O
telefone toca.
É
o repórter Rodrigo, da Folha de S.Paulo, pedindo que eu escreva sei lá o quê.
Ele
insiste:
-
Dominguinhos morreu. Por favor, escreva qualquer coisa.
-
Ora, ora - eu digo - deixe disso! Ele morreu coisa nenhuma!
Provocação,
não é?
Sei,
sei, é meio sina.
Tem
hora que nordestino diz que morre só pra chamar atenção.
Nordestino
é uma gente besta; mas não é o caso aqui, sei, sei, diz Rodrigo.
Eu
conheci Dominguinhos sanfoneiro, de batismo José Domingos de Morais, faz tempo.
Faz
tempo também que conheci Luiz rei do baião, Gonzaga do Nascimento.
Conheci
Dominguinhos depois de Luiz.
Lembro
que uma vez eu disse a Luiz que iria escrever um livro a seu respeito.
Anos
1980.
Luiz,
que eu chamava de Gonzaga, caiu na gargalhada:
-
E eu mereço?
E
a gargalhada rebombou no ar.
Contei
isso a Dominguinhos.
E
Dominguinhos também gargalhou. E disse:
-
Tá vendo? É assim o seu Luiz.
Eu
nunca chamei Gonzaga de seu Luiz.
E
Dominguinhos achava graça nisso, por eu não chamar Luiz de seu Luiz.
E ele dizia:
-
Só você, Assis, faz isso; e ele (Gonzaga) gosta disso, porque você é espontâneo.
Gonzaga
e Dominguinhos eram também espontâneos; carne e unha, um e outro, no peito, na
fala, no pensamento, no dizer, no saber de um e outro.
Gonzaga
nunca teve filho biológico.
Dominguinhos
teve.
Quando
Dominguinhos resolveu casar, com 17 anos, Gonzaga estrilou.
-
Eu vou deserdar você!
Prestem
atenção na frase e na exclamação...
Dominguinhos
viveu a vida aprendendo as notas de todas as sanfonas, desde a primeira.
E
foi de Luiz Gonzaga a primeira sanfona de qualidade que caiu, de graça, no
peito de Dominguinhos, e que ele, Dominguinhos, carregou por toda a vida.
Dizer
mais o que sobre Dominguinhos?
Dominguinhos
foi um cara legal, como lhe ensinou seu mestre Luiz Gonzaga.
Dominguinhos
jamais disse não a quem quer que fosse.
Dominguinhos
foi incrível, um exemplo de vida.
Sei
lá, eu acho que o Brasil e todos os forrozeiros estão de luto; e mais: todos os
forrozeiros de hoje e sempre gostariam de ser Dominguinhos.
Por
isso, Dominguinhos vive.
Por
isso, Luiz Gonzaga vive.
Sucessor?
Todos
os forrozeiros o são.
Viva
Dominguinhos, que costumava frequentar o programa São Paulo Capital Nordeste (registro acima) que eu apresentei por mais de seis anso, ao vivo, na Rádio Capital, de São Paulo!
Há exatamente um mês, eu escrevi isto.
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