Diga-se depressa: Rios de Sangue, do gaúcho de Caçapava do Sul José Antônio Severo não é apenas uma obra com “ares de clássico”, como sugere o microtexto da contracapa do livro.
A história é contada em dois volumes e é fantástica!
O 2º volume intitula-se Cinzas do Sul.
Essa nova obra de José Antônio Severo definitivamente já nasce clássica, absurdamente clássica; a partir, mesmo, da forma como é escrita.
Trata dos 100 anos de guerras no nosso Continente.
Página a página, entre sangue, suor e lágrimas, nos encontramos com a Argentina, Paraguai e Uruguai.
Muita gente tombou, caiu; muitas dores foram cravadas a balas e baionetas, de parte a parte dos guerreiros das nações envolvidas.
E aí é história, com todas as letras e entendimento.
Portugal está presente, como presentes estão personagens da nossa vida nacional, entre os quais Manuel Luís Osório, que foi barão e visconde antes de se tornar o mais popular e respeitado militar-guerreiro do Exército brasileiro.
E poeta de verve improvisadora, no seu meio uma raridade e tanto!
No último capítulo de Rios de Sangue, o autor traz à luz o poeta de qualidade que foi Osório; em primeira instância, um verdadeiro encantador de serpentes.
Conta-se que diante da lira dele, sempre impressionante, ninguém ficava indiferente.
O autor Severo não inventa no romance.
Ele transforma os fatos duros, como são geralmente todos os fatos, de guerras principalmente, em fatos leves.
Daí, romance...
Besteira, o historiador fala alto num texto perfeito!
À página 436, por exemplo, ele conta a história de dois tenentes; um deles choramingoso por sofrer o destroçante ranço amargo do amor.
Da conversa entre os dois, sai o desafio para um poema improvisado ao qual Osório não se furta, pois guerreiro sempre.
Na pele de um dos tenentes, seus amigos, o poeta-militar glosou o tema e disse:
Que sou infeliz, bem vejo!
Vejo que sou desgraçado,
E menos afortunado
Se mais agradar desejo.
Contra o fado em vão forcejo,
Em vão contra a sorte lido,
Sou sempre malsucedido
Nas duras lutas do amor,
Se peço a Márcia um favor,
Mais me foge o bem querido.
E depois emendou, na página seguinte:
Se nos braços de outra amante
Por meu gosto me prendi,
Mesmo aí por ti suspiro
Eu para te amar nasci.
Nas quase 500 páginas do livro há histórias interessantíssimas, ocorridas nos intervalos das batalhas. E são histórias esquecidas, ou desconhecidas, pelas gerações atuais; pois apagadas pelos tempos passados.
Na obra de José Antônio Severo o Brasil se sobressai por completo, como peça-chave dos conflitos que resultaram na delimitação das fronteiras dos já referidos países; integrantes, junto com a Venezuela, do Mercado Comum do Sul, ou Merconsul, um balcão especial de negócios criado há duas décadas com o fito de aproximar gente e comércio da região.
Com a correta narrativa que faz dos 100 anos de guerra no nosso Continente, Antônio Severo firma-se definitivamente como um dos mais claros e belos textos da vida literária brasileira.
Sem dúvida, ele é um historiador e tanto!
Sabiamente, Severo usa o truque do romancista escolado para prender o leitor, linha a linha...
Não há dois Severos no Brasil, por isso não dá para compará-lo a ninguém.
Corram e leiam logo Rios de Sangue e Cinzas do Sul.
E aprendam com a leitura, pois José Antônio Severo é um senhor professor!
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