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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O HOMEM, A CHUVA E AS TRAGÉDIAS

Eu não ia falar sobre esse assunto, por estar ele em tudo quanto é jornal, rádio, TV e Internet. De qualquer modo, vamos lá.
Partes do Sudeste deste Brasil brasileiro, belo e frondoso, estão se afogando em água e lama sem que, de fato, nada se faça para impedir que tal ocorra.
Casas e edifícios inteiros estão desabando que nem pecinhas de brinquedo ou de papel.
Estradas estão sendo destruídas pela violência incomum dos vendavais e trombas d´água.
Gentes e bichos têm desaparecido em piscares d´olhos, em frações de segundo.
Onde havia bairro, o que se ver agora, com infinita tristeza, é um amontoado de paus, vigas, pedras, lixo, barro.
Terrível, sem dúvida.
Ensaio do apocalipse?
E de Deus é que não é a culpa.
Em São Paulo, nem sei quantos já se foram.
Em Minas também há desaparecidos desabrigados aos milhares e dezenas de cidades com estado de calamidade decretada.
Na região serrana do Rio de Janeiro, o fim do mundo é um desenho concreto e feio.
Assustador é tudo o que se vê em volta, de qualquer ângulo.
Um coleguinha repórter, desses tapados, toupeira, fazendo balanço da cobertura ao vivo, na televisão, disse parecendo vibrar:
- Começamos o programa com 381 mortos. Uma hora depois, esse número subia para 397. Agora já são 423!
Ele falava como se torcesse para que ocorresse algo pior. E dizia, ainda eufórico:
- Essa é a maior tragédia do Brasil!
Eu, com meus pacatos botões, retruquei quieto na poltrona: cala a boca, peste!
As tragédias brasileiras são muitas e de todos os tipos e magnitude, infelizmente; e ocorrem desde os tempos das invasões estrangeiras no nosso território, com os celerados de Cabral, por exemplo, prendendo, arrebentando, escravizando, estuprando e matando inocentes.
Ocorreram milhares de tragédias entre nós, como a de Canudos; mas a besta que disse asneiras na TV parece não leu nem ouviu falar do massacre do Exército contra pobres desavalidos do sertão da Bahia da virada do século 19 para o século 20: 25 mil mortos.
No livro Os Sertões, o carioca de Cantagalo Euclides da Cunha (foto) escreve, ao fim, sobre a grandeza dos brasileiros mais humildes, mesmo aparentemente vencidos por forças gigantes:
- Canudos não se rendeu (...) Eram quatro apenas: um velho, dois homens e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados (pág. 611, 9ª edição corrigida, Livraria Francisco Alves; 1926).
Aquela não foi uma tragédia como a que assistimos agora, claro.
Mas alguém de sã consciência ou minimamente informado pode dizer que o que está ocorrendo em Teresópolis, Petrópolis e noutras cidades do Sudeste é a maior tragédia do Brasil?
Claro que não.
O que pode é dizer que o que assistimos pela TV é uma tragédia natural, climática, que de certo modo poderia ser evitada, pelo menos em parte, se as autoridades dessem a devida importância ao povo e que o povo fosse instruído, orientado, para não construir, por exemplo, imóveis em locais de risco, como as encostas de morros.
Pode dizer também que já está mais do que na hora de o governo parar de investir em resgate e reconstrução.
Pode ainda dizeder que está mais do que na hora investir na prevenção etc., pois sabemos que é ao homem possível fazer chover, mas não a ele é dado o dom de fazer parar de chover.
Ah, sim! E paremos de jogar lixo na rua.

2 comentários:

  1. Olhe aí Assis. Estou com vc
    É preciso que o mandatário maior
    seja responsabilizado por não fazer o que é necessário. Não ficar jogando a culpa em seus subordinados.

    Abs.

    Expedito

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  2. Rozângela Inojosa Galindo14 janeiro, 2011 17:24

    Como sempre, um texto ágil, crítico, bem construído.
    Concordo integralmente com você.

    Um abraço para você e Clarissa.
    Rozângela

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