Contam-me que Geraldo Vandré vai aparecer num canal de televisão a cabo numa noite desta semana.
Contam-me também que ele quebrará o silêncio e dirá milhões de coisas etc. e tal.
Eu duvido.
Se aparecer, não será Vandré.
Será o cidadão Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, paraibano de João Pessoa, safra de 35, de quem os brasileiros, todos, deveriam se orgulhar muito.
Mas os brasileiros, grosso modo, não aprenderam a lição de Vandré, transmitida em 68 por Pedrosa, ou simplesmente Geraldo, segundo a qual “quem sabe, faz a hora/Não espera acontecer”.
Caso Geraldo apareça, dirá que Vandré morreu.
É fato.
Vandré foi uma criação de Geraldo Pedrosa de Araújo Dias nos finais de 50 para 60, como revelou em longa e elucidativa entrevista que me deu e publiquei em setembro de 78 em três ou quatro páginas do extinto Folhetim, suplemento dominical da Folha de S.Paulo. Três anos depois, em julho de 91, publiquei no caderno Revista, do extinto Diário Popular, outra reveladora entrevista, de página inteira: “Geraldo Vandré Rompe o Silêncio”, republicada com algumas alterações e acréscimos no saudoso Pasquim, sob o título de capa: “A Volta de Vandré” e subtítulo: “Geraldo Vandré Quebra 22 Anos de Silêncio”.
Nessa entrevista, ele explica a razão de não se apresentar mais publicamente:
- Há pessoas que cantam por cantar. Eu além de precisar de motivos para cantar, ou seja, de não cantar gratuitamente e de, lembrando Disparada, não cantar pra enganar, já sei, também, que é preciso, às vezes, não cantar. De algum modo, o silêncio que faço nesses 22 anos é parte da minha canção. Para detalhar, no entanto, razões e motivos que durante esse tempo foram compondo a pauta da minha existência cotidiana, é preciso muito mais do que o mundo das entrevistas jornalistas.
E lá mais para o fim opinou, quando lhe pedi sua impressão a respeito da música que se faz hoje (àquela época) no Brasil:
- Não é brasileira. A música que se faz hoje no Brasil cumpre um projeto antinacional de ocupação do território e da mentalidade de sua população. Onde antes existia cultura popular, hoje não existe mais. A receita é simples: cultura de massa onde antes existia cultura popular; cultura européia nas universidades e nas orquestras mantidas pelo poder público.
Aguardemos Geraldo na telinha de fazer doido.
Mas, aposto: não será Vandré, será Pedrosa de Araújo Dias.
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Hoje Sol de Lua Crescente nasceu às 5h59, com previsão de se pôr às 17h59.
A Primavera, se tudo correr bem, chegará amanhã às 9 horas; hora de Brasília, sob a Lua cheia mística de lobisomem, que já não assusta a mais ninguém.
Eu tinha medo desse bicho, quando era menino...
Estrofe para Geraldo Vandré.
ResponderExcluirQue falou pelo povo com coragem
Foi poeta maior da dessa gente
Um Vandré que de luta simplesmente
Um cometa viril pediu passagem
Terminou seu caminho fez viagem
E partiu, pois cumpriu nobre jornada
Vai Vandré celebrar meu camarada
Com os anjos do céu numa toada
A palavra maior da liberdade
Da justiça social e da verdade
Caminhando e cantando em disparada
Você acha que ele foi torturado e sofreu lavagem cerebral para desfazer Vandré e surgir Pedrosa?
ResponderExcluirGeraldo Pedrosa disse que "o povo é uma lombriga". Que pena me dá esse oposto de Vandré dentro dele!