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quinta-feira, 17 de março de 2011

HOJE É DIA DE IVAN FERRAZ, O GRANDE FORROZEIRO

“Envelhecer é conviver com a morte dos amigos”,
José Nêumanne Pinto

O domingo fim de tarde de 1946 trouxe ao mundo, de parto normal feito por uma velha parteira, o menino Ivan Ferraz que o destino se incumbiria de moldá-lo à arte da composição e do canto popular nordestino.
E também de levá-lo à televisão e ao rádio para apresentar programas que todo mundo gosta, com muito xote, forró, arrasta-pé e frevo e, no meio, entre uma cantiga e outra, boas prosas recheadas de versos matutos à moda de Zé Marcolino e Patativa do Assaré, de Catulo e Zé da Luz.
Pois bem, foi no sertão pernambucano de Floresta que ele nasceu.
Chorou um pouco e depois caiu na risada, segundo a lenda.
Riu pelas besteiras dos outros que o tempo mostraria.
Dois meses depois desse tão fabuloso e necessário acontecimento, na quarta 22 de maio daquele ano os meninos cearenses que integravam o conjunto musical Quatro Azes e 1 Curinga lançavam com pompa e graça no Rio de Janeiro, à época a capital da República e de todas as novidades, um novo ritmo musical assinado por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira: baião, que em pouco tempo viraria coqueluche em todo o País e nos países em redor e noutros além mais, como Portugal, Itália, França e Estados Unidos da América.
Até numa das ilhas da Polinésia oriental, a de Páscoa, no Pacífico, o homem foi cantado; e cantado na língua local: rapa nui.
Na Itália, uma das cantrizes preferidas de dez entre dez diretores do naipe de Fellini, Pasolini, Zeffirelli e Visconti, por exemplo, a romana Silvana Mangano, linda que só e com apenas 19 anos de idade, apareceu no filme Arroz Amargo (Riso Amaro), de Giuseppe de Santis, pondo banca e cantando feito gente grande o baião Baião de Ana (El Negro Zumbon, de Giordano-Roman) à moda de Gonzaga-Teixera.
Um sucesso danado.
Em Hollywood, a portuguesinha Carmen Miranda preferiu o baião Baião, na versão de Ray Gilbert, para cantar e dançar no filme Nancy Goes to Rio, de 1950, por estas plagas reintitulado de Romance Carioca.
Ainda por esse tempo, a voz feminina mais aplaudida dos americanos do Norte, Peggy Lee, gravaria Juazeiro com outro título, Wandering Swallow, sem, porém, creditar a devida autoria: Gonzaga-Teixeira.
O disco, de 78 rpm, sairia pela poderosa Capitol.
O egípcio de Alexandria Demis Roussos faria isso, isto é, gravaria também uma música da dupla Gonzaga-Teixeira (Asa Branca, White Wings, versão de R. Costandinos) nos começos dos anos de 1970. Esse feito ele o repetiria no DVD que gravou no dia 11 de outubro de 2005, no Brasil.
Etc., etc.
O que tem uma coisa a ver com outra?
Ora, ora, tudo!
Ivan é nordestino, Luiz (na foto ao lado de Ivan) era nordestino, Humberto nordestino, os meninos do Quatro Azes nordestinos...
Por um tempo, o Brasil todo virou um imenso Nordeste.
Durante dez anos seguidos Luiz Gonzaga permaneceu altivo nas paradas até a chegada do nordestino João, que depois de mexer aqui e ali inventou um modo diferente de fazer caretas e uma batidinha quase inaudível chamada Bossa Nova, que os ouvidos da gente bem nascida da zona sul do Rio adorou.
Os gringos de todos os cantos, também.
Tudo Liga Tudo, como dizem Tuzé e Gereba num frevinho bonito gravado pelo também nordestino, baiano como João, Morais Moreira.
Ivan Ferraz tem um monte de discos gravados.
O primeiro foi um compacto duplo lançado à praça pela extinta Rozemblit, intitulado Riqueza do Sertão, um xote de sua autoria, em 1977. No total, ele tem uma dezena de LPs e meia dúzia de CDs, além de um DVD que acaba de chegar ao mercado, Baião dos Dois.
É de boa prosa e verso, o Ivan.
Pergunto: aniversariar é bom?
Ele rir e declama uma sextilha de autor desconhecido para responder:

Acho graça a mocidade
Não querer envelhecer
Velho ninguém quer ficar
Moço ninguém quer morrer
Sem ser velho ninguém vive
Bom é ser velho e viver.

Há dez anos, Ivan apresenta o programa líder de audiência Forró, Verso e Viola, diariamente das 16:05 às 18h, ao vivo, pela Rádio Universitária de Recife (FM 99,9) e pela internet. E hoje, dia do seu aniversário, inaugurou o site www.ivanferraz.com.br
Parabéns, Ivan!
À vida!

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