Guardei na memória:
“Estamos lutando muito, mas o quadro se agrava um pouco a cada dia”.
A frase da querida Glorinha Gadelha bateu forte, sobre o estado de saúde de mestre Sivuca, seu companheiro de vida e arte por muitos anos.
O paraibano de Itabaiana Sivuca, de batismo Severino Dias de Oliveira, nos deixou aos 76 anos de idade no dia 14 de dezembro de 2006.
Eu o conheci ali pelos fins dos anos de 1970, em João Pessoa, num período de férias.
Repórter do jornal Folha de S.Paulo, lembro que publiquei no extinto suplemento Folhetim uma das melhores entrevistas que fiz com artistas da música brasileira, ocupando acho que duas páginas.
Ele adorou e passou a acompanhar o que eu escrevia.
Uma noite durante plantão na TV Globo onde também trabalhei já nos fins dos 80, eu recebi um telefonema dele reclamando da programação que estava no ar.
Disse que era uma vergonha o que estava acontecendo com a televisão brasileira.
E meteu bronca.
Antes, na entrevista que eu fizera com ele para a Folha, dissera o mesmo.
E mais: que as emissoras de rádio estavam uma droga, que a música idem etc. e tal.
Eram os tempos da discotéque, do bate-estaca.
Ele falou do mal que aquilo fazia aos ouvidos humanos e na formação das pessoas.
Sivuca era uma pessoa muito sensível, um artista incomparável, crítico, atual, participante. Lutava por um mundo melhor.
Ele amava o Brasil como poucos brasileiros, mesmo tendo permanecido ausente do País por 13 longos anos. Poderia ter ficado por lá mais tempo, mas não aguentou.
“O meu lugar é aqui”, disse quando voltou.
Pouco antes de partir, ele telefonou dizendo que queria me ver.
E aí estivemos juntos num hotel da Alameda Santos, cá em Sampa; eu ele e Glorinha.
Almoçamos, trocamos ideias e dele ganhei seu último CD Sivuca Sinfônico, com a Orquestra Sinfônica do Recife, regida pelo maestro Osaman Giuseppe Gioia.
Ele viera para se apresentar no Programa da Hebe, ao lado de Dominguinhos e Oswaldinho. E me adiantou:
“Vou prestar uma homenagem a Mário Zan, você tem visto o Mário Zan?”
Como previsto, os três se apresentaram no programa da loura, mas a direção, insensível, permitiu que tocassem apenas uma música: Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, seu parceiro no clássico Adeus Maria Fulô, gravado no começo dos anos 70 nos Estados Unidos (ouvir LP Sivuca Live at the Village Gate, nunca relançado no formato CD).
Sivuca foi um artista muito importante para a música brasileira.
A sua ausência nos faz falta.
No livro Dicionário Gonzagueano, de A a Z” há um depoimento dele, que fala da sua amizade e relação com Luiz Gonzaga.
Gonzaga, aliás, junto com Humberto Teixeira, compôs Sivuca no Baião que ele próprio, Sivuca, gravou e lançou em disco de 78 RPM (abaixo) pela extinta Continental, em dezembro de 1951.
No seu último CD Sivuca deixou também registrada a sua homenagem a Gonzaga e Teixeira na Rapsódia Gonzaguiana, que começa com Juazeiro e segue com Pé de Serra, Baião, Assum Preto, Asa Branca e Boiadeiro.
A última faixa do CD é a pérola Concerto Sinfônico Para Asa Branca.
Emocionante, do começo ao fim.
Bom, em termos musicais, essa foi a única homenagem prestada a Sivuca.
As estrelas do céu hoje têm nomes: Antenógenes Silva, Gérson Filho, Pedro Sertanejo, Mário Zan, Luiz Gonzaga, Januário, Abdias...
TORÓ E LIVRO
O temporal que desabou ontem no começo da noite na capital paulista provocou caos mas não impediu de amigos irem brindar e degustar conosco tapioca e escondinhos de carne na Livraria Cortez, como pretexto para o lançamento de um novo livro meu: Lua Estrela Baião, a História de um Rei; que, aliás será notícia daqui a minutos no Jornal do SBT. Quem não foi perdeu a bela fala de Oswaldinho do Acordeon sobre seu reacionamento com Gonzaga e o pequeno concerto que ele nos ofereceu depois. Jorge Melo e Teca não se continham de alegria, o mesmo acontecendo com José Cortez, Marcia Accioly e sua menina Andrea, Ana... Quem sabe a gente faz um repeteco, dessa vez sem chuva.
TV BRASIL
Fiquem ligados: daqui a pouco tem mais especiais sobre o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga, no canal Brasil. Pra ficar com mais vontade de quero mais, clique:
http://canalbrasil.globo.com/programas/cinejornal/materias/centernario-do-gonzagao.html
TV CULTURA
E amanhã TV Cultura canal 2 estarei de novo dizendo umas coisas a respeito de Lua Estrela Baião, a História de um Rei. No programa Jornal da Cultura.
Um texto magistral sobre O REI DA SANFONA e o REI DO BAIÃO.
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