Ele era irmão de Luiz Gonzaga, que, como sabemos, era o rei do baião, cidadão nascido nas áridas terras do sertão exuense, em Pernambuco, que cedo trocou seu berço e a rotina familiar por uma corneta no Exército em 1931, com 17 anos, e uma sanfona de 120 baixos que ele dizia só tocar em dois: "Pra que tantos baixos?", brincava.
Zé não gostava lá muito do irmão famoso, exatamente por ser famoso, muito famoso, e talentoso, naturalmente. Mas, diga-se de passagem: Zé Gonzaga, além de irmão de Luiz, era também um bom sanfoneiro. E quem diz isto não sou eu só, não. Dominguinhos tambem, que era uma especie de filho "postiço" de Gonzagão, chamado de Lua pelo ator e radialista Paulo Gracindo e mais meio mundo. Dominguinhos - amigo e aluno dileto do Rei, desde a segunda metade dos anos 50 - reforçava:
- O Zé sabia das coisas, tocava bem e cantava as modas do povo, aprendidas diretamente da boca do pai Januário, fonte inesgotável do folclore e tambem de seu Luiz.
Zé Gonzaga, mais novo que o irmão Luiz, começou a gravar nos anos de 1950.
Uma de suas músicas que fizeram mais sucesso foi exatamente Viva o Rei! (acima, na reproducao do selo do disco), lançada pela gravadora Odeon como resultado de parceria com José Amâncio ainda quando assinava suas composições com o nome de batismo: José Januário.
Viva o Rei! foi composta e gravada após acidente sofrido por Gonzaga na estrada que leva a Santos.
Nesse acidente o Rei escapou fedendo, como se diz no Nordeste, e ganhou várias cicatrizes e a perda total da visão do olho direito, alem de muito tempo de internacao hospitalar.
Musicalmente, porem, não há como negar a importância de Zé Gonzaga na vida brasileira.
Zé compôs muitas harmonias e escreveu algumas letras.
Ele bebia na herança popular, como, aliás, fazia o seu irmão famoso.
Zé deixou vários discos de 78 RPM e uma dúzia de LPs gravados.
Nos últimos anos de vida, ele lamentava o fato de não ser procurado pelas gravadoras e produtores de eventos culturais. Mas nesse ponto, decerto, ele tinha alguma culpa, pois exigia cachês muito altos.
A mim mesmo ele disse isso, que nao gravava por pouco dinheiro.
E disse mais, ao vivo, uma noite no programa São Paulo Capital Nordeste que eu apresentava na Rádio Capital, em São Paulo, sobre o irmão: "Luiz não era tudo isso que se fala dele, não".
Aos 81 anos de idade, Zé Gonzaga morreu com o coração magoado pelo não reconhecimento da crítica em relação ao seu trabalho.
Pois é, a vida é mesmo assim: justa com uns, injusta com outros.
EXPOSIÇÃO
Sobre a vida e obra do Rei do Baião
há uma bela exposição na Oca, ali no Parque do Ibirapuera. Vale a pena uma
esticada até lá. Leve os amigos e familiares. A curadoria é do artista plástico Benê Fonteles.
Se houve discórdia entre os dois
ResponderExcluirIrmãos que da música viveram
Um partiu antes, outro depois
Ao se encontrarem, esqueceram
Duas sanfonas em silêncio, estão
Das glórias vividas um dia
Um considerado o " Rei do Baião
O outro apenas o "Rei da Alegria"
Pajeú, Asa Branca e Mangaratiba
Sala de Reboco e Triste Partida
O Brasil inteiro cantor feliz
Sanfona Dourada, Adeus São João
Chorei Sim e encontro com Lampião
Toram sucessos do Zé e Rei do Baião.
Aloisio Alves