contrabaixista Gilberto Assis, foi quem teve a idéia de trazer à tona essas pérolas de Chiquinha.
Meu Deus, como o Brasil é rico!
Vamos assistir Chiquinha em Revista, na unidade SESC Vila Mariana? Fica ali na Rua Pelotas, 141, Vila Mariana. Corra. Reserve entrada pelo telefone 5080.3000.

CARNAVAL
A folia de Momo está batendo à porta.
Vou-me amostrar em riba dum carro alegórico da X9, na madrugada de sábado pra domingo. Direi algo amanhã. Ou depois, sei lá!

PROJETO DE LEI
Quase na mesma hora – o dia foi o mesmo, segunda 8 - que embarcava de São Paulo para a Eternidade o mineiro sertanejo Pena Branca, dos bons, do palácio do governo, em Brasília, o seu inquilino Lula da Silva despachava para o Congresso Nacional projeto de lei prevendo responsabilização administrativa e civil a empresas cujos dirigentes metam a mão no cofre público.
Já estava mais do que na hora de providência nesse sentido ser tomada.
É o primeiro passo para o trem entrar nos trilhos.
Espera-se agora dos congressistas a aprovação do projeto, para carimbo real.
Se aprovado esse projeto de lei, será preso e julgado quem fraudar licitações, pagar propinas a servidores públicos ou praticar maquiagem de serviços em produtos fornecidos pelo governo.
No tocante à essa questão, diga-se, a legislação em vigor é branda e não prever instrumentos legais que garantam o ressarcimento de prejuízos provocados por gatunos ao erário público.
Fica o registro.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A M ÚSICA CAIPIRA ESTÁ DE LUTO. PARTIU PENA BRANCA

O mineiro Pena Branca, de batismo José Ramiro Sobrinho, partiu ontem à noite para se encontrar com o irmão Ranulfo, no céu. Tinha 70 anos.
Em 1994, num dos discos da série Som da Terra que ajudei a fazer, no encarte escrevi:
“Depois de Cornélio Pires e sua turma, que representaram com categoria incomum a primeira geração de artistas sertanejos ou caipiras de verdade, e da segunda (geração) que foi encabeçada por gente do naipe de Tião Carreiro e Pardinho, por exemplo, fora alguns mais já citados nesta série memorial, poucos são, hoje, os artistas e fábricas de discos que se dispõem, de fato, a fazer e a divulgar esse velho, belo e judiado gênero musical”.
Mais:
“Mas nem tudo está perdido, pois por aí andam a incansável Inezita Barroso; o doce Zé Coco do Riachão, o instigante Rolando Boldrin sempre recusando modismos e construindo aos poucos uma obra monumental; Renato Andrade, com sua viola mágica... Enfim, o time é bom, mas precisa de reservas que, por sorte, vão surgindo aqui e ali”.
E aí eu falava da sensibilidade e da arte de Pena Branca e Xavantinho, que “são ótimos”; e os recomendava ao criador:
“Que Deus os mantenha assim”.
O disco trazia 14 faixas, entre elas os clássicos Cuitelinho, O Cio da Terra, Vaca Estrela e Boi Fubá, Penas do Tié e Cálix Bento.
Tornou-se raridade esse disco, mas diz sábio ditado: "Quem procura, acha".
Conheci a dupla num programa especial de fim de ano do qual participei, na TV Gazeta, num ano qualquer do século passado.
Depois nos vimos e nos falamos muitas vezes.
A última vez que vi e troquei um dedo de prosa com Pena foi num corredor da Rádio Record, poucos antes de gravar uma entrevista, junto com os Demônios da Garoa, no começo da segunda quinzena de dezembro de 2008.
É isso.
A foto que ilustra este texto foi feita e enviada pelo amigo e chefe de jornalismo da Rádio Record Anderson França, ao lado de quem apareço junto com Pena e Cesar de Holanda, também da Record.
Com o encantamento de Pena Branca, a música caipira só perde.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

PONTO DE CULTURA E TINHORÃO, 82

O pé d´água das quatro não caiu hoje por estas bandas de Campos Elíseos, onde moro perrto de Tinhorão e Inezita Barroso, meus vizinhos portanto.
E amigos.
Mas o tempo tá de cara amarrada, escuro, ameaçador. Sei não...
Desabou o pé d´água de hoje nas zonas Leste e Sul da cidade, começando nos últimos minutos das 18, a hora do Angelus...
Os primeiros bairros atingidos pelas águas do céu foram Ipiranga, Vila Mariana, Saúde e Santo Amaro, e também parte da marginal de Pinheiros.
O pessoal do Centro de Gerenciamento de Emergências de São Paulo cuidou logo de decretar estado de atenção nas partes inundadas, preventivamente... Não sei pra que serve isso, esse negócio de decretação de estado de atenção etc.
Mas, enfim, isso aconteceu hoje e hoje faz 47 dias de chuvas seguidas na capital paulista, com muitas mortes e milhares de desabrigados, sem o governo fazer nada que preste.
Se a chuva não caiu por cá, pras minhas bandas, foi por uma boa razão, creio, que deve ser creditada ao Pedrão lá de cima: a apresentação do pessoal do Galpão Raso da Catarina, que tem à frente o paraibano, meu amigo, Alessandro Azevedo, e que existe há uma dúzia de anos na Vila Madalena, cá em Sampa.
O pessoal do Raso apresentou na comunidade do Moinho, nas minhas proximidades, entre 17 e 18 e pouco, um espetáculo permeado de simplicidade, com números de malabarismos, equilíbrio, dança e música.
Na assistência, tudo gente simples. Tudo povo.
O Brasil pé no chão.
A apresentação marcou o lançamento de mais um ponto de cultura em São Paulo...
Taí, eu acho isso importante.
No caminho de volta, e de carona no carro da minha companheira Andrea, a atriz Ester Góes lamentou apenas uma coisa, e fora do tema, mas a ver: a dificuldade de os artistas excursionarem pelo País hoje, o que era bem mais fácil no século passado...
Conheci Ester em Brasília, durante entrevista para o Jornal de Brasília, no qual publiquei muita coisa. Faz tempo...
Mas, enfim, na vida tem que ter pão e circo; e como tudo, com equilíbrio.
E por falar em pão e circo, este é o mote da entrevista do ministro Juca Ferreira a Maíra Kubík Mano, da publicação Le Monde Diplomatique Brasil. Título: Cultura: uma Necessidade Básica.
Recomendo a leitura.
Pois bem, necessidade básica é conhecer as diversas facetas da cultura do Brasil, principalmente. E imprescindível é ler, sem dúvida, e imediatamente, a obra escrita disponível no mercado (Editora. 34) do garimpeiro da cultura brasileira José Ramos Tinhorão, que hoje, alliás, está completando 82 anos de idade.
Em nome de muita gente, agradeço por todas as trilahs que ele tem nos indicado no tocante à história do Brasil.
Viva Tinhorão!

CORINTHIANS
- Enquanto isso, o Timão continua ganhando. Enfiou ontem 4 na rede do Sertãozinho, no Pacaembu. Os dois times voltarão a se enfrentar no próximo sábado de carnaval. Eu estarei me amostrando no sambódromo, num carro alegórico da X9.
Falarei a respeito amanhã.

CARNAVAL: CELIA & CELMA
- Minhas queridas amigas irmãs gêmeas Célia e Celma mandam avisar que estarão se apresentando na choperia do Sesc Pompéia no próximo dia 10, a partir das 16 horas, cantando marchinhas tradicionais do carnaval brasileiro. Entrada livre.
Skindô!

TELEVISÃO
- Meu amigo Cássio manda email dos Steites dizendo que desistiu de ver televisão.
Eu fiz isso há tempo, pois não dá: é muita baixaria; muita porta aberta para o congelamento de idéias de quem está do outro lado da telinha hipnotizadora.
Eu, hein!
A televisão há muito perdeu o papel de divertir e educar.