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quarta-feira, 24 de julho de 2013

DOMINGUINHOS NÃO MORREU

O telefone toca.
É o repórter Rodrigo, da Folha de S.Paulo, pedindo que eu escreva sei lá o quê.
Ele insiste:
- Dominguinhos morreu. Por favor, escreva qualquer coisa.
- Ora, ora - eu digo - deixe disso! Ele morreu coisa nenhuma!
Provocação, não é?
Sei, sei, é meio sina.
Tem hora que nordestino diz que morre só pra chamar atenção.
Nordestino é uma gente besta; mas não é o caso aqui, sei, sei, diz Rodrigo.
Eu conheci Dominguinhos sanfoneiro, de batismo José Domingos de Morais, faz tempo.
Faz tempo também que conheci Luiz rei do baião, Gonzaga do Nascimento.
Conheci Dominguinhos depois de Luiz.
Lembro que uma vez eu disse a Luiz que iria escrever um livro a seu respeito.
Anos 1980.
Luiz, que eu chamava de Gonzaga, caiu na gargalhada:
- E eu mereço?
E a gargalhada rebombou no ar.
Contei isso a Dominguinhos.
E Dominguinhos também gargalhou. E disse:
- Tá vendo? É assim o seu Luiz.
Eu nunca chamei Gonzaga de seu Luiz.
E Dominguinhos achava graça nisso, por eu não chamar Luiz de seu Luiz.
 E ele dizia:
- Só você, Assis, faz isso; e ele (Gonzaga) gosta disso, porque você é espontâneo.
Gonzaga e Dominguinhos eram também espontâneos; carne e unha, um e outro, no peito, na fala, no pensamento, no dizer, no saber de um e outro.
Gonzaga nunca teve filho biológico.
Dominguinhos teve.
Quando Dominguinhos resolveu casar, com 17 anos, Gonzaga estrilou.
- Eu vou deserdar você!
Prestem atenção na frase e na exclamação...
Dominguinhos viveu a vida aprendendo as notas de todas as sanfonas, desde a primeira.
E foi de Luiz Gonzaga a primeira sanfona de qualidade que caiu, de graça, no peito de Dominguinhos, e que ele, Dominguinhos, carregou por toda a vida.
Dizer mais o que sobre Dominguinhos?
Dominguinhos foi um cara legal, como lhe ensinou seu mestre Luiz Gonzaga.
Dominguinhos jamais disse não a quem quer que fosse.
Dominguinhos foi incrível, um exemplo de vida.
Sei lá, eu acho que o Brasil e todos os forrozeiros estão de luto; e mais: todos os forrozeiros de hoje e sempre gostariam de ser Dominguinhos.
Por isso, Dominguinhos vive.
Por isso, Luiz Gonzaga vive.
Sucessor?
Todos os forrozeiros o são.
Viva Dominguinhos, que costumava frequentar o programa São Paulo Capital Nordeste (registro acima) que eu apresentei por mais de seis anso, ao vivo, na Rádio Capital, de São Paulo! 
Há exatamente um mês, eu escrevi isto. 
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3 comentários:

  1. Assis, você é demais! Como alguém poderia pensar que Dominguinhos morreu? Bj grande da Eliane e continue a nos brindar com suas palavras, causos, escritos e cultura popular!

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  2. Há uns que escrevem por que conseguem dados disponiveis ao alcance, outros como Assis Angelo o fazem por que obteve intimidade e camaradagem com os expoentes, então no segundo há mais autenticidade na palavra.

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  3. Intimidade e autenticidade seu Assis tem de sobra quando o assunto é cultura popular.





















































































































































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